ACREDITE SE QUISER, MAS QUE É VERDADE É
ACREDITE SE QUISER, MAS QUE É VERDADE É
Você não vai acreditar. Esta narração aconteceu de verdade. Estava eu passando ao largo da Igreja de São Benedito, centro, Cidade de Teresina, vindo de uma boate no baixo meretrício, influenciado estava pelo pensamento e a educação gramscista. Vivia eu na boemia responsável do pragmatismo sofista. O relógio de pulso marcava três horas da manhã e eu, é bom que diga, não estava bebum, tinha comido nada mais do que uma caipirinha e ingerido outra, com vodca e limão.
Fixei o pé no pedal do freio e fiquei olhando e passando a mão no rosto de baixo para cima de cima para baixo sem acreditar na realidade daquele visual surreal que via ao olhar atônito, perplexo, estupefato: eram espíritos de jovens, alguns tidos e havidos por boêmios calejados, frequenta dores de ambientes viciados, comedores de garotas rubras, acesas, algumas veraz mente amarelas por estarem de há muito, com crônicas doenças venéreas, outras tostadas pelo sol das coroas de areia dos rios Poti e Parnaíba que margeiam ambos os lados da Cidade dita Verde, nome este dado por um sujeito que se chamava Coelho, Neto de outro Coelho, pertencia no Maranhão, à Academia de Letras.
O nome pegou e a Cidade Verde assim se chamou e chama ainda hoje. Coelhos e netos de Coelhos à parte, eu estava extasiado olhando o bando de espectros adolescentes divertirem-se a escorregar num imenso tobogã que começava nos campanários altos da Igreja de São Benedito. Surpreendi-me exclamando: "“caramba, essa coisa é mesmo muito estranha: “será o Benedito”"??? Benedito é nome que se popularizou como sendo denominação do Tinhoso, do Tentador.
A cidade dormia, a ambição descansava, um carro e outro passaram ao largo mas não pararam. Talvez não tivessem notado o acontecimento no qual não viam. Tivessem, talvez nem acreditassem. Eu não queria acreditar no que via. Mas estavam ali, do meu lado, à frente de meus admirados olhares, aqueles muitos fantasmas. Eram assombrações reconhecidamente safadas.
Muitos deles eu havia conhecido, já haviam morrido. Uns de morte matada, outros de morte morrida. Como poderia eu negar a evidência de que pareciam eles espíritos brincalhões que se divertiam à beça: sorriam e gritavam de alegria totalmente alheios ao ambiente sacro que se tornara, frente à Igreja fechada, um parque de diversões.
Eles se lançavam do alto das torres até a base da escadaria de pedra que descia rumo às ruínas políticas do Palácio de Karnak que, por sua vez era uma construção centro do governo do Estado, queriam-na, seus construtores, parecida com um Templo Antigo do Arcaico Egito. Aquela visão incrível ameaçava desaparecer. De tão fantástica era, queria eu que permanecesse diante de meus olhos tampo suficiente para que eu pudesse mesmo nela acreditar.
Os corpos dos marmanjos e marmanjas eram visíveis, pareciam estudos, lineamentos, desenhos, croquis. Havia também e para meu maior assombro, crianças e idosos. Estes, não arriscavam a descida inclinada na qual deslizavam os jovens fantasmas no afã de se divertirem. Todas as representações eram transparentes nas faces, cabeças, troncos e membros, mas mantinham com exatidão a realidade que tiveram em vida física.
Aquele tobogã era apenas imaginário, sim!!! Ou não??? A aparência cristalina e diáfana denotava que, de alguma forma existia em sua sobrenatural visagem uma forma de se apresentar nessa realidade, quando poderia estar a acontecer, e acontecia realmente, em outra dimensão. Se não estivesse a acontecer, como poderia eu estar vendo???
Estavam lá vários ex companheiros de boemia e folia. Talvez não tivessem tido uma vida satisfatória ou razoável. Quiçá não tivessem em vida acreditado que poderiam passar a existir, suas almas, em outra dimensão. Talvez tenham passado dessa para a outra, sem que tivessem realizado suas mais primárias aspirações. Decerto tivessem sofrido bullying ou alguma forma de intimidação ou agressão às suas intimidades.
O certo é que aquela alegria toda desapareceu. Meus olhos não mais estavam a ver aquelas assombrações, mas de alguma forma continuavam a brincar no Tobogã imaginário da Igreja de São Benedito. Teriam eles se recusado a seguir viagem para outra grandeza de existência??? Saberiam ser, depois de mortos, apenas espíritos??? Eu acelerei o carro em direção ao lugar em que habitava provisoriamente. Um larbirinto que não era de brincadeira nem simulação de realidade. Era ela, a realidade mesma.