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Quando fomos para fora da cidade, o controle das emoções desapareceu. As coisas que nos faziam, provocaram um efeito de destruição na vontade. A população da cidade enlouqueceu. Nem beijos, nem abraços, apenas uma apatia generalizada. Os olhos, profundamente abertos, repletos de um medo irracional, cruzavam-se com o futuro. Todos podiam entrar nas almas alheias. Os que buscavam a verdade, eram trucidados pelos imitadores da vida de plástico. Nada a fazer, o pensamento deixara de ser um momento privado, um assunto em que o que podia ser e o que acontecia deixava de ter algum tipo de intimidade. O assédio passou a ser um acesso de loucura total, as dores de rins entendidas como absoluta inveja. Aqueles sorrisos de circunstância, poderosas armas assassinas. Nada do que era parecia, nem o que parecia era.

Jesus estava em todos os corações e ficava em cada esquina sorrindo. Sem sequer perceberem o seu intimo de dar a outra face, de amar o inimigo. Ninguém se apercebeu da ressurreição, da forma total de amor que se lhes afigurava. Desde sempre, apesar das nuvens, das constelações de negação em que os humanos se confundiam, assumindo viverem para serem bons, quando só se digladiavam no ódio, mesmo nas circunstâncias mais fúteis. E Jesus sorria, no controle total do amor que todos deixaram de ter.

Quando voltamos para dentro da cidade, o invísivel de cada um de nós iluminou-se. Em cada canto um emissário. Um nome a invocar a simplicidade do espírito. A vida dentro de nós para combater a falta de vontade. Jesus em cada coração para tomar todos os pecados. E avançamos por entre as chamas, sem nos queimarmos, sem que em algum momento nos desvíassemos das trevas. Apenas luz para combater a falta de vontade, os que atacavam sem piedade o imobilismo. E do céu, na invisível capacidade de destruir, o pior dos vírus, a sensação de ter todo o conhecimento. Alguns a quererem tomar o lugar de Deus para si. Apenas queriam todo o nosso ser. Jesus de braços abertos, pronto a tomar todos os pecados. E seguíamos impolutos, do medo que nos fizera ausentar. E a música nova tocava, num precípicio de fossas e de morte em vida. Voltamos para limpar tudo o resto. Tudo voltaria a ser o que originalmente estava previsto, apenas a luz para pôr a descoberto todas as trevas e sujidade impostas.

 

E a vontade voltou, como se nada se houvesse passado. Logo começaram a duvidar uns dos outros, com as emoções ao rubro. Um dia a vontade iria ausentar-se de novo, era tudo uma questão de tempo.

Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 22/10/2021
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