UMA CERTA VIAGEM DE TREM QUE ME ENCANTOU
O trem percorria aquele trecho que eu mal conhecia, de um lado a mata virgem, do outro montanhas e desfiladeiros, uma visão impressionante, um verdadeiro espetáculo da natureza para os meus olhos, eu estava deslumbrado com tanta beleza. Em algumas estações paramos, afinal a viagem era longa e cansativa, em alguns lugares passageiros desciam e outros embarcavam, cada lugar tinha a sua beleza peculiar, o meu destino era o ponto final do trem, porém não me detive no meu intento quando paramos em uma cidadezinha pacata, tinha um semblante bucólico, achei belíssima, esqueci que o sono me envolvia e num ímpeto que até me surpreendeu resolvi descer. De posse da minha pouca bagagem, apenas uma bolsa e uma sacola, vi o trem partir e momentaneamente imaginei que não deveria ter descido, mas já estava ali e seria o que Deus quisesse. Quando a locomotiva e seus vagões sumiram numa curva fechada eu assumi a minha decisão e comecei a caminhar rumo a qualquer lugar, aquela cidade me encantou e eu queria desfrutar dessa maravilha. Era ainda o começo de uma tarde, já tinha almoçado fartamente no vagão-refeitório e andar um pouco seria até bom para a digestão.
Nunca havia estado em um lugar aprazível como esse, estava radiante, nem pensei mais no trem, esse lugar me deixou num clima de tranqüilidade espiritual, eu me sentia como se estivesse flutuando nas nuvens, os belos jardins que encontrei tinham flores de várias espécies e de um perfume espetacular, desejei intimamente permanecer ali por um tempo suficiente para satisfazer as minhas vontades, precisaria apenas de um local para pernoitar e depois continuar com a minha viagem em outro trem. Continuei andando e sentido aquele ar refrescante que enchia meus pulmões, todo aquele cansaço desaparecera. Aquela preocupação de procurar um lugar para ficar simplesmente não me assaltava mais, nem me dei conta da minha pouca bagagem, estava eu de mãos vazias vagando pela cidade, contemplando o que havia de belo ali e estava tranqüilo, minha única preocupação era caminhar sem rumo definido, qualquer trecho me enchia a vista, tudo era maravilhoso. Aquelas casinhas simples, porém bem construídas e pintadas, davam um ar de graça para quem as contemplasse, as pessoas humildes gentilmente me cumprimentavam como se me conhecessem, crianças bem vestidas brincando nas calçadas, via-se carrinhos e bonecas espalhados, além dos sorrisos estampados em seus rostos. Me bateu uma vontade imensa de ali ficar e até morar, um delírio me envolveu e eu comecei a brincar com os pequenos sob o olhar vigilante dos responsáveis, mas isso não me intimidou, eu estava me sentindo uma daquelas crianças alegres e elas entenderam isso, o que me deixou bastante feliz. Eu estava tão envolvido com a brincadeira que nem me dei conta de um repentino cansaço e numa grama junto a calçada me deitei. Acreditem, eu dormi. Acordei com um funcionário da ferrovia me tocando no ombro informando que estávamos no final do percurso do trem.