GAIOLA
Em uma sala, onde não havia portas nem janelas, apenas uma gaiola dourada, no meio, tinha uma grande jaula. Nela cabia uma família de pássaros! Como não tinha aberturas, janelas e portas, o lugar era iluminado por uma lâmpada, lâmpada que ligavam ao amanhecer e desligavam ao anoitecer. Após a luz ser acessa, pudemos ver um pássaro dentro da gaiola. Era um pouco arredondado, uma fêmea. Na sua pata esquerda, trazia uma etiqueta com o nome Lis.
Essa ave passava os dias cantando e voando dentro da gaiolinha. Na outra pata havia uma faixa branca, amarrada. Lis era jovem e cheia de energia. Seus dias, repletos de luz, felicidade e paz; estava a recém aprendendo como era o mundo. Sentimentos e ideias puros alimentavam seus sonhos.
Passou-se um mês e nossa garota continuava a voar. Seu canto tinha diminuído; sua faixa estava uma mistura de marrom com verde e laranja; sua vida recebera um toque de seriedade ao amadurecer; no entanto, ao mesmo tempo, a alegria e a vitalidade permaneciam com ela. Um sentimento de esperança preenchera um vazio em seu coração, após ouvir histórias de alguém, que, à noite, contava-lhe, cada uma diferente da outra, mas que abordavam o mesmo assunto, que era voar livre para onde quisesse.
Duas semanas passaram e Lis tem estado um tanto quieta. Tem sido difícil ouvir seu canto ou seu piar. Seus dias andam um pouco escuro; diria que cinza e bastante nublado, mas sem chuva.
A cor de sua faixa mudou para uma mistura de roxo com cinza e uma pontinha de verde. Lis enfrentava um momento complicado de sua vida, um momento misterioso com neutralidade, junto a uma pitadinha de esperança. As noites eram-lhes difíceis. As mesmas vozes que, antes lhe contavam histórias; passaram a assustá-la e a repreendê-la, baixando-lhe, por total, a autoestima. As palavras que ouvia, do amanhecer ao anoitecer, aterrorizavam-na e a torturavam.
Uma semana depois, o dia ficou mais escuro; ora nublado, ora chuvoso. A sua faixa também mudara a cor, um cinza dividido com preto e dois cordões verdes. Lis não voava mais como antes; pouco se movimentava. Tornara-se raro ouvi-la cantar e piar; os sons e a sensação só nas lembranças.
Lis estava sem ânimo e motivação. Seus pensamentos tinham sido tomados de medo, de insegurança e de instabilidade. As noites eram-lhe pesadas; as vozes a torturavam sem parar, não a permitindo descansar um segundo.
48 horas depois, Lis encontrava-se parada em seu apoio, não voava, não soltava um pio, não cantava nem, ao menos, mexia-se, apenas observava ao seu redor. O dia estava bastante escuro como se fosse uma noite eterna. Não se sabia se era dia ou noite?! Tudo era escuridão! As vozes também estavam num ciclo intenso de tortura e a faixa estava quase preta, restando-lhe somente um filete verde.
24 horas se passaram e Lis, a querida passarinha, não mais aguentava a tortura pela qual estava sendo submetida nem a solidão, a escuridão e o seu viver… Num ato desesperado, Lis, decepcionada com a vida, pulou de um lugar alto, que ali havia, e se deixou cair, não fazendo nenhum esforço para salvar-se, esperava que tudo acabasse naquele momento: pensamentos, sensações e sentimentos.
Ao fim da queda, Lis deu término à sua jornada, à sua história. Sua faixa tornou-se totalmente preta. Seu túmulo foi enfeitado com penas de aves colhidas nos campos. Uma luz apagara-se no meio do breu; sua canção jamais será ouvida novamente e o verde da sua faixa tornou-se esperança de que numa próxima vida, sua trajetória seja diferente.