O príncipe e a ladra
Uma carruagem avançava com velocidade pela floresta quando algo apareceu em sua frente assustando os cavalos, uma pancada foi sentida pelos ocupantes da carruagem real, entre eles o príncipe e o feiticeiro real, apressados e vendo o castelo no horizonte o carroceiro continuou, o feiticeiro intrigado foi até o mesmo questionar o que havia acontecido, nervoso com a penumbra da madrugada ele rapidamente respondeu:
- Bandidos procurando por vítimas, esse truque já é velho não caio nele, ainda mais com a responsabilidade de ter o senhor e o príncipe em minha carruagem!!!
Apesar de intrigado o feiticeiro voltou para dentro da carruagem e continuou a sua conversa com o príncipe:
- O Senhor entendeu? Isso é um presente meu para mostrar o quanto tenho carinho e apresso pela vida do senhor alteza, isso vai proteger o senhor e toda a sua futura geração ficando cada vez mais forte, o senhor vai conquistar mais domínios do que pode imaginar!
O príncipe com os olhos brilhando e eufórico com o presente fazia positivo com a cabeça sem entender muito bem o que aquele homem dizia, após algum tempo de tremulações eles enfim chegaram ao castelo , não demorou muito a perceber que havia uma agitação incomum, a praça principal estava cheia e algo estava acontecendo, o curioso feiticeiro subindo na carruagem conseguiu avistar uma mulher enforcada, o rei com expressão de decepção e profunda tristeza, a rainha com uma expressão de fúria misturada com satisfação discursando algo para os curiosos e trabalhadores que passavam pelo local, com o sol surgindo no horizonte, conforme eles se aproximavam para entrar no castelo ouviram uma parte do discurso:
- ...não aceitaremos traidores e ratos dentro do castelo, é assim que iremos tratar aqueles que tentarem contra a vida da sua rainha do seu príncipe ou do rei, aquele que for pego tramando contra esse reino também será enforcado, pendurado na muralha para ser visto como exemplo por aqueles que pensarem em fazer algo contra esse prospero e feliz reino, NÃO TEREMOS PIEDADE!
O príncipe brincava no jardim com o seu cachorrinho, o filhote correu entre as moitas até chegar próximo dos limites do jardim, o início do bosque, o príncipe olhava tentando ver o que o filhotinho procurava, se assustou quando viu uma garotinha entre as moitas do jardim com algumas frutas na mão e a boca cheia, eles se olharam assustados o príncipe rapidamente apontou o dedo e disse:
- Você está roubando!
A garotinha com o olhar de desespero tentou se aproximar e quando foi pegar no príncipe ele se assustou novamente, ela estava com vários machucados no braço e sem a mão esquerda, ela percebendo ele se assustar se lembrou e rapidamente escondeu o braço ferido, o cachorrinho foi até a garotinha e começou a brincar com ela, ainda assustada e sem graça largou as frutas que carregava na mão direita se agachou e começou a brincar com o filhote com o braço esquerdo para trás, o príncipe ainda assustado e triste se aproximou e começou a brincar também perguntando:
- O que aconteceu com o seu braço?
Com os olhos avermelhados prontos para chorar ela disse:
- Minha mãe foi atacada em nossa casa durante a noite por pessoas más, ela me escondeu quando percebeu pessoas perto de nossa casa antes que eles entrassem, ela era uma boa pessoa e trabalhava muito, não entendo porque fizeram isso com ela, naquela noite depois que levaram ela, sai para procura-la e no meio da noite e acabei me perdendo na floresta, alguns cavalos acabaram se assustando e me acertaram, cai em cima de uma pedra que ficava no caminho do bosque e alguma coisa passou em cima do meu braço, senti muita dor e acabei desmaiando, acordei com os pássaros me bicando quando olhei não vi mais a minha mão, acho que algum bicho a comeu...
Dizendo isso a garotinha deu um sorriso sem graça, o garotinho olhava triste e intrigado sem saber o que dizer, continuou a acarinhar o cachorrinho junto com a menina e não demorou muito até ele perguntar:
- E sua mãe, você conseguiu encontrar ela?
- Não, ela sumiu, espero que ela esteja bem
- E agora quem cuida de você?
- Ninguém, minha mãe disse que eu tinha que ser forte e continuar a viver até encontrar minha felicidade!
- Sua mãe parece ser uma pessoa boa, espero conhecer ela um dia...
O garotinho estava triste com a situação da garotinha e queria ajudá-la, incomodado por não ver a mão dela ele pegou uma das luvas de couro que havia ganhado de presente e entregou para a menina dizendo:
- Gostei de você e por isso não vou dizer para ninguém que te vi aqui, tome use isso assim ninguém vai ver que você não tem a mão, ela é magica e vai te proteger!
- Está bom, obrigada, se precisar de algo é só me dizer vou te ajudar assim como você me ajudou!
Com um largo sorriso e muito feliz a garotinha pegou a luva marrom colocou no toco do braço da mão esquerda, rapidamente ela fechou a cara e gritou:
- Aiii!!!... ela me mordeu!
- Não se preocupe é só uma vez, ela fez isso comigo também!
A luva marrom após algum tempo na mão da garotinha se transformou ficando mais fina, se assemelhando a outra mão da menina e mudando de cor ficando preta, os dois olharam admirados o acontecimento, mas foram interrompidos pelos gritos dos servos que procuravam o príncipe, o garotinho se assustou e rapidamente se levantou sinalizando onde estava mostrando que estava tudo bem, se abaixou para pegar o cachorrinho que tentou correr e a garota o pegou, novamente outro susto ela sentia a luva como se fosse a sua mão, entregou o filhote para o menino e olhava assustada para a luva e para ele...:
- Eu te disse que ela era mágica, quero te ver outra vez, enquanto não encontra sua mãe pode pegar frutas e legumes aqui sempre que precisar, está autorizado por min assim não é roubo!
O garotinho riu e a menina sem graça fez positivo com a cabeça, antes que mais alguma coisa pudesse ser dita eles foram interrompidos pelos berros das empregadas do reino, o garoto voltou correndo com o cachorrinho e sem a sua luva esquerda, o feiticeiro que estava por perto percebeu isso e rapidamente foi até o garoto esbravejando com questionamentos:
- Cadê? Onde está? Você não pode ter a perdido! Onde deixou? É assim que você cuida dos presentes que recebe?...
O príncipe se assustou com o comportamento do feiticeiro sem entender do que ele estava falando, o irritado feiticeiro levantou a mão para bater no garoto, porém foi interrompido pelo rei que estava chegando e segurou o braço do mesmo, com um olhar de espanto ele disse:
- Que ousadia é essa? O que está acontecendo aqui?
- Perdão meu Rei, acabei me irritando porque ele perdeu um valioso presente que eu o havia dado!
- E qual era esse presente? Se era tão valioso devia ter o dado a mim e não a uma criança, afinal esse presente ameaça o reino de alguma forma?
- Perdão meu rei, era apenas uma luva de couro que ganhei do meu pai e tinha um valor emocional para mim, acabei me excedendo um pouco, humildemente peço perdão ao príncipe e ao rei!
O feiticeiro se ajoelhou encostando o rosto no chão esperando a reação do príncipe e do rei, o garoto pegou na mão do rei e deu um sorriso o rei sorriu de volta piscou um olho e disse:
- É um absurdo você tratar o príncipe desta forma, você sendo o feiticeiro real imagina como os outros servos vão trata-lo vendo o seu exemplo, como espera que eles o respeitem dessa maneira? Eu devia castiga-lo por isso...
- Calma meu amor, foi apenas um mal-entendido e ele já pediu perdão, isso não vai se repetir não é mesmo feiticeiro?
- Sim senhora, a família real tem a minha palavra e gratidão!
O rei foi surpreendido e interrompido pela rainha, o garotinho alegre saltou sobre a mulher que lhe deu um beijo e disse:
- E o senhor deve ter mais cuidado com a suas coisas, não se pode perder um presente tão importante assim, vá procurar o que perdeu!
- Se essa luva é assim tão importante talvez eu devesse usa-la, afinal o que tem de tão especial nela que ele não possa usar só uma ou até mesmo deixa-la guardada em seu quarto?
Questionava o intrigado rei...
- Não tem nada demais, meu senhor, apenas orações de proteção simples para proteger o príncipe para que ele possa crescer seguro e forte até que ele comece a lutar pelo reino e pelo senhor!
Respondia o preocupado feiticeiro...
O rei já irritado com a situação pegou o príncipe pela mão a rainha pela outra e disse:
- Ótimo, assunto encerrado, quando for necessário e enquanto eu puder eu mesmo os protejo com as minhas próprias mãos com ou sem luvas, agora vamos que já me irritei demais com uma coisa tão simples, está na hora do banquete!
Os anos se passaram e os sentimentos entre o príncipe e a garota do jardim se fortaleceram e floresceram como uma bela roseira, entretanto como toda bela rosa tinha seus espinhos, não havia espaço para o amor entre os dois, consciente disto a garota se agradava em servi-lo em missões secretas, afinal não havia mais ninguém que fosse sentir sua falta depois dela desistir da busca pela mãe que nunca mais apareceu.
As missões começaram com coisas simples de crianças brincando de fugir e esconder, conforme o príncipe crescia, entendia mais do funcionamento da corte, a garota como um fantasma ouvia e via de tudo pelos corredores secretos, porem nem tudo ela contava ao príncipe, afinal como ele poderia aceitar que tanto a mãe quanto o pai não se amavam mais e ambos faziam da traição os seus segredos noturnos, enquanto mantinham as máscaras da ambição e falsidade com os segredos diurnos, ao rei tudo era permitido a rainha tudo era aventura no escondido.
O triste dia enfim chegou, naquele dia frio e silencioso o rei não levantou, a rainha com um grito assustou os guardas, os olhos fundos o corpo frio e escuro, eram a última lembrança que a rainha teria daquele homem que lhe trouxe tanta alegria e desgostos, rapidamente o feiticeiro envolveu a rainha em seu manto e ordenou o envio do corpo do soberano para a sua sala.
- Feito como você me pediu...
- Não imaginei que seria tão rápido, não estava preparada e agora?
- Não se preocupe vai dar tudo certo!
- Como pode dizer isso sabendo dos murmúrios sobre o príncipe, ele não vai conseguir sem o apoio do conselho!
- O conselho ainda não sabe da notícia, eu o farei triunfar, nosso filho vai conseguir todo o poder que merece!
- Idiota não diga tolices, alguém pod...
A rainha e interrompida pela queda do quadro da parede, ela e o feiticeiro se olham assustados, ela interrompe o momento com o grito:
- O QUE ESTÁ ESPERANDO SEU IMPRESTÁVEL, VAI TERMINAR DE RESOLVER O PROBLEMA QUE VOCÊ CAUSOU, SE O ESPIÃO FUGIR ESTAMOS ACABADOS!!!
O feiticeiro entra desesperado em uma das saídas secretas e persegue um vulto esquio, que se move com velocidade pelos corredores, mostrando conhecimento sobre os caminhos secretos, o irritado feiticeiro lança um raio no fugitivo que ao se proteger, rebate o feitiço que se desfaz na parede, o perseguidor se assusta e acaba perdendo o espião de vista nas sombras dos corredores, assustado e desnorteado ele é encontrado pela rainha que o encara com olhar de desprezo e diz:
- Você foi o pior erro da minha vida, não consegue fazer nada direito, o que acontecer com o príncipe a partir de agora é culpa sua!!!
A espiã corria desesperada pelos corredores e os pensamentos a mil:
“Como vou dizer isso pra ele? Esse segredo não posso guardar, todo o futuro do reino depende disso...”
Sem perceber ela ia de encontro a uma sombra no corredor enquanto corria esbaforida, se esbarram e acabam caindo no chão...
- Calma, pra que tanta pressa? Ouviu algo que não devia?
O príncipe abraça a garota tentando acalma-la, ao vê-lo os olhos se enchem de lágrimas...
- Tenho algo pra te contar, mas tenho medo e não sei se devo...
- Se eu não posso saber, quem poderá? Sou o futuro rei, não pode me esconder as coisas, você é uma das poucas pessoas em que posso confiar!...
- É justamente esse o problema, talvez você não seja o rei, sua mãe traiu o rei com o feiticeiro...
Quando ela terminou de dizer essas palavras, foi a vez da cabeça do príncipe ter mil pensamentos, com os olhos arregalados e estáticos, ele não conseguia dizer nada, até uma lágrima solitária escorrer pelo seu rosto, então ele se debruça no colo da garota e chora com desespero sem nada dizer. O eco das lagrimas e murmúrios acabou entregando a dupla que foi localizada pelos guardas do feiticeiro, após ser avisado se encaminhou para a sua sala onde se encontrou com a assustada dupla que estava amarrada e teve uma infeliz surpresa:
- Esses olhos... esse rosto... não pode ser... você já morreu... nós fizemos tudo certo... voltou só pra me atormentar? Ou voltou para buscar o seu amor que se foi?...
O feiticeiro assustado encarava a garota, o jovem príncipe olhava assustado e confuso, sem nada entender questionou:
- Do que você está falando? Conhece ela de onde? E porque estou amarrado?
A garota se assustou e em seguida seu rosto se transformou em fúria e ela gritou:
- VOCE MATOU MINHA MÃE?...TODOS ESSES ANOS PROCURANDO... EU SABIA QUE ELA NÃO TINHA ME ABANDONADO...VOCE É UM RATO COVARDE!!!
O feiticeiro e o garoto sentiram o corpo formigar, os gritos ecoaram pelos corredores a rainha que estava próxima entrou como um trovão na sala do feiticeiro, ao ver a garota ela também se assustou, aproximou e começar a tocar a garota, pegou em seus cabelos, em seu rosto e a cheirou...:
- Esse maldito cheiro, nos te matamos, eu vi você enforcada, eu mesmo puxei a corda pra te pendurar na muralha, pra nunca mais você abrir as pernas pro meu marido, como você pode estar viva? É uma bruxa por acaso? Vamos encontrar um jeito de te matar quantas vezes for preciso!!!
O feiticeiro percebendo o que estava acontecendo rapidamente puxou a rainha tentando tampar a boca dela, a rainha furiosa se debatia, o príncipe com uma expressão de perplexidade não conseguia dizer nada, ele não conhecia aquela mulher que se dizia sua mãe, a garota olhava furiosa para a rainha, o olhar mortal de condenação estava petrificado, o jovem príncipe sentiu o ar da sala ficar pesado, todos que estavam na sala começaram a ter dificuldade para respirar, a mão do príncipe que estava com a luva dada pelo feiticeiro começou a formigar com mais intensidade, o feiticeiro assustado com toda a situação tentou sair da sala com a rainha, mas a porta de madeira maciça fechou repentinamente lançando os dois guardas contra a parede do corredor, desmaiando-os com a força da pancada. Assustado o feiticeiro gritou com a rainha desorientada:
- NÃO É AQUELA MULHER, deve ser a filha dela!!!
A rainha tomada pela fúria gritou:
- NÃO ACREDITO, AQUELE MALDITO TEVE UMA FILHA, MAS NÃO CONSEGUIU ME ENGRAVIDAR?!? NINGUEM VAI AMEÇAR MEU REINO OU O MEU FILHO, EU VOU MATAR ELA!!!
O príncipe incrédulo vendo sua mãe se armar com um punhal e investindo contra a garota tenta intervir, entretanto não conseguia se desvencilhar das cordas, quando as cordas simplesmente caíram no chão, virou-se e viu a garota de pé encarando a rainha, com o seu braço esquerdo esticado a garota travou a rainha no ar sem encostar nela, como se um braço invisível agarrasse a rainha pelo pescoço, sufocada a rainha começou a se debater, o feiticeiro viu a luva na mão da garota e entendeu o que estava acontecendo, rapidamente ele tentou intervir, mas seus poderes ricochetearam atingindo a parede, ele então desesperado gritou ao príncipe:
- ESSA BRUXA VAI MATAR A SUA MÃE, SÓ VOCE PODE IMPEDI-LA, MATE-A RAPIDO!!!
Assustado e com os olhos em lagrimas o príncipe respondeu:
- EU SOU FRACO, EU NÃO POSSO, EU NÃO CONSIGO!!!
O feiticeiro apoiando-se no cajado, tenta se aproximar e responde:
- A luva que eu te dei é mágica, só ela com o seu poder pode derrota-la!!!
Tremendo e com o olhar assustado o príncipe estica o seu braço direito contra a garota, ela então sente uma energia tomar conta do seu corpo prendendo-a, em seguida a rainha com o rosto vermelho cai no chão, entretanto antes que ela se recuperasse totalmente, empunha a adaga com firmeza e continua a sua ofensiva contra a garota, paralisada e com os olhos cheios de lagrimas olhava para o príncipe incrédula, com dificuldade ela disse:
- Fui traída pelo rei, fui traída pela rainha e agora traída pelo príncipe, a única pessoa que eu amei depois de perder minha mãe, vocês não merecem governar essas terras, o sofrimento que os assola é culpa de vocês!!!
Quando ela terminou de dizer essas palavras, algo agarrou a sua cabeça, então ela sentiu sua barriga gelar, voltando seus olhos para a frente viu a rainha com uma expressão de satisfação, com o punhal enterrado em sua barriga, o príncipe caiu no chão logo em seguida com a mão na barriga, o feiticeiro então confirmou suas suspeitas e encontrou da pior maneira a luva que o príncipe havia perdido, desesperado pela vida do filho ele grita:
Pare minha rainha, vai matar nosso filho, eles possuem uma ligação mágica!!!
A garota enfurecida por toda a situação e tão próxima da assassina de sua mãe, agarrou a mulher pelo pescoço e fechou a mão, desferiu um golpe bem no centro do rosto da rainha com toda a fúria que ela tinha queimando no peito, o nariz imediatamente ficou torto e fundo, o sangue começou a escorrer pela face da mulher, ainda meio zonza pela falta de ar acabou caindo no chão, sem forças não conseguiu impedir a investida da garota que avançou sobre a ensanguentada rainha.
com o peito em brasa a garota começou a bater na face da rainha, os ferimentos não abalaram a impetuosidade e fúria na investida cega contra a rainha, o príncipe ao contrário gemia no chão de dor, entretanto vendo sua mãe naquela situação reuniu forças para travar a moça no ar, a rainha aproveitou-se do momento para puxar o punhal que estava na barriga da garota, levantou e iniciou novamente suas ofensivas golpeando várias vezes a garota, o príncipe sentindo os golpes perdeu sua influência sobre a garota que escorregou em seu próprio sangue na tentativa de se defender.
- Chega!!! Você vai matar nosso filho!!!
O feiticeiro agarrou a rainha tentando salvar o jovem príncipe que gemia de dor com os ferimentos, furiosa ela golpeou o feiticeiro e o empurrou, surpreso e ferido ele caiu no chão soltando seu cajado, a madeira ricamente ornamentada com pedras preciosas presas em adornos de ouro, caiu no chão e rolou até as mãos da ensanguentada garota que o agarrou com firmeza, com dificuldade ela firmou-se e conseguiu levantar após escorregar no próprio sangue, ao agarrar novamente com firmeza sua mão esquerda no meio do cajado para encarar a rainha, sentiu um calor percorrer seu corpo, percebeu que não estava mais escorregando e seu corpo não doía mais, o sangue subiu pelo cajado e envolveu a garota protegendo-a, ela sentiu o poder pulsar pelo corpo e a sua volta, com os ferimentos curados e as forças reestabelecidas, ela caminhou com firmeza em direção a rainha, frente a frente com a assassina de sua mãe, ela preparou o golpe final e perguntou:
- Quais são suas últimas palavras?
A rainha armada com o punhal e os olhos queimando de fúria diz:
- Eu vou matar você e te pendurar no mesmo lugar que pendurei a sua mãe!!!
As duas se golpeiam, entretanto não se acertam, são interrompidas pelo príncipe que saltou entre as duas, o golpe do punhal amputou a frágil mão do príncipe, fazendo a lustrosa luva marrom cair no chão ficando encharcada de sangue do príncipe, a garota golpeou a cabeça do príncipe removendo-lhe a coroa. O feiticeiro desesperado com toda aquela situação, a vida do filho e principalmente o potencial da garota suplicou:
- PAREM COM ISSO, O CORPO DO REI ESTÁ AQUI DO LADO, VOCÊS VÃO DESTRUIR TODOS NÓS!!!
- SE VOCES AMAM O PRINCIPE E AMAM ESSE REINO, PAREM COM ISSO!!!
A garota recuou ao ver o príncipe no chão desacordado, enquanto ela pensava a rainha avançava, uma lagrima avermelhada escorreu pela face da garota que deu um passo para trás, girou o cajado e quando a rainha se aproximou foi golpeada com uma força desumana e laçada contra a parede caindo desacordada, a garota com a expressão de tristeza olhou para o feiticeiro e perguntou:
- Quem sabe que o rei morreu?
- Apenas as pessoas dessa sala...
O feiticeiro encarava a garota abismado com a ousadia daquela desconhecida, enquanto ela caminhava lentamente e com firmeza, pegando a outra luva de couro...
- Não faça isso!!!
Apavorado o feiticeiro tentava impedir que a garota se empoderasse da luva e de todo o conhecimento que ela possuía que era ativado apenas pelo sangue da linhagem real, o sangue e a energia que rodeavam a garota a atraiu para a solitária luva de couro, ela sem hesitar se apossou da luva do príncipe, que a mordeu na mão direita, ela sentiu todo o poder e sabedoria dos reis ancestrais pulsando em suas veias, pegou a mão amputada do príncipe e foi até ele, regenerando-lhe a mão e curando suas feridas.
Com as duas luvas e o cajado, o poder da garota era inimaginável, ela se aproximou do feiticeiro que estava paralisado de medo, colocou as mãos na cabeça do homem e encarando-o nos olhos disse:
- Vou roubar de você o que você roubou de nós!!!
Toda o conhecimento e poder que ele havia roubado e escondido dos reis que ele havia servido lhe foram removidos, o feiticeiro perdeu todo o seu poder e conhecimento, se tornou um homem comum, com um certo aspecto de desespero, temor e um olhar sem brilho.
A garota saiu da sala sem nada dizer, no dia seguinte canecas batiam nas grades de ferro e um guarda anunciou aos três prisioneiros:
- ACORDEM, EM VOSSA PRESENÇA ESTÁ O REI!!!
2021 - Roniere Da Cruz