O RABINO E O CORCUNDA*
Uma pequena comitiva acompanhava o Rabino Isaac Ben Israel que se dirigia para a cidade de Minsk para ser homenageado pela comunidade judaica local como um grande sábio cabalista que era. No meio do caminho, o corcunda Moises , homem de grande feiúra física, se juntou à caravana, quando os homens que acompanhavam o Rabino, como também ele próprio, lhe disseram:
─ Puxa como você é feio!
Moisés extremamente ofendido diz então ao Rabino:
─ Foi Deus quem me fez assim! Que culpa tenho eu?
O Rabino imediatamente reconhecendo a ofensa que ele, e seus homens, tinham feito a Moises pediu-lhe perdão, que foi prontamente recusado pelo corcunda que passou a gritar e blasfemar contra o Rabino e aos que o acompanhavam. Novamente o Rabino se aproximou de Moisés e rogou-lhe:
─ Você tem toda razão de estar zangado comigo, peço-lhe, por favor, que aceite meus sinceros pedidos de perdão e saiba que estou profundamente arrependido pela ofensa que lhe fiz.
Novamente Moisés, recusando o pedido de perdão, passou a gritar e falar mal do Rabino e seus acompanhantes ainda com mais veemência. Finalmente a pequena comitiva chegou a Minsk sendo o Rabino recebido com pompa e circunstância pela comunidade judaica da cidade. Mesmo cercado por admiradores, o Rabino afastando-se dos que o homenageavam, postou-se de joelhos frente ao corcunda Moisés, e mais uma vez, rogou-lhe por seu perdão. E mais uma vez ele recusou o pedido continuando a blasfemar contra o Rabino e a todos que o homenageavam.
Desta feita, Rabino Isaac Ben Israel deixou cercar-se por seus discípulos e admiradores, ignorando o corcunda a quem tinha ofendido, e a quem por três vezes havia pedido perdão, pois na Cabala está escrito que, após três pedidos sinceros de perdão, a culpa se transfere do agressor ao ofendido.
*Conto extraído do meu livro "Conversando com Estátuas e outras histórias"