Preparação do corpo - Cap. III do conto O Velório
Antigamente os corpos dos falecidos eram preparados pelos próprios parentes, mas, às vezes, já tinham algumas pessoas que já eram acostumadas ao serviço. Depois que as funerárias se modernizaram, esse serviço é feito por alguém da própria empresa.
Chegando à funerária, me levaram para um quarto bem reservado, lá só entravam pessoas autorizadas, crianças jamais, e ali iniciaram o procedimento.
Primeiro me deixaram nu, morreria de vergonha em outra circunstância, porém, já era hora de perder a timidez, então, nem vermelho fiquei. A higienização foi completa, um belo banho com um poderoso desinfetante para expelir qualquer odor indesejável. Achei que tinham parado com a prática, mas não, pegaram algodão, uma boa quantia, e introduziram em meu â nus para que não houvesse alguma surpresa na hora do funeral. Aquilo que eu nunca fiz agora fizeram comigo, me raparam todos os pelos do corpo e ajeitaram meu cabelo, fiquei liso, nem eu me reconhecia direito, achei que fiquei muito esquisito e ri muito comigo mesmo.
Depois fizeram um corte na minha cervical para a introdução de um fluído à base de formol, álcool, glicerina e outras coisas, assim eu pareceria mais apresentável na coloração da pele. Um pouco de maquiagem também ajudou a melhorar o aspecto pálido que eu me encontrava na situação.
Me vestiram com uma calça jeans e tênis, camiseta branca e uma jaqueta de couro, era assim que eu queria ser enterrado, não de terno ou qualquer outra vestimenta, mas algo que fosse mais ligado à minha identidade, e sem crucifixos, nem terços ou rosários na mão, não precisaria mais rezar, talvez aqueles presentes no velório sim, se acreditassem na oração, mas eu, teria que ter rezado em vida.
Me colocaram no caixão, ajeitaram meu corpo e começaram a tortura-lo com muitas flores, eu espirraria se pudesse, mas suportei calado, visto que sabiam do meu problema de rinite e aquelas flores estavam exalando um perfume forte, eram crisântemos brancos e amarelos, são usados para expelir as moscas que podem rondar o defunto.
Já estava tudo pronto, corpo preparado, dentro do caixão e agora era só colocar a tampa e levar ao velório. Tudo escureceu...