A humanidade Pós Pandemia
Era um bicho pequeno, de formato segmentado e andares ondulados.
Com seus pelos ouriçados e urticantes, causava asco em quem o via e pânico em quem o tocava. Apesar de esse pequeno bicho nada ter que fosse agradável aos olhares, tampouco se preocupava com sua impopularidade.
Uns os chamavam de bicho da seda, outros simplesmente de bicho da fruta. Não obstante esse abominável bicho das plantas ter aversão figadal a tudo que fosse verde (e maduro), de tal maneira que procurava destruir tudo a sua frente.
Devorava capinzais, hortas, milharais, arrozais, canaviais, pomares...
Em pouco tempo o feroz vegetariano poderia desfolhar árvores inteiras. Tal que sua gana nunca parava.
Eis que certo dia esse horrível animalzinho parou. Parou, olhou para trás e observou tudo que tinha feito: Somente desolação! Aridez!
Caído em si, num arrependimento amargo, lamentava-se: Que fiz! Quisera jamais ter nascido! Quem me dera pelo menos ter nascido um lagarto! Talvez, quem sabe, até mesmo uma lagartixa! Menos uma lagarta.
Totalmente envergonhado resolveu tomar uma decisão: Construiria uma casinha erma, que o coubesse somente. Entraria nela, fecharia sobre si mesmo e não mais poria a cara no mundo. Assim o fez. Construiu a casa que mal o cabia, e fechou-se. Todos que passavam, passaram a observar aquele modo de casa, aquela moradia estranha, que passou a ser chamada de clausulo.
Em confinamento nessa nova moradia, num mutismo e arrependimento total, o pequeno horripilante pode ser ouvido na sua dor. Na dor do seu arrependimento, do seu lamento, foi-lhe dado direito de se transformar, sofrer uma metamorfose, em um dos mais belos bichos da natureza.
Saiu daquele clausulo um novo animalzinho. Alado. De belas cores, de voo suave, gracioso e agradável aos olhos de todos.
Seus pelos urticantes? Não os têm mais. São agora penugens macias que vão lhe revestir as asas em multicores.
As plantas as quais destruía? Não acontece mais. Agora, as poliniza. Dá-lhes continuidade de vida com um simples toque às suas flores.
Uns o chamam de crisálida, outros, simplesmente de borboleta.
Agora, por onde passa, irradia alegria. Gostam de vê-lo, tocá-lo, tê-lo...
“Produzi, pois, frutos dignos arrependimentos. ” (Mateus 3:8.)