A TARDE EM QUE A MENININHA LAVOU UMA FOTO...
Mal se acordou e já estava de lábios pintados e de salto. Andava com charme e elegância de um lado para o outro, como se estivesse em uma passarela.
De tempo em tempo, rodopiava nas pontas dos pés. Usava um conjunto azul, roupa que lhe caía muito bem. Sentia-se uma modelo. Todavia, em segundos, seu rosto mudou; tomou-se de tristeza e passou a dizer:
– Vovó, quero mamãe... quero mamãe... quero mamãe.
De imediato, achei que era mais uma de suas brincadeiras, mas, ao vê-la com lágrimas nos olhos, correr para o quarto; pegar uma fotografia de seu primeiro aninho em que está com sua mãe e passar a beijá-la, percebi que estava com o coraçãozinho cheio de saudade. Abracei-a com carinho e a convidei a trocar de roupa.
Ela, que ainda chorava, começou a rir e correu para a cozinha. Pegou um esfregão e começou a lavar a foto. Esfregava com força, pois desejava remover a camada de batom que cobria o rosto de mãe e filha, a fim de preservá-la.
Eu, surpresa com a sua espontaneidade, pedi que parasse e, com uma toalha de mão, limpei a foto. Logo em seguida, por sugestão da garotinha, coloquei-a no varal do pátio para secar.
Recuperada do susto, aconchegou-se em meus braços. O dia escureceu e um temporal desabou.
Olhamo-nos e saímos correndo para o pátio, a fim de recolher a fotografia que, mais uma vez, fora engolida pelas águas. Encontrava-se tão enrolada que mais parecia um canudinho para refrigerante.
Secamo-la para, logo depois a recolocar no seu antigo lugar. Peguei-a pela mão e fomos fazer um lanche enquanto acalmávamos as emoções.
Imagem - Créditos: Cassius José Winck Medina (Ilustrador)