A PRINCESINHA
Domingo pela manhã, dirigi-me ao curral. O dia estava radiante. Numa das mãos levava as últimas criações e, na outra, espigas de milho. Ao chegar, subi na porteira e sentei-me. O primeiro passo foi atrair o público. Joguei-lhes milhos e aguardei que se aproximassem.
Em meu universo, tinha como companhia também um anjo de olhos azuis que, além de fazer com sua corneta um fundo musical, quando lia os versos, veementemente me aplaudia.
Na época, estava com oito anos e curtia escrever frases “coloridas”, isto é, ricas de adjetivos. Era exigente comigo mesma. Ao fazer as atividades escolares, caprichava no traçado das letras. Tudo tinha que ficar perfeito tal qual as minhas criações.
Como meus primos não ouviam os escritos, lia-os para galinhas, porcos, cachorros, gatos, cavalos, bois e vacas. Esse público sempre me fora fiel, nunca me deram as costas ou negaram-se a me ouvir. Quando emitiam quaisquer ruídos, acreditava que estavam apreciando minhas produções. Emocionada, cantarolava alegre. Fazia-lhes uma reverência como agradecimento e, logo depois, saía saltitando pelo quintal.
Numa tarde, ao concluir as leituras, ouvi aplausos. Era meu avô paterno que, após abraçar-me com afeto, falou:
– Princesinha, tenho certeza de que, quando cresceres, estarás às voltas com textos e livros. Cuide-os bem.
A seguir, beijou-me as mãos e as ergueu para o alto, dizendo:
– Não abras mão de teus sonhos! Faze tu a diferença!
Voltei a abraçá-lo.
Suas palavras borbulharam, por muito tempo em meus pensamentos.
Embora a partir desse dia, tenha passado a compartilhar os sonhos literários com vovô; no entanto, não abri mão do antigo público. Continuei a atraí-los com grãos de milhos e migalhas de pão. Nossa parceria extravasava fantasia, amor e felicidade, fonte de deleite e de prazer.
Imagem: Créditos - Lahís Pierina Mader Mello (15 anos)