A Menina Sonhadora

Ah!! Sabe aquela menina, aquela que

Mora lá na terra distante. Onde o vento

Parece uivar e que canta nos fios, em assobio uma linda canção que a muitos amedronta?

A ela não. Lá onde o sol é escaldante e a seca predomina e que racha a terra. Na chuva a terra vermelha faz-se barro, que grudam nos calçados e descalço pelotões nos pés.

Voltemos à menina que sonhava em ser normalista, fazia uma lista do que poderia ser e fazer. Ela via - se com saia azul marinho com pregas e impecavelmente passada, blusa branquíssima, pós lavagem era passada no anil. No bolso a monograma escrito seu nome........ e meias brancas, quase ao joelho, com a boina que simplesmente adorava, hoje adora chapéus.

Ah!! Pobre menina, o sonho não se realizou, nunca essa roupa usou, pouco estudou.

Mas lia, lia, lia jornal , revistas, gibis, placas nas ruas , nome de ruas , livros só os mesários pois dinheiro era escasso. Lia panfletos de anúncios de filmes, tinha a programação semanal, adorava quando encontrava escrito (Para maiores de 18 anos) e, imaginava quando os faria, para poder sentir a magia, o deslumbre da vida, viajar pelo mundo todo, viver, fazer e poder.

Assentemos na menina, que mentalmente assim vestia - se, arrumava uma mesa na cozinha (real), pegava os materiais do primário, um copo chique da mãe, com água e sentava - se (sonhos) nos grandes coffees de Paris, quando não nos Pubs da Irlanda, nas tavernas da Escócia, onde fazia longas caminhadas à beira mar no final da tarde ou de manhãzinha, com frio castigante, solidão e amor. A menina era boêmia, sempre presente em reuniões de artistas, pintores, críticos, anarquistas, mulheres ousadas e como as admirava-as e continua apostando nelas. As ousadamente ousadas, bem femininas, não feminista. A menina não era criança, era........ Oh!! A mãe dela chegou, voltou aos livros do primário. O copo a mãe fingiu que não viu e a menina sorriu.

ADELE PEREIRA

07/01/21