A rua Ignácio Camilo

Eu conheci, gente, o prócer pitanguiense que deu nome a essa rua, cujo formato é de um L e que se estende por coisa de uma centena de metros, com casario singelo de ambos os lados, ligando o Largo da Cruz à rua Nova, na denominação popular. Está calçada e com um arremedo de asfalto hoje, dando mão numa só direção, rumo centro.

O Ignácio, comerciante honrado do varejo e do atacado da cidade, que aparentemente nunca foi de bebida, foi com uma garrafa sob os pés que chegou ao fim da vida, nos seus sessenta e poucos anos. Ao menos foi assim que o vi, numa breve visita, com papai, Tibebé, manos Bebel e Beu: magrinho, quase esquálido, na sua bela casa alpendrada da ponta do jardim central da cidade, sentado sobre a sua cama, e rolando a garrafa de água quente com os pés, cobertos por grossas meias, já prenunciando a fria visita da Parca. O belo túmulo que familiares lhe erigiram registra a data de partida, de 1956. Deixou descendência, herança e imorredouras saudades.

Mas voltemos à rua que o homenageia. Lá estavam em animada partida de vôlei numa tarde de domingo os jovens que fariam de tudo para não ver o Señor do Baú, numa improvisada quadra em que se convertera o casebre do Zé Casemiro, que partira para a morada eterna, e deixara aquele precioso espaço para as exerções de uma juventude sadia...

E eis que à rua pára de repente um automóvel sem capota, placa da capital mineira, exibindo todo o vigor de seus verdes anos um moço acompanhado de um grupo de garridas moçoilas, que pergunta:

- Olá, gente boa, alguém aí pode me dizer onde fica a rua Iguinácio Camilo...?

Ao que recebe a reação imediata de um simpático, suarento e saliente atleta de fim-de-semana, o Jonba - que ilustra estas páginas do Recanto das Letras:

- Olha moço, a rua que o senhor procura deve ser esta. Entretanto, cabe-me adverti-lo de que a letra g quando aparece antes de um n ela não é pronunciada, é muda...

E a tréplica vem, de chofre:

- Rapaz, muito obrigado, imagina que eu inorava isso...

E o bom Camilo pode manter seu sono tranquilo...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 03/01/2021
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