UM DIÁLOGO BREVE EM UMA ETERNA MADRUGADA

Algumas coisas que acontecem em nossas vidas figuram grandes transformações mesmo que elas não pareçam de primeiro momento, e elas costumam ocorrer em meio a desertos e tempestade seja ela de areia, seja pelas fortes torrentes tempestuosas como as da chuva, e acabam deixando marcas em nossas vivências, assim alguns sábios preferem chamar de experiência, outros de as cicatrizes da vida, mas independente do termo, são marcas que perpetuam em nossas lembranças, que em noites solitárias voltam se a povoar nosso pensamento, e como ladrões da noite nos roubam a paz e junto carregam o sono como seu coadjuvante.

Com essa forma um tanto melancólica mas não menos realista, me encontrava diante meu computador, o velho relógio de parede marcava três horas da madrugada, o silêncio da madrugada era quebrado com alguns grilos que zuniam vez ou outra. E Entre estes zunidos, uma música e outra ouvia através de uma rádio no computador, a música que começou a tocar logo após alguns minutos de comercial foi, o som do silêncio, musica convidativa para a ocasião que me encontrava, mas nem tanto pelas velhas lembranças que meu pensamento sorto estava mergulhado, uma sensação de ansiedade, de amargura, e uma certa raiva de episódios que ainda não digeri muito bem, episódios de um passado nada distante.

Enquanto ouvia a música, levantei me de minha escrivaninha, abri meu guarda roupa, e lá no fundo estava um belo brinquedo de minha infância, uma marionete (uma menina cor de cuia, olhos cintilantes, com um vestido verde alongado, de cabelos escuro e “dona” de um sorriso de grande evidência, ela a marionete tem aproximadamente 35cm de altura, por uns 10cm de largura, apesar dos anos que a possuo, se mantem como nova, o brilho da madeira deixa ela um encanto).

Brinquedo este que em momentos de stress ou de nervosismo procuro pegar para deixar meu imaginário solto e delirante, com as fantasias que crio junto da marionete, que por sinal tem até nome, chama se Pollyana.

Peguei a minha (magrelinha) Polly, diminutivo carinhoso da marionete e comecei a descortinar com ela um enredo de descontração, entre falas desconexas, e balanceando as mãos e pernas da marionete, com uma moleza jeitosa, com as pouses que realizava da marionete, enquanto sentado em minha cama, e com a marionete em ação, ao som da música parecia ganhar vida a marionete Polly sorridente, dentro de uma madrugada não tão festejam-te assim.

Após alguns minutos de ludicidade, encostei a marionete no pé da minha cama, e fui ao banheiro, após tomar um relaxante muscular, o qual deixo dentro de um armarinho. Enquanto tomava o relaxante ouço um leve barulho de madeira batendo no piso do meu quarto, este que fica ao lado do banheiro, mas não dou muita importância ao barulho, guardo a cartela do remédio e volto me ao quarto. Nada de estranho no quarto, a marionete junto ao pé da cama, e o computador ligado, agora a música é Love Hurts, enquanto toca a música arrumo novamente a cama, para tentar o resto do sono em minha madrugada.

Após arrumar a cama, desligo o computador, mas acabo que deixando como “companhia”, a marionete Polly ao pé da cama, apago a luz e deito-me ainda um tanto pensativo, mas agora já mais cansado. Quando estou sentido que o sono vem chegando, uma voz fina e gentil fala: “Jhony, OI”. Abro os olhos de imediato e por um instante o silêncio se mantem inalterado, penso: certamente coisa de minha imaginação e coloco me a fechar os olhos.

E repentinamente a mesma voz exclama: “vamos conversar Jhony”, com a velocidade de um raio abro os olhos, e levanto-me, aperto o interruptor da luz, e ao abrir bem os olhos, percebo que a marionete Polly, estava posta como sentada em cima de minha escrivaninha, dedilhando os dedos como quem estivesse com pressa. Meu espanto é tal que fico paralisado observando o que honestamente não acreditei naquele instante.

A marionete com seu belo vestido verde, ganhará vida, ou eu havia exagerado no relaxante muscular, na pior hipótese entrado em um estado de (loucura-delirante), mas sem gracejos a marionete olhou me com seus olhos castanhos escuro com fixação nos meus, e sem pestanejar começou a falar, pasmem a marionete tinha um famigerado sotaque de quem morava no norte do Brasil. Prontamente a marionete Polly, exclamou:

-Senhor Jhony, como pode ficar com essa face de quem viu um fantasma, apenas por que uma marionete vos fala, não quer dizer que seja uma inverdade, lembre-se que desde quando fomos “apresentados”, quando você ainda tinha lá seus 10 para 11 anos de idade, cujo semblante rosado e com a exposta vergonha de brincar comigo, se afigurava como sendo apenas um momento mágico, e agora que a magia ganha vida, você fica descrente?

Ao ouvir uma marionete falando, fiquei estagnado, apenas com os ouvidos em plena atenção ao que os meus olhos não se deixavam ainda acreditar, mesmo querendo falar algo, minha voz como ausente não se manifestava, tamanho era meu espanto. Quando a marionete Polly, parou de falar, sentei em minha cama que estava a poucos centímetros de distância, fiquei como a contemplar tamanha vivacidade em uma marionete de madeira, com vestido de cetim, Cor de cuia, e sotaque típico do povo do Norte.

Passado um pouco de meu espanto, veio me o ímpeto da euforia em conversar com o que ainda meu consciente não acreditará. Mas antes mesmo que minha empolgação ganhasse maior agitação, a marionete pôs a falar novamente:

-Caro jhony, deixe de ficar com essa cara de molambento, e ouça o que tenho a te dizer com atenção, pois meu tempo é curto. Venho te observando desde o dia que o “conheci”, quando sua madrasta te presenteou (comigo). Desde então apenas o observei sem me manifestar por todos estes anos, mas hoje percebi que já era hora de termos uma conversa, pois percebo o quanto você tem sido omisso em encarar a vida, e isso alguém precisava lhe dizer cedo ou tarde. Trate de erguer a cabeça e ser um homem de Fé.

Meu coração se acelerou, um calor me subia entre o tórax e o pescoço, pensei que estava em delírio, mas fui tomado pela leveza dos movimentos daquela marionete, ali, sentada em minha escrivaninha, a qual girava lentamente a sua cabeça de um lado para o outro (de uma maneira mecânica), “mapeando” o meu pequeno quarto, bem como dedilhando os dedos, como que se o seu tempo fosse muito escasso, mas ao mesmo tempo mantinha um sorriso perene e gentil, mesmo a mim parecendo estranho um sorriso em uma marionete de madeira.

Perguntei a marionete, se ela era fantasia de minhas imaginações, ou mágica? Também perguntei, por que ela antes não falará comigo? A marionete parou de dedilhar os dedos, movimentou a cabeça novamente na minha direção, e por um instante fez um breve silêncio, quando:

-Seu humano chato, já falei que sou uma marionete que tem vida, acredite e ponto. Há e não conversei com você antes pois não via necessidade, e tome jeito, pare de me “guardar” com aquelas camisetas envolvidas em naftalina, sou de madeira, mas meu coração é de verdade. Essa noite vim apenas te dar um recado, teremos outros encontros, seu jhony cara de caramelo.

Prometi a Polly prontamente que não a colocaria mais com as camisetas envolvidas em naftalina, mesmo sorridente, refletia que jamais imaginaria que seria chamado a atenção por uma marionete, e que a tal iria reclamar de naftalina (kk), por mais que ela não tem pulmões, bom eu acho. Sem delongas, perguntei o que a marionete tinha a me falar as três e quarenta da madrugada, já que segundo ela, eu não estava encarando a vida;

Poly, pulou de cima da escrivaninha e semelhante a um soldadinho de chumbo, caminhava de um lado para o outro em minha frente, com a cabeça voltada para cima, as mãos para trás, e o tec tec tec, de seus (pés) e o nítido som da madeira chocando-se com o piso era a “sinfonia do momento”. Ela chegou-se mais perto e pulou em cima da minha cama, chegou bem pertinho de mim, e como uma menina bem comportada sentou se do meu lado, mesmo sendo tão pequena era admirável seu comportamento. Não tardou e Polly disparou a falar:

-Caro Jhony, é me oportuno o momento para te dizer que é um rapaz doce e cordial, mas com um conhecimento superficial e de uma personalidade em formação, por isso estou a te contar tamanhas questões, que se não corrigidas a tempo, ti causarão danos no futuro, os machucados da alma são um reflexo em nossa saúde mental e física, portanto trate de começar a cuidar se melhor ou a vida que tanto preza, vai se esvair entre seus dedos, igual areia do deserto que se mistura as dunas e de nada se aproveita, se não a mera ação que o vento a faz em carregar de um lado para o outro.

Meus ouvidos com muita atenção se mantiveram nas palavras de Polly, que ao finaliza-las, tocaram meu pensamento e me fizeram refletir por instantes que a mim pareceram um “eterno recomeço”. Pensava como a vida é cheia de enigmas e surpresas, pois em uma madrugada qualquer, um brinquedo ganha vida e com pouco mais de quarenta minutos de (conversa), consegue me emergir de uma realidade pacata, fútil, débil, para um novo horizonte.

Ao observar com tamanha acuidade aquela boneca/marionete sentada ali ao meu lado e me olhando com um olhar fixo e gentil, sentia me abraçado por uma força maior, a marionete levou sua mão em direção a minha, uma mão fria para uma marionete com palavras tão quentes me tocavam. E quando quis dizer algo, ela novamente tomou a frente:

-Jhony, preciso ir agora, nada de me enfurnar nesse guarda roupa escuro, coloque me na sua escrivaninha, não irei deixar de conversar com você em outras ocasiões, mas agora é tarde e como você, também preciso descansar, agora que me conhece, e sabe quem “sou” de verdade, não deixe de ser mais gentil e cordial comigo, pois sabe que posso conversar com você, e será um deleite a ambos, te garanto, sei que a vida tem muito a te ensinar, assim como os livros do C.S. Lewis, o qual já vê você lendo.

Com um gesto simples porém marcante, ela piscou seu olho esquerdo e disse: “Até uma próxima madrugada, jhony caramelo”.

Quando fui falar: Polly, para que continua se a me explicar por que já iria parar de conversar comigo, simplesmente como um vento que a tudo amolece, ela a marionete (perdeu a vivacidade) e ficou ali estendida na cama como se fosse uma “simples marionete”, tentei chacoalhar ela para ver se “voltava”, mas nada adiantou, e ela simplesmente desapareceu em (vida).

Após alguns minutos a peguei em minhas mãos com muito carinho e levei até a escrivaninha, a deixei sentada como me pediu, desliguei a luz e fui me deitar já era avançado no horário e logo o sol nasceria, breve cai em sono. Ao acordar lá estava a marionete Poly sentadinha como deixará na escrivaninha durante a madrugada. Bom até hoje não sei se foi apenas um delírio minha conversa durante a madrugada mas que a boneca/marionete Polly continua em minha escrivaninha a isso continua, junto do livro do Lewis (O Peso da Glória) e ansiando para que ela se manifeste novamente em sua mágica/vivacidade.

Pois conversar com ela é sem dúvida um deleitável momento de reflexão, que aguardo em cada nova madruga, e certamente ela irá se manifestar para orientar-me tanto em leitura como na experiência de vida, assim sendo desejo em meus pensamentos, muita vida e grandes beijos a bela Polly, seja lá aonde você estiver, pois estarei a te aguardar para novos diálogos. De seu admirável Amigo, Jhony M. Wilkos.

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Enviado por asterix em 12/12/2020
Código do texto: T7134012
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