Um Show Diabólico!
O país era próspero e feliz.
Tantos os camponeses, quanto as pessoas das oficinas e do comércio viviam em paz e harmonia.
Era um tempo de lampião e luz de velas, mas a medicina preventiva funcionava bem.
As casas, naquela terra de invernos amenos e verões brandos colhia tudo o que plantava.
E assim bem seguia a vida quando o Viajor trouxe aquela novidade.
Chegou em uma engenhoca estranha, colorida, tendo rostos de palhaços bizarros em alto relevo. A impressão que se tinha é que cada palhaço olhava para a pessoa não importando em que posição estivesse.
Chegou no centro da cidade. A engenhoca parou. Soltava uma fumaça branca cujo odor lembrava castanhas queimadas. Anunciou que faria um espetáculo durante a noite com seus mequetrefes, duendes, órfãos de outras humanidades e excentricidades nunca antes vistas e imaginadas. Que trouxessem seus tostões, porque quem não desse o teria tomado. E ria da sua pilhéria.
Como o trabalho era muito, mas a diversão amiudada, o povo correu em debandada para aquela novidade.
O homem acendeu luzes que não sabíamos de onde vinha, mas era uma manobra do seu teatro encantado.
Abriu tendas coloridas e um picadeiro elevado. Tínhamos tamboretes e cadeiras. Seus assistentes, todos encapuzados de vermelho vestiam-se como arlequins.
Tudo colorido com uma música festiva tocando de onde não se sabia donde vinha.
E o povo que quisesse melhor sentar já pagava um tostão. Quem quisesse bebida à vontade vinha mais um dobrão.
E era um licor róseo que brilhava no avanço daquela noitada.
Toda gente acorreu para lá.
E o homem começou a falar e tivemos um teatro de marionetes, depois os arlequins, oito no total, dançavam no palco. E veio um mágico atrapalhado que adivinhou coisas escondidas nas pessoas e leu pensamentos deixando sem graça alguns e alegres outros. E tivemos um anão que levantava um cavalo e uma mulher barbada que dava saltos da altura de uma casa. E todo o povo bebeu e, em dado momento, a fumaça se espalhou. Mas fazia parte do número, disse o Viajor.
E ao final, todos acordamos no dia seguinte deitados e espalhados pelo extenso pátio aonde ocorrera a manifestação de arte.
E não estava mais lá nem o homem e nem os seus arlequins.
E nos dias seguintes seguiu que brigas dominavam aquela terra. Os homens, ao invés do trabalho, iam à taverna e buscavam mulheres que não eram suas.
E vários filhos e filhas fugiram de casa e as oficinas fecharam e o comércio faliu.
Fui também embora buscando uma outra terra. E me empreguei em uma oficina de artesanato. Era uma cidade feliz, até que vi chegando aquela engenhoca tendo nela o Viajor. Não sabia se alertava o povo ou se fazia minhas malas e mudava. Afinal, resistir é inútil, porque a carne é fraca...