- Se for preciso, vou a pé! – disse Douglas antes de sair batendo a porta de casa.
Andava a passos apressados naquelas primeiras horas enevoadas do dia. As mãos nos bolsos, a cabeça rodando em mil pensamentos. Não agüentava mais aquela vida, aquela cidade. Seu pai bêbado, sua mãe passiva, apanhando calada, cobrindo dia após dia os hematomas com maquiagem para poder ir para a igreja. “Temos que orar pelo seu pai, meu filho!”- ela dizia- “Seu pai é atormentado pelo demônio, temos que orar. Ele não era assim... Ele é até muito bom às vezes”.
Naquela madrugada não pôde dormir com os gritos e coisas quebrando dentro de casa. Não aguentou: desceu as escadas e enfrentou o pai pela primeira vez. Socou, socou e socou, até que seus punhos ficassem dormentes em contato com uma massa quente e ensangüentada que fora a cara de seu pai. Sua mãe gritava que ele parasse, mas não se metia. Até que em um momento ele parou, atônito. Não sabia se seu pai estava vivo ou morto. Não queria saber.
- Vamos embora, mãe!
- Não, eu não vou. – ela disse, em prantos.
- Então eu vou!
- Você não sabe dirigir...
- Se for preciso, vou a pé!
Enfiou os punhos ensaguentados nos bolsos e foi em direção à saída. Antes que ele saísse ouviu a mãe dizer:
- Não dá pra ir embora...
Ele já tinha andado por cerca de meia hora, naquela neblina tão densa que se poderia cortar com uma faca, a respiração criando nuvens na friagem. Chegou ao marco de limite de municípios:
Andava a passos apressados naquelas primeiras horas enevoadas do dia. As mãos nos bolsos, a cabeça rodando em mil pensamentos. Não agüentava mais aquela vida, aquela cidade. Seu pai bêbado, sua mãe passiva, apanhando calada, cobrindo dia após dia os hematomas com maquiagem para poder ir para a igreja. “Temos que orar pelo seu pai, meu filho!”- ela dizia- “Seu pai é atormentado pelo demônio, temos que orar. Ele não era assim... Ele é até muito bom às vezes”.
Naquela madrugada não pôde dormir com os gritos e coisas quebrando dentro de casa. Não aguentou: desceu as escadas e enfrentou o pai pela primeira vez. Socou, socou e socou, até que seus punhos ficassem dormentes em contato com uma massa quente e ensangüentada que fora a cara de seu pai. Sua mãe gritava que ele parasse, mas não se metia. Até que em um momento ele parou, atônito. Não sabia se seu pai estava vivo ou morto. Não queria saber.
- Vamos embora, mãe!
- Não, eu não vou. – ela disse, em prantos.
- Então eu vou!
- Você não sabe dirigir...
- Se for preciso, vou a pé!
Enfiou os punhos ensaguentados nos bolsos e foi em direção à saída. Antes que ele saísse ouviu a mãe dizer:
- Não dá pra ir embora...
Ele já tinha andado por cerca de meia hora, naquela neblina tão densa que se poderia cortar com uma faca, a respiração criando nuvens na friagem. Chegou ao marco de limite de municípios:
“Obrigado por visitar Purgatoria - Volte sempre”
- Vá se foder, Purgatória! – disse ele.
E continuou andando por mais alguns minutos até que se deparou com outra placa:
“Seja bem- vindo a Purgatoria”
A mente rodopiava em pensamentos confusos e desencontrados. Atônito, ele prosseguiu na neblina, e depois de mais uma curva da estradinha ele se deparou novamente com sua casa, sua mãe na porta.
- Eu te disse, não disse?