O conto LAR AMARO LAR surgiu e foi escrito por volta de 2011. Integra a história de um livro, registrado em 2013 no Min. Cultura na FBN. Por minha solicitação foi revisado na gramática em 2016 pello escritor Miguel Carqueija.
Tomara que gostem em façam uma boa leitura. Grata





LAR AMARO LAR



Fase 1: Ambiente Terráqueo

O ano é 2024. Há uma década, a Terra vem sofrendo cataclismos em todos os continentes.
Milhões de vidas ceifadas pelos terremotos, tsunamis, furacões, enchentes.
Altos verões de +50 C. Baixos invernos de -50 C.
Terras inférteis, destemperos no ar poluído.
Saciar a fome é o maior desafio. O mal do planeta.

A nível de espiritualidade, a humanidade dividiu-se em dois grupos: os que crêem e os que não crêem. Todas as igrejas, templos, mesquitas, foram destruídos, por defesa dos fiéis. Não é aceitável exteriorizar religião. Então, os crédulos uniram-se num Todo espiritual, com um único Deus, e sempre que possível, reunem-se em lugares secretos para confraternização e atormentada adoração.
Os incrédulos entram em conflito com aquele Todo.
Os dois grupos se auto-intitularam de Sprits e Vodkas (deprimidos & desesperados).

Os Sprits raramente vão às ruas, somente por necessidade. Os Vodkas vivem nelas, buscando e desafiando os Sprits. Geralmente, quando se cruzam, os Vodkas os encurralam e perguntam:
”por que crêem?” E quando alguns corajosos gritam o nome de seu Deus, eles os agridem , e muitos morrem. Daí, os Sprits vivem num conflito interno: por sobrevivência, às vezes, mentem, e dizem que não mais crêem, e os Vodkas desistem de agredi-los, então, sentem-se deprimidos, pela covardia da traição, diante do medo real, na luta em manterem-se vivos.
Os Estados Unidos da América foram os mais atingidos. Em especial, a cidade de Nova York foi parcialmente dizimada por um grande terremoto, seguido de tsunami. O maior de todos os tempos. Diante disso, a maior potência perdeu a força, e quase todo o arsenal de suas armas bélicas. Não mais guerreiam, externamente. A guerra atual é interna. Estado contra Estado. No momento, a Pensylvania luta contra o Maine, pela disputa de domínio do que restou de Nova York.
O Japão quase já não tem terra. Setenta por cento foi drasticamente tragado pelo mar.

Os muçulmanos, guerreiros e guerreados, sobreviventes pacificados, são entendidos como profetas loucos ou visionários.

E a Europa, continua a viver a guerra interna, na procura de uma ideologia, política dominante.

Houveram muitas baixas de viventes, inclusive de valores, conceitos e pré-conceitos.

Na América do Sul, também. Todavia, o Brasil é visto como o celeiro do mundo.Tudo é muito caro em todos os sentidos, e diante do empobrecimento dos povos, antes ricos, os turistas que aqui vêm são rigorosamente selecionados, tendo que estar inseridos na causa do ecológicamente sustentável.

Somados às tragédias naturais, fatos inexplicáveis vêm aterrorizando geral, presenciados em várias partes do mundo. Alguns trechos, num raio de mais ou menos trinta quilômetros, de bairro ou campo de agricultura, estão sendo alvo de uma radiotividade não conhecida pela classe científica. Forma-se uma grande nuvem de cor fuligem, como um tornado imóvel sobre a área, impressionando ameaçar tempestade, avistando-se reflexos luminosos, e constatando-se atingir, onde paira, letalmente a vida de humanos e de animais, tendo o fenômeno dois estágios:
Nas primeiras doze horas toda vida torna-se pó, humanos, fauna e flora. Após este periodo, a nuvem começa a dissipar e somente a flora renasce com mais força e cores intensas. Onde há água depositada, lagoas, lagos e piscinas, apresenta-se mais cristalina que antes. Em vinte e quatro horas tudo é revivificado, exceto os humanos e os animais, que desaparecem misteriosamente. Montinhos de pós são observados em vários espaços. Não se vê rastros, nenhum indício do que, quem, e como foi causado aquele fenômeno.

Diante do quadro de mudanças de interesses globais, a Discovery Brasil convidou um conceituado cientista brasileiro, o Dr. Severino Baião, para investigar o sinistro. Teria que entrar na nuvem no primeiro estágio, tentar descobrir a causa daquele terror e mutação. Agora, a nuvem havia pairado sobre o município de Cubatão em São Paulo, por um acaso, no bairro de residência do prefeito local, o Dr. Amaro Leite.

E para lá se dirigiram: Dr. Severino acompanhado do fotógrafo José Ruiz, de apelido Bill.

Recentemente, tinha sido criado pelos pesquisadores brasileiros um modelo de dirigível, ultra leve, na forma de balão, feito, exclusivamente, para funcionar como mini satélites internos, com ocupação para duas pessoas. Funcionam como fiscais da natureza. Sobrevoam as comunidades, reservas florestais e fronteiras. São verdes-amarelos. Filmam e fotografam. Quando detectam irregularidades, imediatamente, bipam a ABIN, que providencia o flagrante com precisão. Todos gostam de vê-los nos ares, inibem e protegem.

A dupla, vestida com uniformes de astronautas, os originais que pousaram na lua, e que tinham sido arrematados num leilão nos EUA , subiu no balão, e entrou na nuvem. Foi o caminhar mais pesado, amargo e doloroso que tinham vivenciado. Era como se o tempo tivesse parado. O sol, vislumbrado friamente através da nuvem, dava a impressão que estava se distanciando.
A atmosfera proporcionava a sensação de peso, depressão, tristeza.
A energia e a comunicação por satélites interrompidas, em toda a extensão. Águas armazenadas, como se evaporadas, tornadas pó, assim como as extensões das áreas verdes. Amontoados empoeirados, de variados tamanhos, eram notados. Assombrados, constataram que seriam os ex-humanos e animais. Casas e prédios mantinham-se de pé, porém todos sem vida. A visão era fantasmagórica. A cor terra tingia toda a paisagem..
Aterrisaram, desceram, e colheram amostras das anti-vidas .

Sobrevoando a área, avistaram a mansão do prefeito, onde lia-se no grande portão frontal: “LAR AMARO LAR”. Situava-se num terreno em aclive. Instigantemente, era a única que apresentava luz.
Pairando sobre a casa, constataram: à sua frente, onde existia uma alameda de flores, havia agora uma cratera aberta. Os cascalhos e terra estavam amontoados nas laterais, e dentro do buraco identificaram o que seria um objeto em forma de disco, aparentemente destroçado, pousado invertido. Era como um brinquedo, na proporção do tamanho da cratera, e tinha orifícios em toda a estrutura, como se fossem projetados para filtrar ou passar luz.
Um lago, atrás da casa, era agora um grande depósito de água em pó. Próximo à entrada da residência, onde havia uma árvore, antes um ipê frondoso, agora regava o chão com suas ex-flores empoeiradas.

Intrigados com o mistério da única luz existente na área, colocaram-se à distancia, na altura das janelas do segundo andar, e com auxílio de binóculos, o que viram os fez gelar de espanto.
Na verdade, a casa também estava às escuras, o que a iluminava eram os seres, ainda não identificados, os evidentes tripulantes da nave. Nesse andar, haviam seis. À medida que andavam, de um cômodo a outro, os espaços eram iluminados . Moviam-se para lá e para cá, como se estivessem inquietos e aflitos. A forma era de lâmina vertical, com mais ou menos meio metro cada, porém, percebia-se nos espaços escuros, pequeninos pontos de luz, como fagulhas ou reflexos, sendo similar, como da Terra, avistamos as estrelas longínquas.
Naqueles que aparentavam inquietação, via-se a silhueta curvar em forma de U invertido, e fagulhas, as que estavam ao redor, as incorporavam, como que energizando.
Num momento, dois deles se unificaram como dois feixes verticais, abraçados e cúmplices. Nesse segundo, a luz se intensificou.
A visão era surreal e assustadora. A impressão é que a casa tinha lâmpadas mal contactadas, acendendo e apagando. Filmaram o possível e tiraram fotos. Aí pairaram na frente da única janela iluminada, no piso inferior.Havia um ser sozinho, estirado em descanso, como que em standby. Seu corpo físico interior era percorrido como se fosse por líquido, azul translúcido, em vários canais, como veias, mas, na verdade, era somente luz. Não havia nenhum orifício, que lembrasse olhos, boca, ouvidos, nada! Eram laminados de luz!
Posteriormente, souberam que o ser que estava só, era um receptor e propulsor de energia para os demais, os que ausentavam-se da máquina, viajando sempre fixado nela, e a nave era um carregador de energia escura cósmica. Naquele momento, fazia conexão com as outras naves, comunicando a pane de sua bateria.

Dr. Severino e Bil entreolharam-se emudecidos, e pasmos conseguiram pensar em telepatia:
“ Nunca tive tanto medo da luz!“

Num estado de torpor, afastaram-se, apressados e apreensivos . Precisariam pensar, refletir... Avançar? Recuar? Expor-se ou esconder-se? Fazer perguntas ou ignorar... não querendo saber respostas?

Estando fora da área de interferência, imediatamente conectaram-se, via satélite, à base, à Área 171-PPFB, emitindo o sinal de alarme, exigindo reforços de defesa, urgentes .

Dr. Severino, quando muito nervoso, voltava a falar com seu sotaque original, e quase histérico, registrou:
-Vixi, vixi, são aliens, muuuito siiinistros, temos que agir agora, enquanto sua nave está detonada, e não são sete, como pensamos, são milhares, como fagulhas, incorporam-se uns nos outros, podemos estar frente a um complô ! Viiixiii, temo que o universo possa estar mesmo conspirando contra nós...Venham todos como puderem, não sabemos suas potências, se querem, também, incorporar-se a nós. Quem sabe o que farão? Talvez, tenhamos que lutar para sermos os últimos a sair, apagar as luzes. E, quase gritando:
- Temos que achar uma solução, em prol da vida humana...




Fase 2: Uma Visão Extra Terrestre


Finalmente, se permitiram conhecer: Os LUZINHAS!

Eram conhecidos assim no universo. Viajavam nele há milhões de anos-luz, e tinham consciência de sua antiga e galgada evolução. Percorriam todos os mundos, numa busca de plenitude incessante. E não mais caíam em buracos negros. Conscientes, às vêzes, por diversão, os rodeavam, assistindo o sugar insaciável de corpos perdidos e distraídos, e gritavam eufóricos: -Adeus, adeus... até o futuro!.

Andavam sempre em grupos de minúsculas, quase imperceptíveis, fagulhas, e quando se reuniam, emendavam-se uns nos outros, como se dessem as mãos, ou se afinavam tanto que incorporavam-se mutuamente, intensificando suas naturezas rutilantes, e nessas ocasiões, que tinham a grandiosidade de um evento, assistia-se uma explosão pirotécnica de luz, criando ou imitando as formas que quisessem, como se dançassem harmoniosamente.

Contudo, todo esse frenesí de inquietação tinha um motivo: a obsessão de saber a sua última forma, sua derradeira morada, estrela extinta, e como nasceram... o ponto inicial.

Há menos de um século terrestre, avistaram a Terra, e ficaram estupefatos. Em princípio, pela sua visão azul cristalina que pensaram ser luz, mas logo descobriram ser água, quase na totalidade. Ninguém percebeu quando o primeiro clarão, em formato de esfera, desceu pelos ares e mergulhou na profundidade de um oceano, por um terrestre acaso, chamado Pacífico, como suas naturezas, e mergulharam em paz até o mais profundo abismo, depararando-se com os seres abissais, que nadavam tranquilos na escuridão. Percorreram enlevados, todo aquele habitat marinho...

E... LUZES ESTELARES MISTURARAM-SE ÀS ÁGUAS CRISTALINAS ..

Então, devanearam:... “ Será que já fomos assim? Seriam estes seres, nossos ancestrais?” ...
Pelo domínio do elemento água no globo, pensaram ser aquelas criaturas as formas de vida inteligente, por conviverem perfeitamente com a flora e entre si, numa cadeia alimentar de subsistência.
E se aproximaram dos golfinhos. Imitando-os, entravam em seus corpos e os iluminavam de graça, acompanhando-os nos passeios e piruetas, saltando acima das águas ( alguns pescadores os viram assim, luzidios em espiral, mas pensaram ser miragens, até mesmo ébrias, de alto mar).
E as magníficas e seculares baleias lhes confidenciaram sonhos de passados...Acreditavam terem sido belas sereias, híbridas infecundas, que num desejo incontrolável de suas entranhas, imploraram aos deuses concederem-lhes a graça de serem mães, que amamentassem seus filhotes, negociando, em troca, a sua atual aparência avantajada. Por mera defesa, não poderiam apresentar aquela beleza estonteante, das lendárias sereias. Assim lhes foi concedido, porém, os deuses mantiveram seus cantos enigmáticos e tristonhos, de cármicas mães, ao ponto das honoráveis donas terem de se colocar até trinta minutos em silêncio, a auscultar perigos, rente à superfície, jorrando, em suspiro, um turbilhão de lágrimas... como um desabafo de alegria de sonho realizado, mas, especialmente, lamentando sofrimentos e preocupações, pesadelos vivenciados e temidos, lhes recordando perdas ... e assim suplicam trégua, para os futuros e raros, muito amados filhotes.
E nesses abundantes espaços interiores acalorados, Luzinhas amontoavam-se, acompanhando-as, ouvindo suas histórias e conceitos sobre o seu mundo aquático.

"E sereiando as viram sonhando, em solidão abissal, na procura de igual. Há muito conjecturavam...Volta e meia rodopiando se lançavam, adejando como se no ar. O azul do céu imaginavam, encantado, ser outro mar."..

Surpreendidos, assistiram a morte de várias delas, na ponta de armas, assim como o massacre de milhares dos amigos golfinhos, tingindo de vermelho espaços dos oceanos, e testemunharam que o perigo havia na superfície, na menor parte habitada do planeta.
No intuito maior de ajudá-los na sobrevivência, emergiram desiludidos, resolvidos a pesquisar a esfera, dividindo-se em grupos. Imediatamente, fizeram cópias sobressalentes de sua nave modelo, e sobrevoaram todo o globo.
Antes, catalogaram todas as espécies marinhas, especialmentec as que estavam em risco de extinção, e aos singulares espécimes da família Cod Gadus Morhua.

Simultaneamente, filmaram todos os continentes, e ficaram demais extasiados com a variedade de formas de vida, pássaros, animais, a flora colorida, o verdejante das matas, a abundância das águas móveis, vastas e estreitas.

E observaram:

Criaturas brancas caminhando, lado a lado, com criaturas negras, sem se mesclar.
Grupos brancos, aparentemente arredondados, desfrutando e praticando imensurável abundância e desperdícios, em contraste com grupos negros e brancos, de espessuras finas, na escassez de tudo, vivendo em áreas tão estéreis, que até o grupo de quatro patas sucumbe de sede e de fome.

Surpreenderam-se, ante a dois grupos amarelos, de olhos semi-abertos, ao mesmo tempo que similares, divergentes, no externo e internamente. Um, vivendo o clímax da tecnologia, criando em equipe pensante, inclusive alcançando uma maior longevidade corpórea, porém, cada vez mais, ocasiado pela passagem de fenômenos naturais incontroláveis, sobrevivendo numa encolhida área de terra, os forçando a renascer dos destroços, locupletando-se em minúsculos espaços reconstruídos. Todavia, assim contidos, despontam asas enormes à imaginação futurista.
Intrigados, atentaram para o seu hábito singular : comer peixes crus, e registraram: “talvez, seja esse hábito que os faz adquirir esse QI, acima da média dos demais”, e pautaram :
“ pesquisar a espécie de peixe que comem”...

Outro, vivendo em área bem mais espaçosa demograficamente, com asas contidas à imaginação individual, realizando-se em copiar as idéias do mundo, possuindo um dom mágico de fazer réplicas . Encafuados, normalmente, nem seus bem próximos percebem seus interiores conflitantes, de crises existenciais, com personalidades introspectivas.
Superficialmente, um Luzinha comentou, como que para si mesmo:
- “talvez haja um excesso nominativo de Chings... Chongs...”

Magnetizados, reuniram-se a observar:
Um grupo surreal, que os fazia piscar, piscar, pensativos, refletindo:... “seres barbados, muito cobertos, caminhando lado a lado com outros , totalmente encobertos por panos, alguns tão escuros como se passagens de noites andantes, visualizando-se somente os olhos...”
Imediatamente, pensaram estar diante da essência da espécie, como um esconderijo do tempo. Num impulso de curiosidade, alguns ousaram entrar sob os panos sinistros, mas, surpreendentemente, eram harmônicos aos outros seres femininos do planeta, com uma diferença: dificilmente transbordam suas auras, não conseguem fluir em cores...todo o magnetismo é contido sob a pele.

Impressionados, observaram um grupo, que se não fosse a tecnologia presente, teriam concluído que acabaram de chegar de um longo caminho adverso, como se ainda não houvesse tempo de harmonizar, com lógica, seus destinos individuais, dividindo espaços lotados com os seres de quatro patas, alguns destes, bem superiores em massa física, sendo adorados como sagrados, e não se alimentando deles, como fazem os outros grupos do globo, os preservando para que tenham vida longa, ofertando-lhes comida, até com as próprias mãos.
Luzinhas divertiram-se, tentando acompanhá-los, os de duas e de quatro patas, desviando-se uns dos outros. Milhares, de duas patas, conduzindo, abrigados ou não, dirigíveis de duas, três ou quatro rodas, sendo que alguns lhe pareceram muito primitivos, de tempos idos...
E sendo toda a espécie racional dominante, certos indivíduos continuam carregando outro às costas. .Indiretamente, como que num confronto exposto, da soberba com a humildade. Diante desse perfil controverso, registraram: “Necessário análise física e emocional desse grupo simbiótico: eretos verticais de duas e horizontais de quatro patas..”

Outro grupo, os fez detalhar atenção : o de seres semi-nus, vivendo camuflados nas matas, pintados ou encobertos das penas de seres alados. À noite, caminhando na escuridão, e de dia, quase todos, subindo nas árvores, imitando espécies peludas amarronzados, e estas fugindo deles, que os caçavam, às vezes, para comer. E pensaram, confusos...” talvez sejam obcecados com o sonho de poder voar, daí pousam nos galhos, para observar os alados, e, às vezes, os capturam, defendendo-os contra os peludos amarronzados...
Mas, continuando a piscar, questionaram...”se os peludos não os perseguem, por que capturam os alados, vestindo-se e enfeitando-se com suas penas?!...Será que imaginam serem as penas que os farão voar? ...E concluíram: “Dor de dar pena...“
E diante dos vários sentidos de uma mesma palavra na linguagem, repetiram:
“...apenas... pena... que dá pena...que pena !”.

Na verdade, o que os fez adiar o pouso, foi um sentimento que não mais se lembravam de terem vivenciado e que foi captado pela energia de quase todos os seres do planeta: o medo.
Em todas as culturas e inculturas, diversificadas, observaram um fator comum dominante: predadores vorazes! Comem todas as espécies, animais e vegetais, com uma particularidade ímpar: grupos adoram determinados tipos, dos chamados “bichos”, convivendo com eles, mimando-os com carinhos. Outros, se alimentam dessas mesmas espécies, de “bichinhos de estimação” . Acharam assustador!

E viram milhares de criaturas, matando-se uns aos outros, num acesso de fúria, portando objetos destrutivos de todos os formatos e potências.

Assistiram povos revoltosos, massacrando variedade de vidas, por interesses ou discórdias infundadas, tornando fatias terrestres num cenário de horrores, de corpos e mentes desfacelados, causando milhões sobreviventes de infortúnios e desgraças de toda a natureza, inclusive da própria Natureza, também devastada, obrigando-os a suportarem os sentimentos pulsantes sendo abafados, por não convir revidar o ódio através de mágoas, fazendo despontar, até mesmo uma geração, doentes emocionais.
Estarrecidos, presenciaram seres pequenos, em formação, sendo estuprados ou abandonados, até mesmo por quem os gerou, num choro desvalido, numa fragilidade única, atestando sua total dependência de sobrevivência, mas, paradoxalmente, bastando ter um protetor cuidador, para vivificarem fortalecidos...

Testemunhando, assistiram animais massacrados, num sofrimento extravasado pela dor, sendo toda a natureza terráquea, animal e vegetal enxergada como comestível. A espécie dominante não só empenhada em saciar a fome, mas também em aguçar o paladar degustativo de insaciáveis inconsequentes provadores. E alguns tão primitivos, que, sadicamente, deleitam-se em fazê-los sangrar, saboreando-os ainda semi-vivos...

Contudo, admiraram-se comovidos, observando milhões, cuidando, zelando, acarinhando, sorrindo ou chorando, numa cumplicidade mútua.

Considerando a dimensão do mundo, e a diversidade dos meios, instigados, questionaram...

“Diante da magnitude da morada, seriam essas criaturas experimentos incansáveis, caprichos do Criador, modelando-os em perfeição, a serem futuros deuses magnânimos?!”

Maravilhados, assistiram o amanhecer do dia e o aprofundar-se a noite, contrastando o movimento luzidio no planeta, como se ondulações de ventos sendo visíveis, acompanhadas pelo movimento do mar, e a sintonia afinada de quase todas as espécies. No alvorecer. levantando sob a luz, e deitando-se serenos na ausência, sendo dependentes, submissos seguidores, mesmo que intuitivamente...

Porém, perplexos, presenciaram milhares, similares no comportamento a algumas espécies de quatro patas, na calada da noite ou à claridade do dia, como que caçando-matando, alguns mais raivosos, saciando-se com o cheiro da morte, e outros, inconsequentes sorrateiros, afanando e fugindo com os pertences de outros.

E assim, duvidosos, resolveram estudar em pormenores o que diziam, ficando ainda mais impressionados: milhares de idiomas diferentes, alguns até se comunicando por gestos e sinais. Pasmos, se perguntaram coesos: “como é possível, um mundo com essa incongruência?”...
Contudo, somada à beleza natural do globo, o que mais os comoveu a interagir com a espécie, foi a variedade dos sons musicais: observaram milhões, em grupos ou sós, balançando-se, acompanhando, ou tentando seguir suas notas alegres. Quase em transe, constataram: “a espécie é sonora”. Então, gravaram vários e vários sons, e registraram...”sons, sons, tons, tons, como um pulsar de emoções”.
É fato: quando alguns terrestres viam naves não identificáveis nos céus, em ziguezague, não poderiam supor que eram os Luzinhas se divertindo, acompanhando o ritmo das músicas, assimiladas como preferidas...
Passaram algumas décadas analisando a raça, estudando seu passado, presente, e projetando o futuro. Mesmo assim, ainda não se sentiam totalmente seguros em oficializar nenhuma tese...mas, como a luz não teme a escuridão, resolveram enfrentar o medo, percorrendo o labirinto, e optaram por arriscar o pouso em terra firme.

Estando em paz consigo mesmos, e com o instigante mundo, a primeira escolha do local seria onde uma multidão estivesse reunida, que os vissem e os ouvissem, daí, sobrevoaram recintos arredondados e de chão verde artificial. Aterrisariam no centro, porém, aconteceu que, em estando pairados bem acima ajustando a distância, ouviram gritos e urros, sons ininteligíveis e energias contrastantes, ecoando e interferindo pelos ares...Então recuaram . No entanto, ficaram assistindo o extravasar das criaturas em júbilo ou decepcionados, uns divertindo-se sádicos, e outros sofrendo, em masoquismo. Alguns, bem exaltados, em acesso de raiva, atracando-se ou atacando outros, que, em desvantagem, corriam, ou ficavam inertes sendo pisoteados, indefesos, aguardando serem carregados e socorridos.

Foram obrigados a desistir desse local de pouso. No entanto, muito curiosos em ver de perto o motivo de todo aquele desvario, resgataram algumas esferas-brinquedos, quando estas eram arremessadas com um pontapé muito forte para o alto. A multidão nem deu por falta. O transe era coletivo...Daí, decidiram aterrisar num campo, naturalmente verdejante e ermo, e como primeira atitude em terra firme, os imitaram, correndo atrás de uma das esferas-brinquedos, encobrindo-a com sua própria luz, fazendo-a deslizar e impulsionando-a para o alto, e divertiram-se muito. Um casal avistou ao longe, ficando amedrontados. Botaram logo a boca no mundo: “ Vimos uma bola de luz, até mais de uma, movimentando-se no campo, depois subiam em disparada.”...Mas, ninguém deu crédito, até os vizinhos pensaram que, possivelmente, estivessem manguaçados.

A partir daí, os Luzinhas partiram a pesquisar amiúde, inclusive todos os tipos de bolas, já que, habitualmente, assistiam os terráqueos divertindo-se ou agredindo-se, compenetrados, correndo atrás delas, com os pés ou com as mãos. Inclusive, atentaram para um grupo assustador... Criaturas encobertas de trajes, como armaduras, lembrando seres medievais, tendo um dominante, com sua esfera oval presa sob um dos braços, correndo a afundá-la num buraco suspenso, e os outros o seguindo, e se jogando violentamente, uns sobre os outros, para obtê-la. E refletiram:
“ Com certeza, rememoram como eram no estado mais primitivo, quando imaginavam ser assim o formato da sua terra, ovalada achatada. Disputando-a para si , exibe força sobre os demais, incitando choques uns sobre os outros. Um Luzinha comentou: - Individualistas poderosos, a querem exclusivamente para si, sem partilhar...

.E agiram, a radiografar a vida humana e animal, descobrindo, maravilhados, um órgão comum a todos: o coração! E questionaram...
“ Mas, se todos têm o mesmo órgão sensitivo, como um núcleo que pulsa, emitindo energia para todo o corpo, conectado ao cérebro, como podem pensar diferente, uns dos outros?”

E misturaram-se, analisando auras, e acharam as diferenças. “Como percebiam e agiam, refletia na individual energia e suas nuances de cores, formatando suas estruturas, crenças e hábitos, tradicionais , ou adquiridos ao acaso, até mesmo nos incréus. E os solos onde se fincavam como raízes, férteis ou estéreis e agressivos, a escassez material e a carência afetiva emocional, também, determinavam suas naturezas de percepção, porém, quase sempre passíveis de modificações, para melhor ou pior.
Presenciaram mortes naturais e causadas por traumas. E viram auras tão luminosas, que ao se desprenderem do corpo, logo os avistavam e interagiam com eles, e viram outras tão fracas que, ao se desgarrarem vagavam perdidas no mesmo plano, algumas até incorporavam-se em animais, numa necessidade compulsiva de, apenas, ter um corpo físico.

Acompanhando a evolução, perceberam que a raça crescia assustadoramente, mas, surpreendentemente, nasciam mais no grupo que vive em terras inférteis, sendo que milhares sucumbindo imprecisamente, assim como no grupo que se locupleta sobre montanhas verdes, mas, como estas para serem fortes e ficarem de pé precisam de suas raízes vegetais e o grupo as arrancam, assentando-se no local, quando vêm as tempestades, vários seres são varridos ribanceira abaixo como se fossem galhos secos...
E alguns grupos, conhecidos como animais, inexplicavelmente inteligentes, tentando se defender como podem, enquanto livres de sua predação, mas os que não conseguem, por não terem ou não conhecerem sua força, sofrem calados, e a dor é sentida pela energia desprendida, até à hora de suas mortes...

Indignados, constataram: “não há igualdade de dignidade, nem para os seres pequenos, denominados bebês e crianças; alguns são venerados, até com excessos de riquezas; outros, sem jamais entender o por que, são criados à própria sorte, indefesos; Milhares morrem de fome e de frio duplo, climático e falta de calor humano; E outros, milhares, sendo violentados, até por quem os produziu, perdendo a inocência, amadurecendo abruptamente, tornando-se como frutos imaturos e indóceis e, que não sendo apreciados, são recolhidos do convívio, ou apodrecem e caem, naturalmente. Contudo, sublinharam: “Porém, como acontece aos vegetais, a própria terra os fertiliza, renascendo-os para uma nova colheita...”

Perplexos, também assistiram: grupos em constantes conflitos de crenças e ideologias, levando-os a crer que foram germinados isoladamente. Cada grupo criou seus mitos individuais, sendo que, em um deles, há um raciocínio lógico, no qual se identificaram...” Vieste do pó das estrelas, e ao pó retornarás”... Porém, milhares não aceitam essa teoria, e assimilam como se “retornarás ao pó da terra”, quando deveriam crer em “retornarás ao pó das estrelas”, porque como elas, extinguem-se, e renascem em várias fases de evolução. O pó da Terra que queimou, antes estrela que se apagou, revolucionou, muito revolveu e transformou...

Constataram, que embora houvesse uma tecnologia interna avançada, havia uma disparidade com a evolução interior individual, e nesse desequilíbrio, não atentavam para o mal que causavam à sua morada espacial. Como causa, detectaram uma poluição nociva na atmosfera, daí, pensaram ser esse o motivo, de não sentirem ou agirem coesamente, e concluirem que nenhuma espécie viva sobrevivia sem ar. Então, solidários, resolveram interferir, visto possuirem o conhecimento de como filtrar ares poluídos. No entanto, precisariam executar experiências nos seres vivos.

Antes de prosseguir, reuniram-se num consenso: “Eles têm tudo para serem Divinos D +, porém apresentam muitos D - : Desequilíbrios, Disparates, Desentendimentos, Destemperos, em convívio, desfrutando a Natureza Perfeita.
Dúvida: “Continuamos a levá-los a sério, ou não?” ...

Mais da metade, opinou...” Vamos brincar um pouco...indo...indo...em frente...”

Enumeraram as áreas poluídas, e sem nenhuma seleção prévia, escolheram pessoas, assim como animais. Enquanto dormiam em seu habitat, entravam pelas frestas das portas e janelas, caixas de ar condicionado, buracos de fechaduras. Nos mínimos espaços adentravam, facilmente. Reunidos, formavam um clarão em torno da criatura, a prendiam à cama com amarras na forma de fios magnéticos, dos quais desprendia um ar congelante, fazendo-os ficar no estado semi-morto.

( E desse jeito, sem nenhuma avaliação prévia, me escolheram para testemunhar, contando a história, sendo que, com uma única diferença: me descobriram ao estar escondido atrás de uma porta, acendendo e apagando minha luzinha inconstante, olhando pela fresta ... os assistindo... constantes luzidios. )

Em uma de suas visitas, Luzinhas depararam-se com um fato surpresa: no continente asiático, três criaturas de olhos semi abertos, os de QI acima da média, cochilavam num dormitório de estagiários, de uma conceituada faculdade de formação de astrônomos, que percebendo a real presença alienígena, se propuseram a serem pesquisados espontaneamente, e foram além: expressaram o desejo de serem abduzidos e viajarem com eles. Em situação de emergência , a comunicarem-se pela fala, um segundo alien se posicionou ao lado, era um reprodutor de voz, que respondeu o que lhe ocorreu, diante de uma reação inesperada, por eles não programada :

-Têm cartões de visita?

O trio, olhando um ao outro, já em equipe formada, respondeu, sem aparentar nenhuma emoção:

-Cartão de visita? De que planeta vocês são?

Estando sendo confrontados pela primeira vez, a forma do que posicionava-se à frente alterou. A lâmina tornou-se um T, dilatando-se no traço horizontal e este adquirindo o formato similar a uma amêndoa, refletindo os olhos do terrestre que falava, fazendo-o sentir-se em desconforto, como que confrontando -se com seus próprios olhos.

-Calmamente, o Luzinha respondeu:

-De nenhum. Somos farelo de estrelas. Acontece, que sobrevoando seu continente, e agora aqui, frente a frente, tentando me refletir na incógnita de seus olhos, me dominou um sentimento não identificável, que, na linguagem portuguesa, chamam de saudade...e agora, a sinto.. .”uma saudade não sei de que, nem por que, nem de onde...”, mas... sempre em frente...Se não têm cartões, mentalizem seus contatos, que registraremos, iremos analisar sua proposta de abdução consentida. Apenas uma curiosidade: Por que querem viajar conosco? Talvez, seja só de ida...

-O tempo está nos matando. Reunidos, precisamos conseguir matar o tempo!
-Faz bem, o tempo anda curto, precisam se divertir.

Mais uma vez surpresos, o trio se entreolhou com fria indiferença, e respondeu:

-Não! Queremos encurtá-lo dobrando-o, entende? Com certeza, escondem o jogo, devem passar por vários buracos de minhoca...

-Passamos por todos os buracos, até de fechaduras, os negros espaciais não mais nos atraem, já passamos por todos eles. Nosso tempo agora é universal, infinito...até o fim...se houver. O que querem atravessar é o vácuo negativo...o antes...para sair dele só alcançando peso positivo, igual ou superior, entendes?

-Claro, o vazio que menospreza...o nada... somente pesando positivo, energia pra cima..

-Exatamente! Às vezes, filosofia é mais confiável... Aguardem contato, porém, aceitem nossa logística. Tal e igual aos outros, vai haver o esquecimento de nossas presenças...Arigatô!
E continuaram às visitas. Analisavam toda a estrutura dos experimentados, inclusive, se apresentavam sintomas de doenças. Até as que estavam em formação curavam, e os fortificavam e os faziam retornar à vida, totalmente sadios. Diante da experiência ser feita enquanto dormiam, a maioria não lembrava pormenores, daí pensava ter sido um sonho, ou pesadelo.

Houve um relato de uma jovem, que disse estar semi-acordada, mas não lhe foi dado crédito...
E tendo sido as experiências consideradas um sucesso, resolveram interferir na atmosfera.
Enquanto agiam, sugando e filtrando o ar poluído e o devolvendo purificado, formava-se uma nuvem fuligem sobre a área. Agrupados, emitiam suas luzes de efeitos restauradores. Na primeira impressão, pensava-se estar havendo uma tempestade de raios dentro da nuvem, porém, aconteceu o que os terrestres chamaram de tragédia, e os Luzinhas, de falha! Todos os portadores de coração não resistiram , e não renasceram. Tornaram-se pó terrestre, por não terem sido congelados, como nos testes.

E, frente ao momentâneo “mal resultado”, houve o encontro não programado, quando uma de suas naves, que era um carregador de energia cósmica, foi atingida, em descuido, por um raio terrestre, fazendo-os cair no jardim de uma mansão.



Continua...Fase 3