GRAFFITI - FILHO AMADO - CAPÍTULO 5
GRAFFITI
FILHO AMADO – capítulo V
Nas folhas anteriores, tudo que havia passado com Murilo e Deise estava desenhado, como se tivessem escrito juntos a continuação da estória, como Delano tinha falado. Se o avô visse aquilo, certamente descobriria tudo. Ela tratou de recolher todas as folhas e deixou tudo como estava antes de toda aquela aventura. Depois, voltou para o quarto e tentou dormir. O que demorou um pouco, pois ela estava muito excitada com tudo, mas o cansaço venceu a excitação e ela adormeceu.
Quando acordou, o relógio despertador marcava onze em quinze da manhã. Deise levantou-se assustada e correu até o estúdio. Delano estava lá, trabalhando. Deise parou em pé na porta, olhando para ele aflita.
- Bom dia, princesa! – ele falou, ao vê-la. – Dormiu bastante, hein? Esqueceu do nosso passeio até?
- Acho que eu não dormi direto... Só peguei no sono... de madrugada... ela falou, aproximando-se dele. – O que você está fazendo?
- Continuando “Graffiti”, o que mais? Acho que o mocinho desistiu de bloquear minha imaginação.
- Posso ler?
- Não, agora você vai comer alguma coisa. São mais de onze horas da manhã e você não comeu nada desde ontem. Hora de almoçar! Vem.
Delano cobriu a prancheta, passou o braço em volta de seu ombro e desceu com ela.
À mesa do almoço, Deise quase não comeu nada. Sua mente estava com Murilo, lá no atelier.
- Não está com fome? - Delano perguntou.
- Não...
- Está sentindo alguma coisa?
- Não, estou bem... Cris...
- O que é?
- Como era meu pai?
Delano ficou sério de repente. O assunto não parecia ser bem vindo.
- Por quê? Você nunca se interessou por isso. Nunca perguntou...
- Porque eu tinha medo de te magoar, mas eu queria saber como ele era. Sempre tive essa curiosidade. Ainda mais quando a tia Cora falava que ele era um adolescente como eu...
Delano pensou por um momento e ficou olhando para o garfo em sua mão.
- Ele era justamente isso, Deise, um adolescente normal, cheio... de sonhos, como você.
- Eu me pareço com ele?
O desenhista demorou a responder.
- Não... Você se parece com sua mãe.
- Por que você não teve outros filhos?
- Porque sua avó morreu quando... o Murilo tinha cinco anos e...
- Você tinha só vinte e cinco. Por que não se casou novamente?
- Não queria dar uma madrasta pra ele, nem me envolver com mais ninguém. Mas isso não é assunto para se discutir na hora do almoço, Deise. Vamos dar aquele passeio agora, pra fazer digestão?
Ele se levantou, colocou os pratos sobre a pia e foi apanhar o casaco. Deise o seguiu e foram andar pela praia. Andaram por algum tempo em silêncio e Deise arriscou continuar o assunto:
- Por que meu pai não se casou com minha mãe? – ela insistiu.
- Ela tinha só quinze anos. Era filha de um comerciante muito rico. Murilo e ela namoravam escondido... dele e de mim.
- E por que você não queria o namoro?
- Eu não queria vê-lo amarrado a ninguém tão cedo. Ele era muito jovem, muito inteligente... tão bom desenhista quanto... eu. Tinha um futuro brilhante... Depois... Algum tempo depois ele ficou muito doente e ao levá-lo ao médico, descobrimos que ele tinha... câncer. Leucemia...
- Mais um motivo para deixá-lo ser feliz enquanto podia.
Delano calou-se e parou, olhando para o mar.
- Ele foi feliz enquanto pode... Até você nascer.
Os olhos dele encheram-se de água. Deise abraçou-se a ele, sentindo crescer ainda mais o carinho que tinha pelo avô.
- Vamos dar uma volta pela cidade? – ele perguntou, enxugando o rosto e tentando espantar a depressão. – Preciso comprar mais folhas pra continuar a estória e depois podemos visitar o museu de arte, que tal?
- Eu adoraria! - ela disse com um sorriso.
Deise resolveu que não tocaria mais em assuntos tristes com Delano naquele dia. Não queria que o avô sofresse.
Passearam a tarde inteira e voltaram para casa quase ao anoitecer, cansados, mas felizes.
- Vou fazer alguma coisa pra gente comer, ela falou, indo para a cozinha.
- Milagre! Você na cozinha?
- Hoje é um dia especial.
- Ok. Vou tomar um banho.
Quando ele entrou no banheiro, Deise colocou rapidamente o macarrão no fogo e correu para o estúdio. Olhou para os desenhos na prancheta, mas não viu Murilo. Havia apenas três homens conversando sobre ele. Planejavam contra ele e diziam que acabariam com o rapaz ainda naquela tarde.
Deise ficou aflita. Tinha que avisar Murilo, mas lembrou-se da panela e voltou para a cozinha.
Quando Delano saiu do banho, tudo estava pronto sobre a mesa e a macarronada cheirava bem.
- Que cheirinho de fome! – ele disse, sentando-se à mesa.
Ela sentou-se à sua frente e ficou observando-o servir-se, depois arriscou.
- Cris, o que vai acontecer com o... personagem principal de ... “Graffiti”?
Ele olhou para ela e sorriu.
- Você está muito interessada no rapazinho, não é?
- Quero saber o final dessa sua estorinha. Ele vai morrer também?
Delano respirou fundo enquanto mastigava outra garfada do macarrão.
- Não sei... O que você acha?
- Acho que... ele deveria viver.
- É só um personagem, Deise. Não é um ser humano. Tanto faz se eu o mato ou não. Os leitores gostam de finais trágicos muito mais do que de finais felizes. Isso vende, sabia? Não estamos mais em época de happy ends. Eu escrevo realidade.
- Mas ele me parece ser especial. Você até disse que ele apareceu em sonho pra você.
- Porque ele faz parte da minha imaginação, filha. Todas as minhas ideias geralmente surgem assim. Ele é fruto da minha imaginação, como todos os outros personagens que eu criei. Tenho um editor já interessado na estória e ele quer o final do jeito que eu planejei.
- Você já vendeu a estória?
- Já.
- Mas não pode! – ela falou, levantando-se aflita.
- Por que não, Deise? É disso que eu vivo. O que deu em você?
- Eu... quero essa estória pra mim, Cris!
Delano ficou olhando para a neta com uma ruga na testa, abismado.
- Você tem tomado sol demais na cabeça. Vá pra cama. Durma muito essa noite. Vai te fazer bem.
- Mas, Cris...
- Vá pra cama, Deise! – ele falou enérgico.
A moça não teve outro jeito senão obedecer. Foi para o quarto, jogando-se na cama. Chorando.
Na cozinha, Delano ficou pensativo, tentando imaginar o que teria feito sua neta ficar tão estranha em relação a uma simples estória em quadrinhos.
Ajeitou tudo na cozinha e foi para o atelier. Reviu todos os desenhos, mas não conseguiu achar nada de estranho, nada que pudesse ser diferente de tudo que ele já havia escrito ou desenhado, a não ser aquela sensação forte de que o personagem principal se comunicava com ele de alguma forma, como se quisesse forçá-lo a fazer suas vontades.
Não conseguiu criar mais nada a não ser outra cena em que o rapaz tentava se comunicar com Forças que poderiam ajudá-lo a livrar-se de seus inimigos. Seria o pedido de Deise influenciando sua mente?
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GRAFFITI
FILHO AMADO - CAPÍTULO 5
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
FAZEI DE NÓS INSTRUMENTOS DE VOSSA PAZ!
NÃO PERMITA QUE NOS APARTEMOS DE VÓS
QUE NOSSA SENHORA NOS ABENÇOE
E INTERCEDA POR SEUS FILHOS E FILHAS!
DEUS ABENÇOE A TODOS!
PAZ E BEM!
OBRIGADA PELA VISITA!