SELVA - FINAL
SELVA
FINAL
Sílvio e Aline se casaram ali mesmo na aldeia e continuaram morando na cabana que era do pai dela. Alexandre voltou para casa, uma semana antes do início das aulas na faculdade, mas não demorou muito por lá e no primeiro feriado voltou de mala e cuia.
Sílvio voltava da mata e, quando entrou em casa, o viu sentado à mesa, conversando animadamente com Aline. Ela sorriu para ele.
- Temos visita!
Os dois amigos abraçaram-se forte e demoradamente.
- Que bom te ver de volta, Sílvio disse, emocionado.
- Também acho e dessa vez é pra ficar.
- Como é que é? Você vai ficar? Você enlouqueceu? E a faculdade?
- Quer melhor estudo de Biologia do que estar em contato com tudo isso? Nunca aprendi tanto quanto nessas férias.
- Deixar a civilização e ficar morando no mato...
- Você deixou a civilização e uma família para trás, esqueceu?
Sílvio sentou-se numa cadeira e olhou para Aline, pensativo, colocando a mão sobre a dela.
- Minha família está aqui... Minha mulher e meu filho...
Alexandre olhou para ela e sorriu.
- Filho? Vocês vão ter um filho?
- Vamos. Mas não vai ser um... leãozinho, nem uma aguiazinha ou um tubarãozinho. Será um bebê normal, humano. Uma criança que eu quero que você batize, nós queremos.
Alexandre sorriu.
- Poxa! Isso é demais! Nem sei o que dizer.
- Diga que aceita.
- Claro que aceito! Mas você não acha que é mais um motivo pros seus pais ficarem sabendo que você está aqui, vivo? Eles não merecem ficar pensando que o filho morreu e nem saberem como foi, onde foi... Seu filho vai ficar sem avós e seus pais não vão saber que têm um neto!
- Para! Para, Alexandre! Sabe que você se sai muito bem como médico e como ator dramático também?
- Impressionei?
- Estou quase chorando!
Aline ria.
- É sério, Sílvio.
O rapaz ficou sério.
- O que os olhos não vêem, o coração não sente. Meus pais já devem ter-se esquecido de mim; portanto, não precisam saber que têm um neto.
- Será que não?
A pergunta veio do pai de Sílvio que apareceu por trás da cortina que dava para o quarto. O rapaz olhou para ele surpreso e ergueu-se devagar.
- Pai!
O homem não saiu do lugar. Seus olhos estavam cheios de água. Sílvio aproximou-se dele e o abraçou forte.
Passada a surpresa, pai e filho conversaram muito e Sílvio contou a outra parte da aventura que Alexandre não havia acabado de contar. Ao final da narrativa, Sílvio colocou a mão sobre a do pai e disse:
- É tão bom te ver...
- Por que você não voltou mais pra casa? Por que não avisou nada?
- Eu tive medo.
- Medo?
- É... medo de ver você, ver a mamãe e não ter coragem de ficar. Eu aprendi muito aqui, pai. Queria ver se podia usar essa experiência a minha vida inteira. Se eu voltasse... ia continuar sendo seu filho e herdeiro do seu dinheiro. Depois voltar à faculdade, livros, correria, poluição, problemas que só a civilização tem...
- Conforto... que você decididamente não tem aqui. Você não tem nada aqui, filho.
- Tenho... tenho, pai. Tenho exatamente o que eu preciso ter. A mulher que eu amo, minha liberdade e logo mais terei meu filho. Eu não preciso de mais nada.
- Podia ao menos ter avisado.
Sílvio sorriu e olhou para Alexandre.
- Quando o Alexandre foi embora... de certa forma, eu sabia que ele os procuraria. Eu estava certo. Você está aqui.
- Não vai voltar mesmo?
- Não, pai.
- Nem pra rever sua mãe?
Sílvio pensou, olhou para Aline que sorriu para ele.
- É, talvez... mas você trata de explicar pra ela antes que eu não vou pra ficar. Vou só pra apresentar minha mulher e meu filho pra ela.
- Tudo bem. E meu neto? Vai viver nesse... fim de mundo?
- Não, se não quiser. Eu pude decidir ficar nesse fim de mundo, agora, mas ele vai crescer e quando tiver idade pra escolher, vai poder fazer sua opção e ficar ou ir pra lá e fazer do seu dinheiro o que bem entender. Não vou pensar por ele, como você pensou por mim grande parte da minha vida.
O velho sorriu e concordou. Sílvio olhou para Alexandre e perguntou:
- E você? Vai ficar mesmo?
- Não, eu estava brincando. Quero acabar a faculdade, primeiro; depois sim, resolvo isso. Vá preparando caminho pra mim e cuida da minha cabana. Nas férias que vem estamos aí de novo.
- Pode deixar... Mas você me prometeu...
- Nada de armas! – dizem os dois juntos e todos riem.
Alexandre completa:
- Agora vai ser no máximo a vara de pescar. Isso pode, não pode?
- Vou pensar no seu caso... Sílvio diz sorrindo.
SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA
SELVA - FINAL
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
FAZEI DE NÓS INSTRUMENTOS DE VOSSA PAZ!
NÃO PERMITA QUE NOS APARTEMOS DE VÓS
OBRIGADA POR PODERMOS SONHAR!
DEUS ABENÇOE A TODOS!
OBRIGADA PELA COMPANHIA!
AMANHÃ... GRAFFITI