SELVA - ABISMO - CAP. 13

SELVA

ABISMO – CAPÍTULO XIII

Alexandre e Aline tomaram o caminho da aldeia e, quando estavam já chegando ao povoado, ouviram e viram as pessoas correndo na mesma direção que os dois e logo perceberam ser a da choça em que Aline estava com o pai. Ela apressou-se à frente e perguntou a um dos homens:

- O que foi? O que está acontecendo?

- Seu pai. Há um leão perto da choça dele!

Alexandre e Aline olharam-se como se pressentindo o que estava acontecendo. Correram até lá.

Uma aglomeração de pessoas estava próxima à cabana e um grande leão olhava fixamente para o velho que, imóvel, esperava, pois sabia quem era aquele animal.

- Não! – gritou Aline.

Mas o urro forte do bicho fazia as pessoas se afastarem, até que algum dos pescadores apareceu com uma arma e Alexandre o segurou, antes que ele atirasse.

- Ele vai matar o velho! – disse o homem.

- Espera.

Aline aproximou-se mais do pai e pediu:

- Acaba logo com isso, pai. Deixa ele viver uma vida normal. Pelo amor de Deus, liberta ele. Eu faço o que você quiser! Eu faço o que você quiser!

- Atire nele! – disse o velho, duro como pedra.

- Eu não posso, pai!

- Não há outro meio. E se ele me matar, nunca mais terá outra chance. Sou eu... ou ele. Eu também não tenho nada a perder.

Aline olhou o pai com ódio.

- Se a gente não pode ficar junto de outro jeito, alguém vai ter que matar nós dois, então.

Ela começou a andar de costas e ficou ao lado do leão, ajoelhando-se junto dele, abraçando sua juba.

As pessoas em volta olhavam abismadas e temiam que a fera fizesse alguma coisa para a moça, mas o animal parecia tranquilo, em relação a ela. Apenas olhava para o homem e rugia levemente na direção dele.

De repente, por trás da multidão, um homem apontou a arma para o bicho e gritou:

- Sai daí, moça!

Aline só teve tempo de olhar para trás e erguer o corpo. O tiro que deveria ser para o leão, acabou atingindo ela mesmo que caiu inconsciente.

Houve alvoroço geral. O homem que atirou, ao ver o que tinha feito, fugiu e foi perseguido pelos pescadores. Alexandre correu para socorrer Aline, mas o leão havia se deitado junto dela e impedia qualquer aproximação. O velho bruxo tentou se aproximar da filha, mas a fera com urros amedrontadores o afastava dela. Alexandre se aproximou.

- Sou eu, amigão. Ela precisa de ajuda.

O leão pareceu se acalmar e aos poucos foi novamente se transformando em Sílvio que ajoelhou-se junto dela, chorando.

- Deixa! Deixa ela... – ele disse para Alexandre que se afastou.

Sílvio ergueu o corpo da moça e abraçou-se a ela. Beijou-a com carinho, levantou-se com ela nos braços e a entregou a Alexandre.

- Cuida dela pra mim... Eu tenho que fazer uma coisa...

- O que você vai fazer?

- O que já devia ter feito há muito tempo. Acabar com a vida daquele verme!

Sílvio apanhou a pistola que Aline havia trazido e foi procurar o velho, mas ele havia sumido. Ele foi visto por alguns pescadores entrando pela mata em fuga e Sílvio o seguiu.

A perseguição não durou muito. O velho bruxo acabou chegando à beira do penhasco e viu-se encurralado, pois a única saída dali era o mar lá embaixo. Voltou-se e viu Sílvio olhando para ele.

- Você está livre! – o homem gritou, apavorado. – Não há mais maldição. Não lhe devo nada mais. Minha filha está morta! A maldição estaria quebrada se um de vocês morresse. Me deixa em paz!

- Você me deve um ano de vida, seu velho imundo! E me deve ela, se ela morrer... Ela ainda não estava morta. Você vai pagar tudo que me deve com a sua vida... monstro.

Sílvio levantou a pistola e ia atirar, mas o velho, apavorado, ao dar um passo para trás, caiu no penhasco e estatelou-se nas pedras lá embaixo. O rapaz largou a arma e caiu de joelhos, abaixando-se até o chão e escondendo o rosto nos braços.

Quando a emoção passou, ele apanhou a arma e voltou sem pressa para a aldeia, mas não teve coragem de entrar na cabana onde Aline devia estar. Alexandre apareceu na porta e surpreendeu-se ao vê-lo. Sorriu e foi abraçá-lo.

- Onde você estava?

- O velho está morto...

Alexandre afastou-se dele e olhou-o nos olhos.

- Você... o matou?

- Não, falou ele, jogando a arma no chão bem longe deles. – Ele caiu do penhasco. Eu não toquei nele.

Alexandre respirou fundo, sem saber se ficava contente ou se lamentava.

- E ela? – Sílvio perguntou.

- O tiro foi de raspão. Ela está bem. Não vai entrar para vê-la?

Sílvio negou, balançando a cabeça, hesitante.

- Acabou tudo. Ela mesma disse. Foi tudo um jogo do velho. Ele queria que ela te matasse. Na verdade um de vocês devia dar a vida pelo outro, assim o feitiço estaria quebrado.

- Ela não morreu...

- Porque alguém lá em cima não quer a vida dela pela sua agora. Mas a Aline tentou... e como tentou!

Sílvio sorriu entre as lágrimas.

- Você sempre consegue tornar as coisas tão simples.

- Mas elas são! Entra lá.

- Antes... eu quero te fazer uma pergunta.

- O que é?

- Por que ela foi até o acampamento? E por que estava armada?

Alexandre coçou a nuca e pigarreou.

- Bom... isso não é assunto meu. Ela vai te contar se puder... e se quiser.

Sílvio olhou para ele desconfiado.

- Alexandre, águias não entendem a linguagem dos homens, mas pressentem suas intenções... por isso conseguem se defender numa situação de perigo e atacar ou fugir. A águia que você mandou que fugisse... era um homem antes e esse homem era eu. Por quê? Do que eu tinha que fugir?

Alexandre ficou sério e respondeu:

- De mim...

- De você? Por quê?

O rapaz engoliu em seco, sem conseguir falar. Sílvio aproximou-se mais dele e insistiu:

- Por que eu tinha que fugir de você, Alexandre?

- Porque eu ia... te matar.

Sílvio ficou olhando nos olhos dele sem saber se acreditava ou não.

- Por quê?

Alexandre baixou os olhos.

- Aline me contou que o pai dela disse... a única chance de acabar com o encanto era... atirando em você... com ela estando por perto. De preferência que ela atirasse em você. Aí eu decidi fazer isso por ela, porque ela não teve coragem.

Sílvio não perguntou mais nada. Olhou para ele por mais algum tempo, passou por ele entrou na cabana.

SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA

SELVA

ABISMO - CAPÍTULO 13

OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!

FAZEI DE NÓS INSTRUMENTOS DE VOSSA PAZ!

NÃO PERMITA QUE NOS APARTEMOS DE VÓS

OBRIGADA POR PODERMOS SONHAR!

DEUS ABENÇOE A TODOS!

BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 09/10/2020
Reeditado em 19/04/2021
Código do texto: T7083186
Classificação de conteúdo: seguro
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