SELVA - TENTATIVA FRUSTRADA - CAP. 12
SELVA
TENTATIVA FRUSTRADA – CAPÍTULO XII
Aline voltou para sua cabana, apanhou uma pistola pequena, armou-a e colocou debaixo de sua cama, deitando-se. Não conseguiu dormir nada. De manhã, logo cedo, saiu da cabana sem que pai percebesse e foi encontrar-se com Alexandre na entrada da floresta.
- Pronta? – ele perguntou.
- Não... mas vamos lá.
Junto do acampamento onde Sílvio estava, Alexandre a deixou escondida atrás de umas árvores e foi até ele. O rapaz estava arrumando a mochila. Usava apenas uma das mãos, pois o braço ferido ainda estava apoiado na tipoia. Alexandre estranhou.
- Aonde vamos? – ele perguntou.
Sílvio assustou-se ao ouvir sua voz e apanhou rapidamente a arma que estava ali perto dele, apontando-a para ele.
- Ei, calma! Sou eu!
Sílvio respirou, aliviado, e continuou fazendo o que fazia.
- O que você está fazendo?
- Vou embora aqui, ele disse, continuando a arrumar a mochila. – Não quero passar minha vida inteira sendo caçado nem caçando ninguém.
- Mas... vai desistir da Aline?
- Eu não tenho a Aline. Eu não tenho nada! A única coisa que eu tenho são dois ferimentos quase no mesmo lugar do corpo, conseguidos em menos de uma semana. Longe dela, pelo menos eu posso controlar essa... coisa que me persegue.
- Não pensei que você fosse desistir tão fácil.
Sílvio olhou para ele rapidamente.
- Tão fácil? Você chegou a pouco nessa estória, parceiro. Eu estou vivendo esse inferno há um ano, dois meses e dois dias. Eu não nasci um bicho! Eu sou humano! Tenho inteligência e não só instintos animais. Mais um ano assim e eu vou acabar perdendo essa minha parte humana e passar a agir feito uma fera, farejando e andando de quatro por aí.
Alexandre não soube o que dizer. Sílvio sentou-se no chão e começou a chorar, tocando o ombro que começou a doer com o esforço feito.
- A única coisa que eu fiz de errado foi me apaixonar pela garota errada e pensar que poderia largar minha vida fútil de filhinho de papai e fazer alguma coisa na minha vida que não fosse só gastar o dinheiro do meu pai! E olha aí no que deu! Meio gente, meio bicho, sem poder vê-la olhando pra mim como antes... sem poder... tocá-la... Eu não tenho nada, Alexandre, nada!
- E pra onde você vai?
Sílvio olhou em volta e respondeu:
- Não sei ainda... Mas não vou embora sem antes fazer a única coisa que me resta e que eu posso fazer...
- O quê?
Ele se levantou, ergueu a mochila, apoiando-a no ombro são.
- Você vai ver logo. Volte pra aldeia e pode dizer pra Aline que ainda vamos nos ver mais uma vez. Você ainda vai saber de mim.
- Sílvio, ainda pode haver um meio de mudar essa situação...
- Um meio? – ele perguntou, sorrindo. – Que meio? Você acha que aquele velho vai sentir pena de mim e me devolver a minha vida normal só pro causa dos meus lindos olhos azuis? Ou você descobriu uma poção mágica lá com seus amigos pescadores?
- Não, mas...
- Não posso ficar esperando que a resposta caia do céu, Alexandre. Agradeço a você pelo sacrifício e por tudo que você fez por mim. Nunca vou me esquecer de você, onde quer que eu esteja... Tchau.
Aline saiu da floresta e chamou:
- Sílvio!
Ele ouviu a voz dela e jogou a mochila no chão. Olhou para Alexandre que sorriu.
- Aline... Sílvio murmurou. – Ela... está aqui?
- Acho que sim. Vira as costas e certifique-se você mesmo.
Ele voltou-se e a viu parada ali, não muito longe dele, de cabeça baixa e de olhos fechados para que o encanto não se efetivasse.
Sílvio aproximou-se dela e conseguiu tocar sua mão, depois seu braço, o ombro e seu rosto. O rapaz a abraçou chorando. Afastou-se dela e a fez erguer o rosto. Os olhos dela ainda estavam fechados e ele pediu:
- Olha pra mim, amor...
- Não posso! Não agora...
Sílvio a beijou docemente e pediu novamente:
- Olha pra mim, Aline. Eu quero ver seus olhos pela última vez. Dessa vez é por mim. Olha pra mim, meu anjo.
Ela abriu os olhos e olhou para ele e Sílvio conseguiu por alguns segundos, olhar para os olhos dela até que novamente a águia surgiu em seu lugar e voou, indo pousar, depois de um breve vôo, no braço de Alexandre que também chorava.
- Não, meu Deus! – ela murmurou, chorando.
- Aline, é a sua chance! – Alexandre falou.
Ela apanhou a pistola e apontou para a ave que, inexplicavelmente não voou. Mas ela não conseguiu atirar. Caiu de joelhos no chão e gritou:
- Não posso! Eu não consigo!
Alexandre ergueu o braço e fez com que a águia voasse.
- Vai embora! Sai daqui! Dá o fora! Foge!
A ave voou e desapareceu no céu na direção da aldeia. Alexandre foi acudir a moça.
- Eu nunca vou poder ajudá-lo, Alexandre! Não depois de tudo que eu ouvi ele dizer. Não depois de tudo isso... Não tenho esse direito, mesmo que seja quase meu dever.
- Tenha calma. Vamos voltar pra aldeia. Vamos colocar seu pai contra a parede e... partir pra ignorância.
SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA
SELVA
TENTATIVA FRUSTRADA - CAPÍTULO 12
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
FAZEI DE NÓS INSTRUMENTOS DE VOSSA PAZ!
NÃO PERMITA QUE NOS APARTEMOS DE VÓS
OBRIGADA POR PODERMOS SONHAR!
DEUS ABENÇOE A TODOS!
BOM DIA!