SELVA - O ANTÍDOTO É O AMOR - CAP. 11
SELVA
O ANTÍDOTO É O AMOR – CAPÍTULO XI
Sílvio acordou três horas depois. Alexandre estava sentado ao pé de uma árvore, mastigando a coxa de uma ave. Já era noite e a fogueira era a única luz em volta.
- Boa noite! – falou o rapaz, sorrindo. – Como se sente?
- Vivo... falou Sílvio, colocando a mão sobre o ferimento. – Te devo duas agora.
- Você nem teve febre dessa vez. Dormiu feito um bebê.
- Eu devia estar morto...
- Que é isso, cara? Está perdendo a esportiva? Está com fome? Arrumei abacates na aldeia, quer?
- Você consegue falar em comida até nas horas mais trágicas, não é? – Sílvio falou, sorrindo.
- Saco vazio não para em pé, mesmo que esteja triste.
Sílvio tentou levantar-se e Alexandre correu até ele, tentando impedi-lo.
- Não, não, de novo não! Fica aí bem quietinho, criança.
- Eu não tenho muito tempo, Alexandre. Aquele bruxo vai levar a Aline embora mais cedo ainda. Se ele a levar, não adianta mais ficar vivo ou não. Eu não tenho mais nada a perder. Não aguento mais um minuto desse jeito. Eu preciso vê-la, falar com ela, olhar pra ela como eu mesmo, nem que seja pra virar um rato depois e morrer pisoteado pelos pés do pai dela.
- Calma! O velho bruxo não vai levar a Aline embora tão cedo. Ele é bruxo, mas infelizmente... ou felizmente, não voa. Eles estão esperando um barco que vem até a praia de dois em dois dias. Esse barco veio ontem cedo e só vem novamente amanhã à noite ou no mais tardar ao amanhecer do dia seguinte. Eles não vão sair daqui antes. Tenha calma!
- Como você soube disso?
- Me informando, oras! Eu não sou afobado como você e estive na aldeia enquanto você dormia.
- Você não está na minha pele...
- Eu sei. Sei que você não está em condições de pensar, então deixe isso comigo. Vou acha uma maneira de embrulhar esse seu sogro enfezado que você pretende ter. Confie em mim e... tenha calma. Esperei você acordar pra poder voltar pra aldeia. Não quero que desconfiem que eu estou com alguém aqui. Dá pra ficar bem sozinho e se comportar como um bom paciente?
- Eu não sou criança, Alexandre.
- Não... Eu sei que não é. Eu não teria a coragem que você teve de me deixar tirar aquela seta do seu braço com tanta garra a sangue frio. Cara, doeu em mim, pode crer...
Sílvio sorriu e colocou a mão sã em seu ombro.
- Eu nunca vou poder te agradecer.
- Fale de mim aos seus filhos... sejam eles... leõezinhos... aguiazinhas... ou tubarõezinhos...
Sílvio não conseguiu deixar de rir, mesmo sentindo dor no braço. Alexandre apanhou o rifle e levantou-se.
- Comporte-se.
Com alguma lábia, Alexandre conseguiu um lugar para dormir na choça de um pescador que ia passar a noite no mar. No meio da noite, acordou com os passos de alguém dentro da cabana e segurou com mais força a faca que tinha consigo debaixo no travesseiro.
- Que está aí?
- Sou eu, Aline...
Ele se levantou e acendeu o lampião. Aline aproximou-se dele e estava chorando.
- Preciso de sua ajuda...
- O que houve?
- Eu sei como acabar de uma vez com o encanto que meu pai colocou sobre o Sílvio.
Ele ficou muito interessado e perguntou:
- E qual é o jeito?
- O pior possível. Eu tenho que... feri-lo.
Ela abraçou-se com ele e chorou mais ainda, soluçando muito.
- Feri-lo? Mas como? O cara já está todo ferrado...
- Eu tenho que atirar nele de alguma forma, como fizeram ontem, como se eu o estivesse... caçando. Quando ele se transformar em homem novamente e eu o tocar, tudo se acaba.
- Mas aí ele vai estar morto! – Alexandre exclama.
Ela não disse nada. Alexandre ficou em silêncio por um momento, pensou um pouco e falou:
- Ou talvez não... Feri-lo não quer dizer matá-lo. Você pode... apenas feri-lo de raspão...
- Depois disso ele vai me odiar.
- Se souber do propósito verdadeiro, talvez não! Tenho certeza de que, por você e pra sair dessa, ele se sujeitaria a qualquer coisa. O cara é macho demais e meio doido por você também. Você não faz ideia.
- Mas ele não pode saber da minha intenção. Tem que parecer que eu realmente quero... matá-lo...
- Então... a escolha é sua.
- Eu não sei se posso atirar nele, Alexandre. Seria como ferir a mim mesma.
- É um risco que a gente te que correr, ou você quer que ele viva assim a vida inteira.
- Não...
- Ele vai entender tudo depois. Vamos tentar.
Ela enxugou o rosto, mais calma.
- Como ele está?
- Bem, dentro do possível. Eu retirei a seta que enfiaram nele e está tudo bem agora. Ele está só um pouco deprimido, nervoso, meio fraco, mas está vivo, vai sobreviver. Eu não acho que teria sobrevivido a tudo isso se estivesse no lugar dele. O cara é macho mesmo.
- E eu o amo tanto por isso!
- Não fosse seu pai, ele seria um cara de muita sorte.
Aline sorriu e o beijou no rosto. Alexandre sorriu também.
- Não faça isso outra vez. Seu namorado pode me fazer em pedaço, literalmente falando.
Ela riu.
- Quando vamos agir? – ele perguntou.
- O mais breve possível, ela disse, com o sorriso desaparecendo de seu rosto. – Meu pai quer partir amanhã à noite.
- Peço ao Sílvio que venha até aqui de novo?
Aline levantou-se.
- Não. Ele está ferido ainda... Como eu vou fazê-lo passar por isso de novo, meu Deus? Não sei se vou conseguir...
Ela recomeçou a chorar e Alexandre a abraçou.
- Quando o Sílvio me contou a estória de vocês, ele disse que, ao jogar a maldição sobre ele, seu pai falou de uma... força maior que poderia tirá-lo disso. Essa força maior pode ser a fé. A fé de vocês dois por si mesmos e pelo amor de vocês. Acredite em você e nele. Acredite que vocês não merecem o que estão passando... e que vão conseguir sair disso muito em breve. O amor vence muitas barreiras. Não tem como dar errado. Acho que pode ser um caminho.
Ela enxugou o rosto novamente e respirou fundo.
- Amanhã... quando o sol nascer... eu vou até ele.
- Espero por você na entrada da mata. Eu te levo até lá.
SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA
SELVA
O ANTÍDOTO É O AMOR - CAPÍTULO 11
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
FAZEI DE NÓS INSTRUMENTOS DE VOSSA PAZ!
NÃO PERMITA QUE NOS APARTEMOS DE VÓS
OBRIGADA POR PODERMOS SONHAR!
DEUS ABENÇOE A TODOS!
BOM DIA!