SELVA - TUBARÃO - CAP. 10
SELVA
TUBARÃO – CAPÍTULO X
Pouco antes do anoitecer, Aline aproveitou o cochilo que o pai dava todas as tardes e saiu, indo para a praia. Andou junto da água, sentindo-a debaixo de seus pés e esperou, com a esperança de ver algum sinal de Sílvio.
De cima do penhasco, ele a viu na praia e percebeu que aquele era o momento. Foi para a beira do abismo, olhou para baixo, onde as águas batiam fortes no rochedo e pulou. Durante o pulo, seu corpo transformou-se no de um peixe: um enorme tubarão.
Na praia, Aline sentiu a presença do animal e começou a entrar na água. O animal aproximou-se dela e nadaram juntos por algum tempo, o tempo de alguns pescadores verem a cena e gritarem:
- Tubarão! Tubarão atacando a moça! Tubarão!
Aline ouviu os gritos e pressentiu o perigo.
- Fuja! – gritou para o animal. – Saia daqui, rápido! Eles podem matar você!
Vários homens já haviam se armado de arpões e atiravam no peixe, enquanto outros atiravam na água tentando não atingir Aline, que implorava que eles parassem. Mas ninguém a atendia, tão apavorados estavam com a eminência de algo pior acontecer com ela. Até que um dos atiradores conseguiu atingir o bicho e ela gritou desesperada:
- Sílvio! Não, não o matem, por favor!
Os homens pararam de atirar. Ferido, o tubarão nadou até a praia e parou, deitado na areia. Alexandre tinha visto toda a cena e correu até perto da água.
De repente, o corpo do peixe se transformou em outro animal. Um leão, que parou, olhando para ela e fugiu para longe dali, ferido também.
Um dos homens ainda levantou o rifle para atirar nele, mas Aline o impediu, forçando-o a abaixar a arma.
- Não! Chega! Deixa ele em paz!
- Como pode isso, moça? A senhora viu. O peixe se transformou num leão. Isso não é coisa de Deus não!
Todos em volta estava perplexos com o que tinham visto. Aline correu até Alexandre e pediu, chorando:
- Vai atrás dele... Ele está muito ferido! Por favor, vá ajudá-lo!
- Fique calma. Eu vou e volto com notícias.
Ele sai correndo na direção da mata. Aline viu o pai em pé, não muito longe dali, perto de sua cabana. O rosto dele tinha uma segurança maligna e um sorriso perverso que a fez tremer.
- Até quando vai durar isso, pai?
- Ele me desafiou. Teve o que mereceu.
- Não vou seguir você a lugar nenhum mais. Prefiro que me mate! Acabe logo com isso e me mate de uma vez!
- Você tem nas mãos a salvação dele.
- Como?
- O encanto será desfeito se você atirar nele, quando estiver transformado num animal.
- Atirar nele...? Matá-lo? Eu?
- É o único meio. Faça isso e seu amado estará livre da maldição... pra sempre. Depois de ferido, você vai vê-lo novamente como homem e aí tudo estará terminado.
Dizendo isso, o homem entrou novamente na cabana. Aline olhou para o mar e chorou mais ainda, sem saber o que fazer.
Ao chegar ao acampamento sobre o penhasco, Alexandre encontrou o amigo deitado sobre a grama, com a seta do arpão cravada no ombro, ainda consciente.
- Oi, cara... Como você está? – Alexandre perguntou, examinando o ferimento como se fosse nele mesmo.
- E ela? E a Aline?
- Assustada. Mas vamos primeiro tratar de tirar essa coisa de você. Vou fazer fogo... pra esterilizar minha faca. Fique quieto.
- Não precisa de faca... É só puxar. Eu tentei, mas não consegui...
- Você está doido!? Não vou fazer isso. Vai acabar com você. Prefiro fazer do meu jeito. Fica calminho aí.
Alexandre juntou gravetos e improvisou uma fogueira com que esterilizou sua faca. Depois colocou água para ferver e alguns pedaços de pano que tinha na mochila.
- A gente não tem anestesia...
- Já falei, é só puxar a seta, Alexandre... Sílvio disse, quase perdendo os sentidos pela dor.
- Vai ter que ser a seco. Você não vai aguentar... nem eu...
- Com isso no braço é que eu não posso ficar. Vá em frente. Anda logo com isso!
- Seria legal se você desmaiasse, como da outra vez.
- Infelizmente não estou com vontade, Sílvio falou, conseguindo até sorrir.
- E se eu te der um soco?
- Você é o médico aqui... Não vai doer mais do que isso.
- Você tem muita coragem, sorte sua que eu não tenho tanta assim. Não posso te bater...
Alexandre rasgou a camisa dele no local do ferimento e respirou fundo.
- Vai! – Sílvio mandou. – Puxa logo!
- Eu não tenho coragem! Isso vai doer pra burro!
- Vou tentar não xingar sua mãe! Anda logo, cara!
Alexandre apanhou um pedaço de madeira, limpou-o e colocou na boca de Sílvio para que ele mordesse. Segurou a seta com as duas mãos e pediu:
- Fecha os olhos.
- Chega de frescura, cara! Anda logo com isso, pelo amor de Deus!
- Você quer fechar os olhos! Eu fico nervoso com você olhando pra mim, caçamba!
- Você é que está me deixando nervoso!
- Anda, cara, fechas os olhos!
- Para com isso! – Sílvio gritou.
Junto com o grito, Alexandre arrancou a seta e o rapaz gritou de forma tão dolorida que Alexandre começou a chorar. Sílvio desmaiou em seguida e Alexandre ficou algum tempo sentado no chão, tentando de acalmar com a seta na mão. Segundos depois, depois que parou de tremer, jogou a seta longe e procurou colocar o amigo em posição mais confortável ali mesmo onde estava deitado e fez todo o curativo no ombro dele, ainda muito abalado. Quando terminou tudo, deitou-se ao lado dele e procurou descansar.
SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA
SELVA
TUBARÃO - CAPÍTULO 10
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
FAZEI DE NÓS INSTRUMENTOS DE VOSSA PAZ!
NÃO PERMITA QUE NOS APARTEMOS DE VÓS
OBRIGADA POR PODERMOS SONHAR!
DEUS ABENÇOE A TODOS!
BOM DIA!