SE EU TENTAR ATACAR VOCÊ... ME MATA ANTES - CAP. 8
SELVA
SE EU TENTAR ATACAR VOCÊ... ME MATA, ANTES – CAPÍTULO VIII
Os rapazes arrumaram roupas e suprimentos para a viagem em duas mochilas e saíram a caminho do litoral norte, seguindo sempre a margem do rio. Andaram muito por várias horas até chegarem às rochas, junto ao mar.
De onde estavam, conseguiam ver o mar quebrando lá embaixo, na base de um penhasco de mais ou menos trinta metros de altura. Viram também, não muito longe dali, uma aldeia de pescadores.
- Eles devem estar ali, falou Sílvio.
- Instinto novamente?
- Ele não faz questão de se esconder de mim, tanto que mandou o homem me avisar. Isso faz parte da trama. Não saber onde Aline está tornaria tudo mais difícil pra mim e haveria a possibilidade de eu desistir da busca e ele não quer que eu desista. Minha caça agora é ele...
- Nunca vi nada igual. Que sogro enfezado que você vai ter, hein?
- Se depender de mim, vivo ele não vai ser meu sogro nunca. Eu mato ele primeiro.
- Não diz besteira, falou Alexandre, desfazendo a mochila. – Ele é mau, mas é o pai da garota que você ama e você tem que pensar nela agora. Vamos acampar aqui. Parece seguro. Dá pra ver a aldeia e não ser visto. Eu vou descer até lá, daqui a pouco. Talvez tenha alguém que saiba dos dois.
- Tenha muito cuidado com ele, Alexandre. Se ele descobre que você está comigo...
- Me transforma numa lagartixa... Alexandre continua, sentindo gastura de novo e se encolhendo todo. – Não, eu posso não ser bom de mira, mas sei correr quilômetros quando estou com medo.
- Como você consegue brincar com isso?
- Você não falou que quer ajuda? Vamos tirar você dessa, você vai ver. E, se o velho fizer o mesmo comigo... você terá companhia vitalícia! - brincou ele. – Sempre tive vontade de voar, mas morro de medo de avião. Pelo menos terei minhas próprias asas.
Sílvio sorriu.
Fizeram uma fogueira e comeram uma refeição simples feita por Alexandre que já tinha se declarado o cozinheiro da dupla.
- Qual a sensação? – Alexandre perguntou, enquanto mastigava uma banana.
- Do quê?
- De voar.
Sílvio sorriu e ficou pensativo.
- Sabe que eu nunca parei pra pensar nisso? Todas as vezes que me transformei em águia, eu estou tão focado em qualquer outra coisa que não chegou a parar pra curtir a experiência.
- Mas você não é nem um pouquinho de você, depois que se transforma?
- Não sei... Eu posso... reconhecer lugares, pessoas, mas não tenho as mesmas sensações humanas quando me transformo. É o mesmo que perguntar a uma águia o que ela sente quando voa. Ela nunca vai poder te responder na sua linguagem. É... instintivo. Natural.
- Quer dizer que você... não é você quando está transformado.
- Não sei te explicar. Os meus instintos se modificam, acho que é isso.
- Então... você pode atacar uma pessoa, enquanto estiver na forma de um leão por exemplo, se ela o atacar, mesmo que você, homem, não queira.
Sílvio pensou e respondeu:
- É... acho que sim, mas isso faz parte do instinto de qualquer ser vivo. Tudo que é vivo reage de uma forma a qualquer forma de ataque. Até as plantas fazem isso, mesmo que o dono do vaso onde ela está não lhe dê água, ou corte alguma parte dela que não devia... ou a deixe no sol em demasia. A reação dela, mesmo que não seja para atacar, vai ser morrer. De certa forma é uma reação contrária.
Alexandre ficou em silêncio. Sílvio percebeu no que ele estava pensando.
- Você basicamente está pensando se eu o atacaria também, não é?
O rapaz olhou para ele sem responder.
- Não, acredito que não. Mesmo um animal irracional tem memória afetiva, mais do que um humano. Basta ele sentir que não há medo ou violência nas atitudes da pessoa, basta ele já ter sentido... o mínimo de afeto por parte dela... Você é a primeira pessoa com quem eu tenho contato direto em um ano, além da Aline. A primeira pessoa que... não fugiu de mim.
- Eu tentei te matar...
Sílvio riu e colocou a mão sobre seu ombro.
- Mas me salvou logo em seguida. Mesmo uma ave não esquece quem lhe devolveu a vida depois de um ferimento tão grave quanto um tiro de caçador. Eu nunca fiz nada com a Aline, porque dentro de mim, qualquer animal que eu seja, vai saber que eu a amo. Acho que não faria nada com você.
Foi a vez de Alexandre sorrir aliviado. Sílvio concluiu:
- Se por acaso eu... estiver enganado e... atacar você numa dessas mutações... por favor, me mata antes.
O rapaz sentiu o peito doer pela emoção e levantou-se.
- Eu vou descer até a aldeia. Te cuida.
Afastou-se, entrando no mato.
SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA
SELVA
SE EU TENTAR ATACAR VOCÊ... ME MATA ANTES - CAPÍTULO 8
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
FAZEI DE NÓS INSTRUMENTOS DE VOSSA PAZ!
NÃO PERMITA QUE NOS APARTEMOS DE VÓS
OBRIGADA POR PODERMOS SONHAR!
DEUS ABENÇOE A TODOS!