SELVA - MALDIÇÃO OU ANTÍDOTO -CAP. 6
SELVA
MALDIÇÃO E ANTÍDOTO – CAPÍTULO VI
De volta à cabana, Sílvio tirou as roupas molhadas
e colocou outras secas que Alexandre lhe emprestou e depois de uma pequena refeição, disse:
- Eu sinto que eles não vão ficar muito mais tempo por lá. Se o velho for embora com a Aline, eu vou ter que segui-los.
- Eu vou com você.
- E vai deixar sua cabana?
- E daí? Ela não foge. Está aqui há dez anos, desde que meu pai a construiu. Quando minha mãe morreu, ele veio pra cá e me deixou com uma tia. Depois eu larguei tudo lá também e vim ficar com ele. Até que ele morreu também, há dois anos.
- Você mora aqui sozinho?
- Não. Estou de férias. Faço Biologia na USP. Passo aqui os dois meses de férias pra evitar aquela poluição de São Paulo, sabe como é... Recarregar as energias.
- Caçando...?
- É... Até conhecer você.
Sílvio sorriu.
- E você? Tem família?
- Tenho. Meus pais moram no litoral, a alguns quilômetros daqui. Meu pai é dono de uma madeireira, perto de Ubatuba.
- Então você é rico.
- Era... Não sei se sou mais. Depois de um ano desaparecido... acho que ninguém vai deixar nenhuma herança pra mim.
- Eles pensam que você está... morto?
- Acho que sim. Eu pensaria. Eu vim pra cá em férias também como você. Vim com um amigo. Aí, aconteceu tudo aquilo e... ele foi embora com medo e imaginando que eu tivesse sido... devorado pelo leão que viu quando eu desapareci... As férias acabaram e acho que... quando viram que eu não voltava, mandaram vasculhar tudo por aqui. Cheguei a ver a polícia costeira procurando por mim em toda a parte.
- E por que você não se deixou encontrar? Por que não contou tudo pra eles, a seus pais?
- E virar notícia de jornal? Me transformar numa... aberração da natureza? Eu nunca mais teria paz e perderia pra sempre a chance de reencontra Aline. Meu pai iria querer saber quem fez isso comigo e provavelmente o mataria, se conseguisse encontrar o velho. Aí eu estaria perdido mesmo. Eu preferi sumir e deixar que eles me dessem como morto e parassem de me procurar. Joguei algumas das minhas roupas no rio, com a mochila e agora... devo estar mesmo afogado lá. Deve haver algum mausoléu simpático com meu nome no terreno da família. É a cara do meu pai.
- Lamento... Mas você disse que seu amigo o viu transformar-se. Ele deve ter contado isso pra alguém.
- Não acredito muito. Se ele contou, você acha que alguém acreditou? Em pleno século vinte? Deve ter sido mais fácil pensar que eu fui comido pelo leão e que, o que ele viu, foi o bicho me atacando. E quando encontraram minhas roupas no rio, que eu tivesse me jogado nele, não consegui nadar pelo medo e me afoguei... Eles foram até a minha cabana e não viram nada que indicasse sangue ou ataque animal. E se ele contou... foi depois que viu que eu não voltava, o que eu não acredito muito.
- Se você descobrir o que pode te curar, vai voltar pra casa?
- Não sei... Eu estou há um ano aqui. Aline nunca morou em cidade nenhuma... Ela sempre viveu na floresta. Se eu conseguir me livrar daquele... maldito bruxo... talvez nosso lugar seja aqui mesmo. Apesar de tudo, eu gosto daqui.
- Deve haver uma solução pra isso, cara. Você mesmo falou que o velho disse que você viveria assim até uma força maior mudasse isso, não foi?
Sílvio confirmou.
- É só descobrir qual é essa força maior. Deve haver alguém que tenha nas mãos o mesmo poder que ele tem, mas possa ser usado para o bem, como ele usou para o mal.
Sílvio ficou olhando para ele e sorriu.
- Isso tem lógica. O que você é? Alguma espécie de Indiana Jones?
- Não, mas tenho assistido muitos filmes de Spielberg. E depois de conhecer você... Será que ele não se baseou em você pra escrever as loucuras que escreve?
Ambos riram.
- Faz sentido, até gostaria que isso fosse verdade, mas não... minha vidinha maluca nunca saiu dessa mata, infelizmente.
Sílvio respirou fundo e voltou a terra.
- Quem poderia ter o mesmo poder que aquele velho maluco?
Levantou-se e começou a andar pela cabana, pensativo. Alexandre também pensava, até que Sílvio virou-se e disse num sopro de voz:
- Aline!
- O quê?
- A Aline! Ela é filha dele! Deve ter também a mesma força.
- Mas como ela poderia te salvar, se é ela quem carrega a maldição?
- Ele a faz fazer isso... Deve haver um modo de... quebrar a maldição, sendo ela mesma o instrumento.
- Mas como?
- É... Como? – Sílvio perguntou desanimado.
Depois de um breve silêncio, Alexandre resolveu animar o ambiente.
- Escuta, cara, não vamos pensar mais nisso hoje. Você sabe atirar com arco e flecha?
Sílvio sorriu e respondeu:
- Sei...
- Quer apostar pontaria comigo?
- Com que alvos? Águias?
- Não, colega, calma... Não serão animais, pode ficar sossegado.
SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA
SELVA
MALDIÇÃO E ANTÍDOTO - CAPÍTULO 6
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
FAZEI DE NÓS INSTRUMENTOS DE VOSSA PAZ!
NÃO PERMITA QUE NOS APARTEMOS DE VÓS
OBRIGADA POR PODERMOS SONHAR!
DEUS ABENÇOE A TODOS!
BOA TARDE!