SELVA - AMOR QUE ENFEITIÇA - CAP. 4
SELVA
AMOR QUE ENFEITIÇA – CAPÍTULO IV
Sílvio começou seu relato.
- Do outro lado do rio mora um velho, um nativo do lugar. Ele tem uma filha e.... eu a encontrei um dia, durante uma caça. Eu não conhecia ninguém por aqui e nós ficamos amigos. Todos os dias nós nos encontrávamos deste lado do rio e... bem, a gente acabou se apaixonando. Ela tentou me convencer a não caçar mais, mas eu não liguei. Falei que era bobagem, que a caça não era proibida por aqui e ela acabou desistindo. Mas era estranho porque... quando eu estava com ela, não pensava em mais nada, senão nela. E se ela estava longe... e eu pensava nela, perdia a vontade de caçar. Nossos encontros duraram pouco mais de um mês, até que uma tarde o pai dela apareceu. Era o velho mais estranho que já tinha visto na vida. Disse que não queria mais que eu visse ou encontrasse com a filha dele. Perguntei os motivos dele e ele não disse. Só falou que, se eu insistisse, ia me dar muito mal. Disse ainda que ela não era pra mim.
- E você não obedeceu.
- Você obedeceria?
- Se a gatinha estivesse a fim de mim também, claro que não! Ela valia a pena?
- Muito... Ainda vale. Ela é a coisa mais linda que eu já vi.
- Bom, pelo que eu acho que ainda vem por aí nessa estória... é por isso que o pai dela é tão zangado... Continua. Ela te amava como você a ela?
- Amava... ama... mas na época eu não tinha ideia de onde a maldade dele podia chegar. Continuamos nos encontrando escondido e, um dia, ela mesma falou que seria melhor se nós nos... afastássemos mesmo, porque o pai dela estava fazendo ameaças sérias a ela. Eu sentia que havia algo estranho no modo que ela falava do pai, mas achei que fosse só um medo normal, medo misturado com o respeito que ela tinha pelo velho. Ela não tinha mais ninguém a não ser ele. Mesmo assim, eu insisti em continuar me encontrando com ela. Eu atravessava o rio a nado pra ir vê-la.
Sílvio parou de falar para respirar e sentou-se na cama.
- Uma tarde, eu estava esperando por ela do outro lado do rio, na margem onde costumávamos nos encontrar e ele apareceu no lugar dela... Pode até parecer bobagem, mas eu nunca senti tanto medo de um homem, como quando o vi. Ele falou que era a última vez que eu respirava como ser humano. Pensei que ele fosse me matar, mas eu não vi nenhuma arma nas mãos dele. Não tinha nada nas mãos. Fiquei sem saber o que fazer, se atirava nele que estava desarmado, ou se esperava pra ver se ele me atacava primeiro. Resolvi esperar, afinal, ele era um velho. O que eu vi depois... acho que nunca mais vou esquecer. Os olhos dele ficaram brilhantes e vermelhos como dois rubis... como duas... bolas de fogo. E olhavam pra mim fixos de tal forma que não conseguia desviar os meus. Isso durou apenas alguns segundos, até que eu caí de joelhos no chão, tonto. As minhas pernas pesavam como chumbo e meus olhos ardiam feito brasa. A última coisa que eu ouvi ele dizer foi que... eu só poderia ver a filha dele... como um animal, como os que eu caçava, até que uma força maior mudasse isso.
Os olhos de Sílvio estavam cheios de água. Ele levantou-se e foi até a janela para tentar conter a emoção.
- Ele... foi embora do mesmo jeito que veio e eu não o vi mais. No início, pensei que aquilo fosse só um truque dele pra me assustar, pra me afastar dela. Quando a sensação esquisita passou, eu levantei dali e fui embora. Deitei na minha cama e dormi a tarde inteira, parecendo que eu tinha levado uma surra. No dia seguinte, ela não apareceu novamente e eu resolvi me aproximar da cabana deles. Estava a uns dez metros da casa quando ela apareceu na porta. Ela me viu e gritou pra eu ir embora dali... Eu senti meu corpo todo pesar e doer, senti tudo rodando em volta e não sei de mais nada depois disso. Foi como num sonho. Eu via tudo, mas a única coisa que conseguia fazer era fugir... e eu fugi. Eu corria, mas não parecia estar correndo com meu corpo, alguma coisa corria por mim, comigo dentro... não sei. Quando estava já perto da minha cabana, perdi os sentidos e quando dei por mim, estava deitado no meio do mato. Já não sabia como tinha chegado lá. Só descobri depois, por um amigo que de vez em quando caçava comigo. Ele disse ter visto um leão se aproximar da cabana correndo e... quando ajeitou o rifle para atirar, o bicho... se transformou em mim.
Alguns segundos de silêncio caíram pesados na cabana. Alexandre não sabia o que dizer, tão emocionado e espantado estava.
- É... a estória mais incrível que eu já ouvi... Se eu não tivesse visto... não acreditaria... Quer dizer que você não pode ver a sua gata nunca mais?
- Como homem, não. Eu posso vê-la, posso olhar pra ela... mas quando ela olha pra mim, a mutação acontece. Ele lançou a maldição sobre a própria filha, pra me afastar dela.
- Mas como você conseguiu fazer isso... aqui?
- Isso eu descobri um tempo depois. Eu estava desesperado e só pensava em matar aquele maldito velho... e queria fazer com as armas dele. Queria acabar com ele como um bicho, o monstro que ele criou... Fechei os olhos e pensei nela olhando pra mim, na porta da cabana... e me transformei... sem querer. Depois tentei outras vezes e vi que podia fazer a coisa, sozinho. Notei também que posso tomar a forma de qualquer animal, quando quiser. Só não posso evitar que isso aconteça quando estou perto dela.
- E já tentou atacar o velho numa dessas mutações?
- Já, mas alguma coisa dentro de mim diz que eu não posso matá-lo. Enquanto eu não descobrir o que pode me curar disso, ele não pode morrer. Só ele sabe como quebrar o encanto ou a maldição, sei lá... Eu preciso dele vivo... ironicamente.
Alexandre respirou fundo e coçou a cabeça.
- Que situação, cara. Não queria estar na sua pele.
- Vai me ajudar?
- Como?
- O amigo que estava comigo ficou com medo e voltou pra civilização. Eu estou totalmente sozinho aqui e não posso voltar pra lá com essa maldição em cima de mim.
- Mas você não disse que só se transforma quando quer? Não há perigo.
- Acontece que eu não quero deixar a minha garota com esse bruxo aqui. Ele a transformou em prisioneira dele e eu tenho certeza de que ela deve saber como quebrar a maldição. Tenho a sensação de que ela quis me avisar várias vezes, quando eu quis me aproximar, mas ela não conseguia falar comigo. Ele não a deixa mais sair pra muito longe e a prende na cabana deles. Além disso, ele está levando a filha de um lado a outro da mata pra fugir de mim, como seu eu tivesse que caçá-lo pela floresta inteira. Além do fato de que eu a amo. Preciso acabar com isso e tirá-la dele de uma vez por todas. Nem como um animal eu consigo me aproximar dela mais. Há sempre caçadores aliados dele que quando sentem a minha presença, me atacam quando eu tento me aproximar. Como homem, não corro nenhum perigo, mas como animal, eu posso morrer a qualquer momento, se tentar me aproximar dela.
- E como eu posso te ajudar?
- Se você estiver por perto... bem, seremos dois e não um.
- Contra um cara que pratica magia negra.
- Você não vai ter que se arriscar em nada, nem eu quero isso, mas eu preciso... de... apoio. Eu não sei mais o que fazer.
Alexandre percebeu o desespero do rapaz e resolveu aceitar o desafio.
- Conta comigo, cara. Isso aqui estava ficando mesmo muito monótono e eu adoro uma aventura.
Sílvio sorriu.
- Não é uma aventura só. É muito perigoso, mas eu vou tentar deixar você longe do perigo o máximo possível.
- Desde que ele não me transforme numa lagartixa... Odeio lagartixa...
Alexandre de arrepiou inteiro e massageou os braços com a gastura, fazendo uma careta. Sílvio riu dele.
SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA
SELVA
AMOR QUE ENFEITIÇA - CAPÍTULO 4
OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!
FAZEI DE TODOS NÓS INSTRUMENTOS DE VOSSA PAZ!
NÃO PERMITA QUE NOS APARTEMOS DE VÓS
OBRIGADA POR AINDA PODERMOS SONHAR!
DEUS ABENÇOE A TODOS!
BOM DIA!