SELVA - O ESTRANHO - CAP. 2

SELVA

O ESTRANHO – CAPÍTULO II

Ei! – gritou Alexandre, correndo e segurando o fugitivo.

– Onde é que você pensa que vai, cara?

Não precisou fazer muito esforço para trazê-lo de volta para a cama. Muito fraco, por ter perdido muito sangue, ele voltou a deitar-se.

- Por que você ia fugir? Eu não vou te fazer nada.

- Eu não roubei sua águia. Me deixa ir embora.

- Claro, eu acredito que você não roubou, mas está machucado. Foi um tiro e tanto que você levou aí. Um pouquinho mais pra baixo e você já era, sabia?

- Ainda vou ficar te devendo a vida...

- Que é isso, cara? Isso é papo de índio, falou Alexandre, rindo. – Como você está se sentindo?

- Tonto...

- Também pudera! Quer sair correndo de muletas! Quer água? Acho que agora já pode.

O rapaz balançou a cabeça, aceitando. Alexandre apanhou a moringa e colocou um pouco de água numa caneca, entregando a ele.

- Bebe devagar.

Ele obedeceu e devolveu a caneca, enxugando a boca com as costas da mão.

- Meu nome é Alexandre. E o seu?

- Pra que você quer saber?

- Bom, isso é o que as pessoas civilizadas fazem quando se conhecem. Dizem seus nomes para que se conheçam melhor. Cara, você é sempre enfezado assim ou é só quando leva um tiro? Você parece muito jovem pra isso. Eu não vou te fazer nada, já disse.

O rapaz parece que relaxou ao ouvi-lo falar com tanta naturalidade. Respondeu:

- Meu nome é Sílvio.

- Muito prazer, disse Alexandre sorrindo. – Você mora por aqui?

- Não...

- Quem atirou em você?

Sílvio não respondeu.

- Polícia? – tentou Alexandre, vendo que o rapaz continuava arisco demais para se abrir com ele.

Outra vez nenhuma resposta.

- Tudo bem. Deixa eu adivinhar. Você está fugindo da polícia, estava com fome, roubou a minha águia e eu te peguei no pulo, certo?

- Eu não roubei a sua águia! Não estou fugindo da polícia e se você me deixar ir embora, eu vou ficar muito agradecido, mais do que estou por você ter salvado a minha vida.

Sílvio ia levantar-se novamente e Alexandre o pegou pelo colarinho da camisa, forçando-o a deitar-se novamente.

- Se você tentar sair dessa cabana, ferido como está, vai ficar com dois buracos, porque eu vou te dar outro tiro no seu traseiro, está ouvindo?

Sílvio sentiu vontade de rir, mas permaneceu sério, olhando para ele. Alexandre estava realmente decidido e ele resolveu obedecer, relaxando.

- Assim é melhor. Não faço mais perguntas, mas fica quieto aí. Você vai acabar morrendo de tanto sangrar, se sair andando pela mata agora. Trate de dormir. Amanhã cedo você resolve o que fazer da vida, ok?

Sílvio não tinha opção. Parou de pensar, relaxou o corpo, pousou a cabeça no travesseiro e adormeceu em poucos minutos, exausto e com ombro doendo levemente.

Na manhã seguinte, Alexandre acordou e o viu ainda adormecido. Morto de cansado por ter dormido no chão, levantou-se e saiu para esticar o corpo fora da cabana.

O dia estava lindo e o sol já ia alto. Apanhou alguma lenha e tratou de preparar alguma coisa para comer no fogãozinho que tinha na casa.

Sílvio parecia realmente estar muito fraco e cansado, pois dormiu até o meio-dia, mesmo com todo barulho que Alexandre fazia para cozinhar. Não era tão habituado a prendas domésticas. Essa era a única coisa que não tinha aprendido com seu pai.

Quando Sílvio abriu os olhos, o viu fritando alguma coisa no fogãozinho a lenha. Alexandre olhou para ele e sorriu.

- Bom dia! Vai um bifinho a passarinho aí? Sai já.

O rapaz sentou-se na cama com dificuldade e sentiu uma pontada do ferimento.

- Ainda dói?

- Um pouco...

- Fica deitado. Não tem escola hoje...

O rapaz sorriu de leve, olhando para ele. Meio desajeitado, Alexandre passou o bife para um prato de estanho e o colocou sobre a mesa. Depois colocou duas porções de arroz, pegou uma colher e foi levar o prato até o doente.

- Come. Não é comida de restaurante, mas eu sobrevivi até agora.

Sílvio negou, balançando a cabeça.

- Que é? Tem medo que eu te envenene? Já te falei que não há perigo. Coma! Está bom. Vai te fazer bem. Você precisa comer alguma coisa. Perdeu muito sangue.

- Eu não como carne.

- Não come carne? – perguntou ele decepcionado.

- Não... desculpe.

- E o que você come? A gente está morando meio longe da quitanda. Temos muito mato em volta, mas não sei fazer salada de eucalipto ou de urtiga. Estamos sem azeite...

- Eu não estou com fome, obrigado. Não quero nada. Você falou que de manhã eu poderia fazer o que quisesse da minha vida. Quero ir embora.

Alexandre ficou olhando para ele desapontado. Foi colocar o prato novamente sobre a mesa.

- Tudo bem. Você é livre. A porta está aberta.

Sílvio ergueu-se da cama e colocou a mão sobre o ferimento que doía muito.

- Obrigado por tudo. Você foi muito legal. Não vou esquecer.

- Disponha. Posso pelo menos saber pra onde meu paciente vai?

- Eu tenho uma cabana como essa do outro lado do rio.

- Do outro lado do rio? Poxa! Mas é longe pra burro! Você vai a pé?

- Eu me viro.

Alexandre balançou a cabeça, achando aquilo tudo uma loucura.

- Tchau, despediu-se Sílvio, saindo da cabana.

Alexandre ficou observando o rapaz enquanto ele se afastava, até que ele sumiu por entre as árvores. Depois entrou na cabana e comeu ele mesmo e com gosto, o bife que tinha preparado.

SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA SILVIO SELVA

SELVA

O ESTRANHO - CAPÍTULO 2

OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!

FAZEI DE MIM UM INSTRUMENTO DE VOSSA PAZ!

NÃO PERMITA QUE EU ME APARTE DE VÓS

OBRIGADA POR EU PODER SONHAR!

SONHAR AINDA É DE GRAÇA!

Velucy
Enviado por Velucy em 05/10/2020
Código do texto: T7080066
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.