RESGATANDO ATRAVÉS DE UMA PRECE

Estava em uma grande Casa Branca. As paredes pareciam estar cobertas com massa corrida. Semelhante a Casa Grande d0 Vilarejo onde minha mãe foi criada, esse casarão tinha as paredes pintadas de branco, janelas altas, o que diferenciava eram desenhos encrustados nas bordas das janelas, mais pareciam figuras musicais e flores em tons dourado.

Luzes acesas em toda parte, era visível mesmo distante da casa, em um lindo lustre de madeira repleto de velas vermelhas.

Estavam em festa!

O anfitrião era um pequeno homem negro, que me recebeu na antessala próximo ao grande salão, onde se viam mesas fartas, pessoas conversando, músicos tocando e a cozinha. Ao entrar me vi refletida em um largo espelho de cobre, anos sem essa vaidade, me fez observar como minhas vestes não eram condizentes com aquele lugar e nem aquela ocasião.

Cabelos cobertos com um véu azul, calças largas e uma grande túnica transparente sobre uma blusa verde, botas pretas de montaria que reluziam com a claridade. Carregava uma bolsa que mais parecia um saco de militar.

Ao entrar fiz uma saudação em um idioma estranho e me dirigi rapidamente a cozinha, não pude deixar de observar um dos convidados largado em uma das mesas. Pensei comigo, bêbado repugnante!

Khalil, o pequeno anfitrião se apresentou, me mostrou um pequeno quarto onde poderia guardar meus pertences.

____ Você vai cuidar do meu amigo, aquele que está largado dormindo naquela mesa!

Apontou justamente para o bêbado repugnante. Balancei a cabeça em desaprovação.

Khalil, me contou a triste história daquele pobre infeliz.

____ Este é Faruk, ele foi expulso de sua “casa”, com seus filhos e não poderá retornar ou terá o mesmo destino de sua pobre esposa! Pobre criatura, foi assassinada por criminosos.

Tive pena dele, tentei levá-lo até outro lugar um pouco mais tranquilo, longe do barulho, na cozinha. Ele acordou com o perfume dos alimentos e pediu comida, balbuciando fracamente.

____ Estou com fome!

Apanhei uma tigela e servi um pouco de tabule ao sr. Faruk. O som da festa começa a se tornar um barulho insuportável. Ao olhar entre as cortinas, vi muitas pessoas correndo e gritando.

____ Papai!!!!

Um grito de criança acordou aquele homem, que mal conseguia falar. Ficou em pé e jogou a mesa com a comida para longe.

____ Sr. Faruk, aonde vai?

Minha pergunta ficou sem resposta, percebi admirada a destreza com a qual ele retirou uma Saif de prata de seu casaco. Ouvi Khalil, gritar por mim.

____ Ajude as crianças, os centuriões encontraram o bebê!

Me esgueirando entre as pessoas, vi minha oportunidade em quatro patas, negro feito noite sem luar. Retirei minha túnica, montei no corcel e joguei o animal sobre um dos soldados, já no chão obriguei o cavalo a pisoteá-lo. Assim, consegui tomar seu arco.

Khalil, lutava ao lado do Sr. Faruk, muito longe de onde estava. Não sabia onde encontrar a criança. Como eu poderia ajudar? Se ao menos conseguisse lhe falar, perguntar onde encontrar o pequenino.

____ Deixe o animal lhe guiar!

____ Onde você está? Perguntei inutilmente. Outra vez ouvir a voz.

____ Olhe para mim!

____ Sr. Faruk?!

Como ele conseguia falar comigo? Como eu conseguia ouvir sua voz? Meus olhos assustados o observavam ao longe, enquanto uma espada traspassava suas costas. O cavalo ergueu seu dorso no ar e emitiu um som alto como se também sentisse por Faruk ser morto.

O cavalo se dirigiu ao jardim da casa, onde encontrei o pequenino chorando e escondido. Mesmo antes de alcançá-lo um dos soldados o agarrou, entrei em desespero. Não sabia como conseguiria tomar a criança das mãos de um homem duas vezes o meu tamanho. O desgraçado seguiu na direção do despenhadeiro atrás da casa, foi quando o frio bateu na minha nuca.

____ Ele vai jogar a criança!!!

Com o cavalo ainda em movimento, puxei o arco e coloquei uma flecha na mira, desferi um golpe, que o fez soltar a criança.

Mas, ele estava em um despenhadeiro!

Saltei do cavalo para alcançar a criança, acabamos ficando presos em meio a pedaços de madeira. Estava frio e escorregadio, tentei acalmar o pequenino que gritava de pavor chamando pelo pai. Os malvados queriam prosseguir com seu plano e matar o inocente.

Eu não conseguia fugir do emaranhado de troncos e temia que os perseguidores nos alcançassem. Entrei em desespero novamente, sentia o sibilar do vento, fechei os olhos tentando silenciar meu pavor. Comecei a entoar uma prece que ecoava naquele lugar escuro, minha voz tomava conta do silêncio, e o vento tratava de amplificar o que era falado.

____ " Elohim-Adonai, dono da minha cabeça, hoje acontece um grande mal, existe uma corrida para exterminar a vida desse pequeno inocente, rogo misericórdia a vossa mãe que vos protegeu ainda no ventre, contra a camarilha de carniçais. Nesse momento rogo seu socorro ELOHIM-ADONAI, MEU PAI, VEM EM NOSSO SOCORRO!"

Os monstros que corriam ao nosso encontro temeram minhas palavras, me chamaram de bruxa maldita. A última guardiã da GRAÇA MISERICORDIOSA. Capaz de construir um Golem, para levá-los ao túmulo antes do alvorecer…

Tisífone Alecto
Enviado por Tisífone Alecto em 20/08/2020
Código do texto: T7041707
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