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I
REVERENDO MURPHY

Sempre tivemos uma relação boa com os índios, mas as outras cidades estavam em guerra. O chefe da tribo, Buffalo Forte era um bom homem e tinha negócios com nossa gente. Respeitava a minha paróquia e era gentil com as mulheres… mesmo percebendo um certo pavor preconceituoso em seus olhos. Conversávamos às vezes e ele acreditava num mundo em que pudéssemos coexistir. Mas os Sioux eram numerosos e nem todos pensavam assim. Inclusive o seu filho, um guerreiro temido… chamado Grande Chifre.

II
DANIELLE GOODNIGHT

Estava perto de amanhecer quando o bando do Grande Chifre surgiu com seus gritos de guerra. Ainda posso escutá-los e meu corpo treme de pavor. Acho que muitos se sentem assim. Mesmo sabendo que os ataques acabaram de uma vez… É que a paz exterior retorna… mas a paz interior demora, ela não depende de vingadores e pistoleiros, depende de que seus pesadelos passem.

III
JESSE: O DONO DA PENSÃO

As coisas melhoraram depois do pistoleiro. Recebi uma pequena fortuna de um parente que morreu em alguma cidade no Colorado. Dava pra começar uma vida nova. Longe de bares e prostíbulos. Danielle já tinha conseguido muito antes de mim e eu a amei… sempre a amei. Talvez ainda a ame. Sempre penso que se tivesse conseguido a herança um pouco antes, ela estaria casada comigo e não com aquele mal-humorado do Goodnight. Mas me contento em pensar que agora sou um homem digno de me casar com uma boa mulher. Comprei uma grande casa, abri esta pensão e toquei o meu negócio. Me tornei um pequeno empresário. Um homem respeitado. A casa estava sempre cheia e muitas moças queriam me conhecer.

- “vamos ao pistoleiro senhor Jesse!”.

Ok… Sim! Perdoe o devaneio! Então… era um fim de madrugada quente, após dias sem chover… eu estava sentado – não conseguia dormir – em frente ao meu piano, apenas tocando uma nota aqui e ali… quando ouvi os gritos. URROS DIABÓLICOS. Quando olhei da janela, lá fora… eles já estavam entrando nas casas e levavam um tempo dentro delas. Ouvíamos gritos de homens, crianças e mulheres. Eu sabia o que estava acontecendo. Estávamos sendo atacados, mortos… e escalpelados. Quando os gritos cessavam o bando do Grande Chifre saía às pressas deixando as casas em chamas. Eles gritavam como animais loucos, enfurecidos… Estavam em guerra com uma cidade que… definitivamente NÃO ESTAVA. Uma das casas era a casa de minha amada Danielle. Cristo… Por quê SEMPRE ela? (lágrimas).

Grande Chifre a arrastou pra fora da casa… Ela e sua pequena Jéssica. E a fez assistir a morte de sua criança com um golpe único… forte… de machado. Ele nem hesitou… (longa pausa, de todos nós…).

… Vi a Danielle morrer naquele momento. Pra sempre. Mesmo continuando viva… estava morta. Tornou-se a mais infeliz das pessoas. E não havia nada que eu pudesse fazer… Minha pensão ficava um pouco afastada. Os clientes saíam desesperados e às pressas, mas… como fugir? E pra onde? Sentei-me ao meu piano e toquei… e toquei… e toquei… sem parar. Aguardando a minha hora. Tive uma boa vida. Fui um bom homem. Estava tranquilo. Foi então que… Minha nossa…

- “o que houve?”

O CÉU… ESCURECEU. E nós… sobreviventes… respiramos e nos emocionamos e gritamos louvores misturados com gritos de guerra e pedidos por justiça. Pois… sabíamos o que estava por vir. O som de um galope vinha da névoa. Cada vez mais rápido e mais forte

… ERA ELE!! O nosso anjo protetor! O PISTOLEIRO!

VI
JESSE, SOBRE DANIELLE, A MULHER INFELIZ

Era ele, sim… mas para Danielle já era tarde. O Pistoleiro Vendado chegou disparando contra os Sioux. Derrubando um por um em minutos! Ele era incrivelmente rápido. Seu cavalo era negro e branco, seu pelo parecia lustrado. Ele parecia um DEUS. Apenas o Grande Chifre conseguia desviar-se de suas implacáveis balas. Todos os outros morriam com tiros únicos e certeiros. O índio gigante parecia mesmo ser um adversário a sua altura. O pistoleiro se virou para Danielle… caída em prantos, como se pudesse vê-la olhos nos olhos, mesmo com a venda. Seu semblante era da mais pura tristeza.

Sussurrou algo para ela… largando a sua balança e a sua pistola no chão. Parecia ser feito de ódio.

- “Vai me enfrentar sem armas?! Quer se matar?! ISSO É UM DESRESPEITO, pistoleiro…”, perguntou o diabólico índio.

Sem responder, tirou do bolso uma faca e se manteve ali parado, com um riso de escárnio na face. O índio se sentiu desafiado e segurou sua machadinha com força. A machadinha que matou a pequena Jéssica. Levantou a machadinha pro céu e gritou o seu uivo de guerra que ainda ecoa nos ouvidos desta cidade ferida.

V
JESSE, O BOM JESSE

Sem mais nem menos o índio partiu com ferocidade pra cima do pistoleiro, fazendo jus ao seu nome… Pois realmente parecia um búfalo bravo. A luta foi terrível – e maravilhosa – de se ver. Os dois eram atingidos nos braços e nos rostos mas pareciam não sentir absolutamente nada. Continuavam a lutar e a desviar dos golpes com muita habilidade. Até que o índio trapaceou, puxando uma ponta de lança escondida nos pés. Encaixou-a no ventre do Pistoleiro Vendado, que se curvou soltando um gemido. Foram poucos segundos… em que a esperança pareceu se dissipar.

Danielle caiu desmaiada e eu pensei que tivesse morrido de tristeza. O que me fez perder a fé. O silêncio se fez. Os homens tiraram os seus chapéus e as mulheres – totalmente desoladas – faziam o sinal da cruz. Estávamos perdendo… O pistoleiro estava sendo abatido… e logo em seguida a cidade estaria em chamas.

O pistoleiro caiu.

(Continua)