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“O PISTOLEIRO VENDADO! Verdade ou lenda? Contarei nestas 4 EDIÇÕES a história dita por testemunhas oculares, moradores de Dodge City, Kansas! As aventuras do homem que Era a justiça!”

I
DANIELLE GOODNIGHT: MÃE DA PEQUENA JÉSSICA


Depois que El Fuerte se foi, tornou-se impossível trabalhar vendendo o meu corpo. Meu rosto ficou cheio de cicatrizes que não podiam agradar nenhum tipo de viajante. Portanto passei a oferecer outros tipos de serviço até que meu bom amigo Jesse – o pianista – me conseguiu um trabalho como cozinheira para os empregados da construção da nova ferrovia. Lá conheci meu marido Charles Goodnight. Um homem sério e um pouco rude… Porém, era trabalhador, atencioso e nunca me encostou um dedo. Tivemos nossa preciosa Jéssica.

De repente pareceu que as pessoas realmente tinham se esquecido de quem eu era e o que eu fiz no passado. Me tornei uma dona de casa, esposa dedicada e mulher de respeito. Mesmo me casando com um homem de posses, continuei servindo comida aos famintos, junto ao Reverendo Murphy. Tentando, quem sabe… Impedir que outras pobres moças seguissem o meu caminho.

II
REVERENDO MURPHY


- “O que você acha do Pistoleiro Vendado? Você o conheceu?”

A princípio não. Era um dos poucos que não o conhecia… Apenas soube da história do massacre no prostíbulo. Onde não frequento, obviamente. Só o conheci no episódio do seu retorno, dois anos depois… quando veio a mim se confessar.

- “Você acredita que Deus aprove seus feitos?”

(Muitas risadas, seguidas de um bom tempo perdido em pensamentos)

Filho, acredito que todos nós neste mundo, temos um papel nos planos de Deus. Não estou em posição de dizer se o próprio Deus apoia os métodos daquele herói vendado. Mas, posso dizer com segurança, que EU o apoiei. (Mais risos). Pois amo minha cidade… amo as pessoas que vivem nela.

Pessoas que vi crescer. O pistoleiro trouxe uma sensação de segurança que nós não tínhamos há muitos anos. Os bandidos tinham medo de aparecer. Por um tempo…

- “Me fale do dia em que ele confessou.”

O senhor sabe que não posso dizer exatamente o que ele me falou… Mas, posso dizer com firmeza, que… tirar vidas NÃO ERA uma coisa que ele fazia por prazer. Antes de uma lenda, parecia haver um homem ali, um espírito humano… antes do espírito de vingança que todos conhecem.

- “Parece contraditório…”

E é…! Bastante… Pois ele ERA um ser contraditório. Qualquer homem que mata em nome da paz… é um ser contraditório. Confuso… Perseguido pelos seus próprios DEMÔNIOS internos.

III
DIÁRIOS DO REVERENDO MURPHY
(ANOTAÇÕES FURTADAS)


O Pistoleiro Vendado surrou o seu cavalo ao máximo que pôde até encontrar-se no meio deserto, cercado apenas pelos cânions. Até ver o animal cair-se morto e se tornar sua única comida, por algum tempo. Ele podia sentir presenças e cheiros como ninguém… apesar de seus olhos que nada viam. E quando o último cantil pingou a sua última gota d’água ele andou sem rumo e sem parar… Foi o que ele me contou.

Passaram-se dias, meses talvez… e ele podia sentir a presença de abutres em sua volta esperando a sua morte e um deles – o maior de todos – era o Diabo transformado, que falava, provocava sem parar…

- “Porque você anda? Você não tem pra onde ir, pistoleiro…!”, dizia o abutre com maldade.

E o pistoleiro – que já não era de falar muito – apenas grunhia, rosnava, cuspia… e se levantava e andava com passos fortes ignorando a dor que percorria seus músculos e os ossos do todo o corpo. As asas do abutre o mau cheiro o perseguiram por toda a viagem rumo ao nada. Ele apenas sentia que tudo aquilo era necessário… para “purificá-lo” do pecado de matar. Bandidos, ora essa… mas… criaturas de

Deus. Pensando bem… ele entendia sobre a lei da vida, muito melhor do que muitos dos meus congregados.

O pistoleiro que é… SIM. A Justiça, pensando e estando ali… sobrevivendo ao deserto, acreditava que julgava e condenava a si mesmo. “Você só precisa se deitar e dormir… sua alma encontrará o paraíso. E sua carne… deixe-a comigo...”. Dizia o abutre. E vez ou outra, por alguns minutos, o pistoleiro vacilava… e pensava na proposta do abutre. Estava cansado… exausto. Nenhum homem suportaria aquilo por tanto tempo. Mas ele não era um homem. Já fora, há muito tempo… E mais uma vez ajeitava o seu coldre e seu chapéu. E coberto apenas com um poncho, driblava a morte mais uma vez, ignorando a fome e a sede.

Até que – finalmente – sentiu em suas entranhas o chamado de nossa cidade, mais uma vez. Seu coração e espírito sentiram que Dodge City corria perigo. Estancou por minutos enquanto os abutres planavam em sua volta. Respirou fundo e em menos de três segundos sacou a sua pistola – após dois longos anos de espera – e atirou uma bala certeira diretamente nos olhos do seu abutre perseguidor… que caiu morto aos seus pés.

Mastigou a carne crua do abutre saciando a fome que parecia sem fim. O gosto era terrível, mas ele não se importava. Precisava voltar… O chamado tinha sido escutado, em alto e bom som. Tudo isso ele me contou e me sinto abençoado por ter escutado. Acho que fui o único na cidade que realmente ouviu aquela bela e serena voz. Ele tinha acabado de chegar na cidade e veio até mim, o que me lisonjeia e aquece o meu coração. Perguntou-me o que estava acontecendo…


(continua...)