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“AQUELE SEU MODO PECULIAR… DE MATAR”]
“Como pode um pistoleiro estar de olhos vendados e não errar nenhum tiro?”: Era o que os – poucos – sobreviventes perguntavam quando todo o massacre acabava.
Em segundos grandes homens caíam como peças de dominó no chão do prostíbulo e as mulheres gritavam de horror e alegria, boquiabertas com a rapidez do gatilho do matador cego. O Pistoleiro Vendado (era como o chamavam!) apareceu na hora certa e mais uma vez e vingou os pobres coitados."
I
GIANINA, MÃE DAS PUTAS
Quando vi o Pistoleiro Vendado pela primeira vez… era fim de tarde. Havia um sujeito incomodando os clientes e as moças… nunca soube o seu nome verdadeiro. Era um chicano e o chamavam de “El Fuerte”. Estava aterrorizando a cidade. Estuprando mulheres de família e surrando rapazes… bebendo e comendo sem pagar. Eram dias de terror. Ele e o seu pequeno grupo de três homens tão terríveis quanto ele, surgiam do nada como furacão, deixando rastro de sangue. Para você – caro amigo escritor… – que veio contar nossa história, é bom saber que apesar de termos prostíbulos por aqui, não deixamos que meninas moças façam o serviço. Aqui só é prostituta quem quiser e se achar boa no serviço. Temos outros trabalhos, temos hortas e fábrica de vestidos. E você deve saber também que aqui temos um xerife. Mas ele é um covarde. Um político. Que nunca fez nada por nós. Um canastrão. Sempre aparece DEPOIS que toda a merda já aconteceu. Falando alto… e tentando parecer útil.
Pois bem… Naquela tarde quente o bando de El Fuerte estava espalhado pelos quartos, espancando as pobres mulheres. Eu chorava e rezava aqui embaixo. Foi quando o céu escureceu…
– Vocês sempre dizem isso Sra. Gianina… é um modo de enaltecer a chegada do “bom samaritano”?
NÃO, nããõ… meu amigo. Quando o Pistoleiro Vendado surge… o céu se cobre de nuvens como se fosse cair a pior das tempestades! Ele entrou e tudo parou. O pianista parou de tocar, os copos pairaram no ar. E então o nosso justiceiro entrou devagar… seus olhos estavam vendados com um pano branco. Em sua mão direita uma pistola Colt 45 e em sua mão esquerda, uma balança.
– UMA BALANÇA?
Sim… como se ele fosse a Justiça personificada!
- Quer mesmo que os leitores acreditem nisso?!
ORA, como queiram!! Ele entrou e pôs a balança em cima de uma mesa e se sentou, tentando manter a pistola escondida.
Eu me aproximei e perguntei se queria beber algo. Apontou para uma garrada de uísque (como se pudesse vê-la perfeitamente) e eu o servi. Lá ficou por alguns minutos…
El Fuerte e seus homens desceram gargalhando e empurrando nossas meninas. Do jeito que estavam, demoraria alguns meses pra conseguirmos deixá-las novinhas em folha, prontas para dar lucro… Estavam acabadas, roxas, desfiguradas, sangrando. El Fuerte empurrou Danielle e ela caiu escada abaixo. Um silêncio se fez. Um dos capangas desceu correndo e verificou se a menina respirava. Fez um sinal positivo e os bandidos caíram em gargalhadas novamente. Danielle se levantou devagar, cuspindo sangue. Então… O pistoleiro se levantou e andou até ela.
– O que você pensa que está fazendo, Ceguinho? – Bradou El Fuerte.
O homem vendado não respondeu. Apenas continuou ajudando Danielle a ficar em pé.
II
DANIELLE
El Fuerte ficou nos olhando. Eu mal podia enxergar… meus olhos estavam inchados e o sangue do supercílio escorria e ardia. Aquele homem da pele morena de sol, enorme, com uma venda no rosto, apenas sussurrou em meu ouvido: “Vai ficar tudo bem…”. E eu acreditei nele.
Os bandidos sacaram suas armas bradando xingamentos e o chamando de insolente. El Fuerte parecia um touro bufando pelo nariz e dizendo que eu era a sua propriedade. Eles pareciam estar em vantagem apontando seus rifles Winchesters surrados. Enquanto O Pistoleiro Vendado tinha apenas uma Colt prateada, mas que parecia emitir um brilho próprio.
III
JESSE: O PIANISTA
Tenho anos de ofício… Tocando piano em espeluncas como essa… Meu pai era um músico respeitado na cidade e segui seu caminho. E o meu velho dizia: “Não importa o que acontecer, Jesse… Não pare de tocar, pois a música é um bem da humanidade… e é direito de todos.”. Então é o que faço, mesmo que chova chumbo! Mas aquela cena era incomum e nem mesmo o meu amor pela música conseguiu ignorá-la.
Os primeiros tiros soaram… tudo foi muito rápido. O que lembro mais… é dos segundos antes dos disparos. Aquele cowboy de olhos vendados e mãos meio trêmulas, ansiosas, tateando sua pistola, enquanto os três demônios mexicanos o encaravam incrédulos com risos incontidos, apontando seus rifles.
Os disparos ecoaram e me abaixei junto ao meu piano e apertei os olhos involuntariamente por alguns pouquíssimos segundos. Abri os olhos e o que vi me deixou boquiaberto e muito feliz ao mesmo tempo…
El Fuerte e seus homens estavam caídos. Enquanto o Pistoleiro Vendado conduzia Danielle a uma cadeira. Apontou pra ela com um dedo deixando bem clara a ORDEM de que deveríamos cuidar dela e das outras. Ele parecia nos ver perfeitamente. Então apressadamente pegou sua balança e saiu pela porta. Demorou tanto de aparecer de novo que começamos a questionar se realmente vimos… o que vimos.
Mas nunca acreditei na bobagem de “samaritano”. Um pistoleiro JAMAIS será um homem de Deus. O Pistoleiro Vendado era um vigilante… o vingador que nossa cidade precisava NAQUELE MOMENTO, apenas.
DANIELLE
E então… sem mais… ele foi embora.
Foi o que pensamos…
(CONTINUA...)