Joãozinho e o pé de Esperança
Joãozinho espiava da janela sua mãe varrendo o chão de terra do lado de fora de sua casa humilde.
Ela parecia muito cansada, o rosto abatido pelo sofrimento que a vida lhe proporcionara, triste e frio, como uma noite de inverno.
Passados alguns minutos sua mãe vem até o pequeno Joãozinho e lhe pede um favor, com a voz embargada, trêmula.
-- Filho, preciso que leve nossa vaquinha mimosa até a cidade. Eu sei que é só o que temos nessa vida miserável. Sei que ela nos fornece o leite que bebemos todas as manhãs, mas infelizmente não temos o que comer e precisamos de um pouco de dinheiro, senão vamos passar fome.
Joãozinho, bom menino que era, não contrariou sua mãe. Laçou uma corda no pescoço de mimosa e caminhando perderam-se no horizonte, rumo a cidade.
Algumas horas depois, Joãozinho entrou correndo de excitação, quase derrubando a porta, assustando sua mãe, que instantaneamente, vendo a alegria do filho, supôs que ele tivesse tido êxito ao vender mimosa por uma boa quantia de dinheiro.
-- Mamãe, você não acredita. Eu estava na feira oferecendo mimosa e um senhor já idoso chegou até mim e me perguntou quanto eu queria por ela.
A medida que Joãozinho falava, mais sua mãe tinha a expectativa aumentada, já que seu filho parecia tão feliz narrando a história.
-- Então, mamãe, eu disse a ele que não sabia quanto valia, mas que aceitaria qualquer quantia, porque estávamos prestes a passar fome caso não conseguisse vender.
-- Desembucha, filho! Conseguiu quanto?!
-- Daí, mamãe, ele me disse que tinha algo melhor que dinheiro pra me dar em troca da vaquinha. Ele disse que tinha algo mágico, que mudaria nossas vidas pra sempre. Disse que tinha o caminho da verdade, o encontro com Deus, a palavra do próprio criador.
-- COMO ASSIM, JOÃO PEDRO!?
-- Ele estendeu as mãos pra mim e nelas estava um livro preto, grosso e mágico. Segundo o velho senhor, é um livro tão especial que já tem milhares de anos e vem moldando a história da humanidade há várias gerações.
A medida que que o menino falava, tirou de trás das costas o tal livro, revelando-o a sua mãe, que a essa altura da história já não tinha o olhar esperançoso. Agora ele guardava um misto de medo, compaixão e incredulidade.
Naquela noite, Joãozinho e sua mãe leram o livro mágico até dormir, com fome, é verdade, mas aguardando até que a toda magia daquelas escrituras vigorasse em suas vidas.