O MUNDO SEM ANJOS

CAPÍTULO I

-Meu Deus eu vou morrer- sussurra uma jovem mulher suando frio, com a respiração acelerada e lágrimas encharcando seus olhos, seu olhar vagou sem direção certa no quarto escuro, sujo e fedido cujo um dia já foi uma casa limpa e arejada com cheiro de almíscar – eu não aguento mais – ela falou com a voz embargada de choro, seus cabelos loiros caiam em sua fronte fazendo-a sentir o cheiro transpirado de seus cabelos misturado com o cheiro do vômito ao chão – Isso mesmo você vai morrer! - diz uma pequena criatura terrivelmente sombria no canto do quarto, seu rosto era negro e ele não tinha nariz e nem boca, pois nestes lugares tinha apenas suturas com linhas negras e espessas, só se via em sua face dois olhos vermelhos e diabólicos. No seu pescoço saia dois filamentos da grossura de uma mangueira, um do lado esquerdo e outro do lado direito, que no fim de cada extremidade tinham bocas em forma de dentaduras, o corpo dessa entidade era podre e com pele ressecada, suas mãos e pés tinham garras bastante afiadas que estavam envolto um tipo de substância negra que parecia lama – você é um peso pra todos - diz o demônio – eu sou um peso pra todos – repete a mulher valorizando cada silaba de suas palavras – pega a arma do seu ex-marido na gaveta e se mata! – diz o ser diabólico – eu vou me matar agora – fala a mulher pegando a arma na gaveta e apontando para sua cabeça – seu pai te ama e você e tudo nesse mundo pra sua mãe – ecoa uma voz da parede oposta à porta do quarto – não pode ser, você de novo não! - lamuria o demônio inconformado.

Naquele local chegou um anjo de cabelos prateados e roupa resplandecente com detalhes dourados, a mulher hesitou em tirar sua própria vida e abaixou a pistola 765 camuflada – o que vai ser da minha família se eu fizer isso?- muito bem você é preciosa e vale muito mais do que imagina – insistiu o anjo, mas imprevisivelmente o demônio olha de canto de olho para o ser de luz e dar um sorriso sarcástico – você perdeu meu amigo – após essas palavras o ser tenebroso pulou em direção a mulher e encravou suas garras das mãos nos peitos delas e as garras dos pés nas suas coxas, colocando seus filamentos com bocas em cada ouvido e começando a gritar de uma forma tão voraz que no mundo espiritual as paredes começam a rachar de tanta potência. O guerreiro celestial caiu prostrado no chão com as mãos nos ouvido – EU NÃO AGUENTO MAIS - grita a mulher posicionando novamente a arma em sua têmpora esquerda. Então houve o aperto do gatilho acompanhado de um estrondo ensurdecedor, porém pareceu que o tempo parou tudo ficou tão devagar, quando outro ser celestial navegando na velocidade da luz ou até mais rápido se projetou em direção a mulher e calmamente com apenas dois dedos desviou o cano do pistola para a boca dela, mas precisamente na região da bochecha, o projétil lentamente transpassou as duas bochechas sem sequer quebrar um dente ou furar sua língua.

- Quem você pensa que é para me atrapalhar- grita a besta maligna pulando no novo anjo que apareceu. Este soldado celestial desembainha sua espada que incendeia o quarto em rajadas luz, mas por apenas alguns segundos necessários para cortar o demônio em oito pedaços e novamente repor sua espada – vamos Raduriel já é hora - fala o segundo anjo levantando o outro ser, - ela vai pensar que tremeu demais e errou o tiro, o ceifador disse que só ira a recolher daqui nove anos – ao falar isso como um relampejo de luz os dois sumiram. Os pedaços do demônio se decompuseram deixando uma fumaça sulfurosa.

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- Vamos revisar sobre as ligações do carbono em Química Orgânica – deu ênfase o professor Nunes na sala de aula do terceiro ano Do Centro de Ensino Médio Milra Costa, o professor calvo e com voz rouca percorria o giz pelo quadro negro com ótima oratória, mas nem isso era suficiente para prender a atenção de Cristiano, mais conhecido como Cris, ele aparentava ter um déficit de atenção enorme, pois as aulas eram uma tortura para ele, Cris se dava muito bem com livros, era sua melhor forma de aprendizado, mas professores falando para ele era terrível e entediante, sempre que podia se refugiava na biblioteca que era seu mundo, sua redoma preferida. Cris não tinha muito amigos, não gostava de festas ou eventos sociais gostava de ficar só, ele achava que se fosse resolvido consigo mesmo, ele mesmo seria sua melhor companhia, Certo dia com sua grande curiosidade literária ele se deparou com livros de espiritualismo e debruçou-se sobre eles, desde o espiritismo até o ocultismo e isso chamou bastante sua atenção. Depois de um tempo começou a sonhar com anjos e demônios, e começou acreditar que até podia os vê-los, ele estudou bastante sobre como abrir a visão espiritual, o que alguns chamam de terceiro olho, outros de mediunidade e outros de dom espiritual de visão do mundo espiritual.

A rota da sua escola passava por um cemitério da cidade que ele gostava debruçar na parte mais baixa dos muros e ficava olhando os túmulos pra ver se via espírito de pessoas que morreram, mas sempre sentia náuseas e uma sensação estranha na nuca, mas não chegava a vê-los, porém um dia que ele não estava interessado em espíritos ou coisas assim ele passou do lado oposto da rua do cemitério e foi surpreendido por um espirito de um homem magro e calvo que debruçou no muro e por sua vez ficou o espiando, Cris ficou tão desconcertado e com medo que continuou andando sem reagir, enquanto o espirito ficava sorrindo pra ele com um tom de zombaria, foi assim que ele percebeu que não via mais o mundo como era antes.

Certa vez ele leu um livro que relatava algo sobre um pêndulo, ou seja, um cristal amarrado em um corrente que ficava girando em determinado sentido, e ao fazer esse pêndulo ele consagrou a uma entidade espiritual, mas depois de uma semana ele jogou fora. Dias depois ele estava deitado em uma rede no seu quarto e escutou uma batida na porta, tudo estaria até bem a não ser pelo fato que ele estava só em sua casa, primeiro veio o susto e logo depois ele se recompôs e disse – Certo vamos manter contato, bata na porta de acordo com as letras do alfabeto pra eu entender sua mensagem – ao terminar de falar isso veio 3 batidas – Letra C certo? – depois de uma pausa houve apenas uma batida – Letra A ok – disse Cris e logo após houve mais quatro batidas e por fim mais cinco então depois de processar essas batidas em dados, mas precisamente em letras chegou na mensagem “cadê” então ele perguntou – Cadê o que? – e depois as pergunta ele mesmo teve a resposta – é o pendulo não e? – houve uma pequena ventania como confirmação e logo apôs e entidade desapareceu.