Contos do inconsciente. N° 2 (Prainha de Itapuã e volta pra casa).
-Tome, pode experimentar.
A voz da menina o fez despertar. Greg estava sentado na areia na companhia de sua atual namorada e de mais um amigo da época de escola. Ao lado deles estavam empilhadas as três bicicletas com as quais chegaram ali. Embora não conseguisse ver o rosto da menina, muito provavelmente era a sua filha, a julgar pelo seu tamanho e cor da pele. A criança estava dentro d'água se divertindo com uma espécie de brinquedo que a fazia subir a cerca de uns dez metros de altura à medida que ia entrando mais água por uma mangueira que estava acoplada em um suporte circular onde a menina subia e ficava em pé. Sabia que realmente existia uma máquina dessas, mas como explicar o que estava acontecendo com todas as pessoas que se encontravam dentro d'água? Todos os banhistas estavam flutuando sobre a água; pranchas de surfe, bolas, cadeiras e até animais faziam parte daquele redemoinho de alegria que estava acontecendo diante dos seus olhos. Não pôde definir ao certo qual sensação essa visão o fez ter, mas em um piscar de olhos já se encontravam os três no caminho de volta, cada um caminhando e levando sua bike na mão. Interessante era o fato que agora seus dois acompanhantes não eram mais as mesmas pessoas, e sim sua irmã e sua ex-namorada.
-Por onde é que tu andava, guria?
Greg sentiu que estava ficando bravo e quando foi proferir mais alguma indagação para sua ex, essa disse:
-Eu estava aí o tempo todo do teu lado, não percebeu?E se eu não estivesse, você não teria nada a ver com isso, já que eu não tenho mais que te dar satisfação da minha vida.
Greg pensou em falar alguma coisa mas compreendeu que o argumento dela era assaz sensato e compreensível, e quando pensou em abrir a boca para dizer algo, sua irmã falou:
-Ela tem razão. Porque não deixemos de perder tempo com tanta bobagem e não continuamos o caminho de volta pra casa?
Sua irmã tinha dado um ponto final àquele princípio de discussão; ela era a responsável pela paz momentânea da situação.
A estrada que ligava a praia à cidade era pavimentada e cercada por morros dos dois lados. Mas o que era aquilo?! No topo do morro mais alto estava um menino de bicicleta que aparentava ter a mesma idade da sua filha. O menino colocou o capacete e fez jeito de que iria descer o morro. Mas não tinha como. Além das pedras que estavam no seu caminho, no pé do morro tinham muitas casas, e uma dessas casas parecia ser a da própria ex-namorada.
-Isso é morte na certa
A irmã sabia muito bem avaliar uma situação de perigo iminente.
Greg olhou para o garoto e concluiu que o menino era bastante corajoso. Mas antes mesmo de Greg finalizar o raciocínio, o mini ciclista desceu morro abaixo em uma velocidade surpreendente. Mas que sorte! (sorte?) A casa da sua ex e mãe de sua filha tinha um corredor lateral por onde o menino passou a toda velocidade mas não sem antes passar por uma rampa de madeira que o fez saltar por cima da estrada e cair dentro de uma piscina de plástico, fazendo com que a água jorrasse por todos os lados. O três olharam em direção à piscina em busca de algum sinal do garoto, mas o que se viu foi apenas a estrada molhada. Greg olhou para as duas moças antes de dizer:
-Tomara que isso no chão seja água e não sangue.
Afinal de contas, tinha gostado do garoto.