Covid19 - maio/2021

Minha cabeça roda, mas não é de tontura. Sinto um mal-estar também que parece se espalhar pelo meu corpo. Todo dia quando acordo, quando me dou conta de quem sou e de onde estou, fico consciente de como as coisas não foram bem até então.

Mais ou menos um ano e meio atrás vieram as primeiras notícias de um tipo de vírus que contaminava as pessoas no distante oriente. De um modo em geral as pessoas acompanhavam, mas não achavam que chegaria até elas. Mas chegou. A coisa toda ia de mal a pior, e afetava a vida de todo mundo, e no geral de modo bastante direto.

Mais ou menos com alguns meses de "vida" esse vírus começou a sofrer mudanças bem significativas. Se tornou mais agressivo e mais contagiante, deixando a vida humana muito mais difícil. Literalmente, não podemos mais estar em contato e todos os serviços antes disponíveis agora começaram a virar raridade.

Não sei ao certo se eramos felizes como muitos tem falado por aí, mas é certo que a vida era melhor que agora. Esse vírus maldito foi mudando, e ficando mais forte, contagioso e agressivo. Deve ser o mal desse século. Fomos orientados no início a não sair de casa, enquanto em outros lugares eram obrigados mesmo. Num dado momento o mínimo contato era a garantia do contágio, que deixou a vida humana estranha.

As coisas começaram a entrar em colapso. Governos e empresas não conseguiram resolver o problema, e acho que não iriam conseguir mesmo, pois o que acontecia era muito mais potente que eles. Coisas péssimas estavam acontecendo, como a falta de comida e medicamentos, que gerou uma quebradeira geral, nas indústrias, no comércio e na vida das pessoas comuns, como eu.

Estou sozinha, literalmente, numa casa mais afastada da cidade. A ideia é que onde não tem gente não tem vírus, e tento seguir essa regra. Na realidade tem gente sim, mas estão afastadas umas das outras, inclusive para o bem de todos. Aconteceram milhões de mortes, e da última vez que vi, falavam que está até nascendo menos gente que morrendo.

O nosso mundo e sociedade teve que aprender, meio que na pressão, a vivermos sozinhos fisicamente. As pessoas ficaram mais frias, e quem ousa viver como antigamente, é certo que pegará o vírus. Um ou outro caso se livra disso. Moro numa cidade calma e pequena. Os comércios locais e não locais ignoravam a novidade e sofreram. Vale lembrar que até quem não ignorava também sofria, mesmo que indiretamente.

A pressão era bem grande para quem resistia. Era muito comum ver corpos pela rua. Ficava chocada no começo, mas me brutalizei de tal modo que me chocava menos essa visão. Mesmo assim, ainda me perguntava quem eram, o que havia acontecido para estarem lá abandonados e se seria o meu futuro.

Devo estar deprimida hoje, já que mal consigo me encarar no espelho. Minhas roupas escuras e largas são uma forma de me esconder, de mim e dos outros, dos que sobraram, nesse caso.