Tempo de florescer
Muito surpreso, um dia ele descobriu um broto saindo da terra. Era verde claro, fino e mirava o céu; parecia fazer piada do homem, que havia destruído todo aquele jardim.
- Mas que diabo!
Contrariado, se agachou e puxou terra e broto com raiva. Macerou bem a mistura dentro da grande mão e jogou de lado.
No dia seguinte, o homem voltou lá e viu que o broto havia reaparecido. Já era maior, mais grosso, mais verde escuro, e se revestia de uma pelugem aveludada.
Soltou alguns palavrões, pegou a enxada, com raiva feriu a terra até tirar todo o verde que viu.
No dia seguinte, o homem avistou o jardim e xingou deus e o mundo. O broto, no mesmo lugar, maior ainda, tinha pequenas ramificações que, nas pontas, traziam uns bulbos. Para o terror do homem, adivinhava-se ali folhas e flores.
Bufando, rasgou a terra num raio de um metro, concentrado no buraco central onde até então estava o broto. E jogou sal até a terra ficar branca.
No dia seguinte, mal dormido, o homem correu até o jardim e perdeu a razão. O broto já era uma planta e tinha folhas verdes perfeitas e botões prontos para florir.
Enfurecido, espumando de ódio, usou gasolina, depois fósforo, e quando a chama apagou descarregou enxadadas cegas até que não mais visse as cinzas no meio da terra.
Ofegante, cabeça baixa de cansaço, apoiou-se na enxada. Uma gota de suor escorreu da testa até a ponta do nariz e, num suspense dramático, ficou dois ou três segundos se espichando até que caiu. Na terra, a gota de suor sumiu sem deixar vestígios.
Então a terra se convulsionou. E da convulsão vieram ramalhetes verdes com pequenas flores rosas: por tudo, por todo o jardim, feito inúmeras cartolas mágicas trazendo seus buquês.
Desesperado, o homem usaria da enxada, do fogo, da raiva. E os calos estourariam nas mãos e a boca, seca, só poderia balbuciar a frustração. Até que um dia, exausto, no maior dos jardins já vistos, ele desistiria: era tempo de florescer.