Amor e Morte

Ele havia perdido sua esposa em um acidente de carro há exatos dois anos, e durante todo esse período ele tentou de todas as formas entrar em contato com ela, sem nenhum sucesso.

Mas agora Felipe tinha certeza que conseguiria pelo menos vê-la durante alguns minutos. Conseguiu com um velho bruxo a receita, a fórmula, a magia que iria realizar o seu desejo.

Ele caminha em direção ao mar. Era a noite propícia para isso. Lua em quarto crescente. Tinha que ser essa lua, o bruxo havia lhe alertado.

Ele observa o mar e conta as ondas, esperando pela meia-noite.

Chegou a hora.

“Nove ondas, precisa ser nove ondas”.

Depois de contar as nove ondas ele retira um pouco de água do mar e a deposita em uma bacia, falando o nome de sua amada.

“Roberta”.

Duas velas acesas ao lado da bacia. Ele chama nove vezes o nome de sua esposa.

“Roberta, Roberta, Roberta, Roberta, Roberta, Roberta, Roberta, Roberta, Roberta”.

Quase não consegue controlar o choro, mas ainda sim consegue proferir as palavras.

“Eu te conjuro Roberta, para que apareças aqui, de alma e se possível, se materialize, pelo poder dos nove gênios que sem cessar navegam nas águas do oceano. Rogo em nome de Adoanes, que te faça visível nesta água”.

Felipe se afasta da bacia e aguarda por cinco minutos, lembrando dos momentos em que passou junto de sua esposa. O namoro, o noivado, o casamento. Tudo passa pela sua cabeça, inclusive o acidente fatal.

Passaram-se os minutos de espera, ele retorna.

Abaixa-se e fica observando a bacia. Um rosto começa a se formar na água.

“Não é possível! É Roberta”.

Ele levanta. Uma espécie de névoa começa a se formar a partir da água da bacia.

Essa névoa toma forma do corpo de sua amada.

“Roberta... Eu não aguento mais ficar longe de você”.

“Meu caro Felipe, fomos felizes no tempo em que estivemos juntos. Mas agora precisamos ficar separados meu amor. Esse é o nosso destino”.

“Não. Eu não vou aceitar esse destino”.

“Você precisa. Eu tenho que descansar. A minha alma até hoje não teve descanso. Deixe-me descansar meu amor. Por favor”.

O corpo de Roberta começa a desaparecer.

Felipe chora. Chora pelo destino que lhe foi dado.

Perdeu o grande amor de sua vida, e precisa conviver eternamente com isso.

“Adeus Roberta”. – ele fala. “Descanse meu amor”.

Cláudio Borba
Enviado por Cláudio Borba em 25/02/2020
Código do texto: T6873835
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.