Morte Velha Rara

Prado verdejante de verde pusante. Obra de veraneio. Céu encoberto nebuloso. Obra invernal. Flores no solo de cores quentes. Nuvens frias e nervosas, permitem cair os flocos de neve acima dos campos floridos. Corta o campo há ferrovia. Vem a locomotiva negra reluzente. Seu tilintar de rodas faz, a lama viajar pelo ar e a neve ao teto do trem nunca parar, pois sempre ela esta á chacoalhar. Cai gelo sob ás flores. E todas continuam vivas, da mesma forma como se portam em um dia ensolarado. Fraternalmente como um só, também comporta-se tal desta maneira o prado verde vigoroso. Isto é obra não sei de quê, só sei que deste mundo.

Vejo vento. Tenho de lhe dizer que o enxergo, por conta da pequena cortina na vidraça não fechada da locomotiva, por ela estar em movimento desordenado. Vai para um lado, depois para o outro. Nunca para. Grande feito de quem criou este efeito. Outra coisa que não para é esse trem, que vai não sei para onde. Seu destino não nos interessa, o que é de nosso extremo interesse é que ele corre pelos trilhos em alta velocidade.

"Ernest, porque tomou a água antes de partimos?"

"Tinha sede, o que esperava que fizesse? Oras, deixe de me amolar, quem esta como enjôo sou eu."

"Doutor Fritz, logo chegará e não vai gostar em nada de vê-lo desta forma."

"Fritz não vai embarcar, estamos viajando rápidos demais."

"Por esses dias ele está assumindo a forma de uma joaninha, então é fácil entrar em nossa cabine."

"Sei disto, mas sendo esse inseto, ele só pode voar perto das flores. Se subir até a altura da ventana morrerá congelado."

"Talvez..."

"Fique tranquilo, quando diminuir a velocidade ele aparece disfarçado de ganso e meu enjôo já terá passado."

"Doutor Fritz como um ganso..."

"Tu sabes quão excêntrico é ele. Maldita água!"

"Venha, deite um pouco. Me dei seu casaco. Não creio que você trouxe isto, Ernest."

"Tire suas patas daí. Este frasco é meu."

"Disse que tomou antes de partimos. Agora vejo que está com a água no bolso, por isso não se sente bem. Deve estar bebericando, á cada hora que viro de costas."

"Sabes que isto é impossível, tendo em vista que enxergas tudo, literalmente, tudo ao seu redor. Ademais isso é água normal, puríssima. Humana!"

"Por dúvida..."

"Por que fez isto? Ótimo! Agora quando sentir sede por água pura não terei o que beber."

"Pense comigo. Às flores e grama agradecem por terem sido regadas."

"Tu jogou minha água pela janela."

"Grande drama. Também viajam vários nobres, se for acaso, peço um fraso d'água deles para ti. Trate de se alinhar, esta parecendo um pardal desconjuntado."

"É isto que sou, neste presente tempo, Karl."

"Está ficando com a face verde."

"A sua já está."

"Mas, este é meu natural. O seu passa longe disto."

"Nem tanto, de acordo com o arco íris verde é vizinho do azul. São cores de..."

"Vistes o que fez, tens de parar de banhar-se na Fonte Negra. Lhe amparo. Vamos respirar ar puro."

"Deixe-me aqui, logo ficarei bem. Já sinto o vigor retornar ao meu corpo. A culpa é do texugo. Levam-no para a Fonte no dia em que era proibido de ir."

"Coloque o casaco, as lentes. A bengala esta na minha mão. Tu já está com lentes?"

"Também é culpa do prefeito, ele não avisou que a água estava contaminada. Poderia ter dido: Ernest, banhe-se rápido, sei que toma a água de modo para experimenta-la, mas dessa vez não beba. Pronto! Se houvesse este sobreaviso estaria sem nenhuma perturbação."

"Tu já está com lentes?"

"Como estaria olhando para ti, se não tivesse usando-as."

"O humor irônico continua o mesmo. Esta prestes à morrer e continua o pardal rei do sarcasmo,"

"Cale-te. Estais maluco em falar está palavra."

"Qual?"

"Morrer. Meu pequeno cérebro está zunindo, pensado que vou morrer daqui a pouco."

"Ninguém aqui morrerá. Ao menos hoje não."

"Não digas coisas sem ter certeza. Há uns anos, conheci uma pantera, lá pelos lados da tundra que em dia um era esperta, no outro tinha virado petisco de jacaré."

"Veja bem, estou guardado nossos bilhetes no seu bolso grande. Não vá esquecer. Segure firme, confie na sua bengala."

"Meu rosto melhorou?"

"De forma visível. À pouco recobrará seu tom azul."

"Então caminhe Karl, me sinto vigoroso. Forte."

Ernest usa lentes, como tu leitor, já lestes. Toda a face deste senhor enjoado continua verdejante, portanto Karl necessita de um bom par ocular. Os dois seres caminham vacilantes. Um parar ofegante para descansar faz as penas roxas com mesclas dourados de Ernest acomodarem-se no solo de carperte cor azul-marinho Marinha Real vitoriana. Chega o funcionário da companhia e ranha com os velhotes.

"Entre esse e outros motivos penso sempre que vou morrer."

"O que tem isto haver. Ele que é um remunerado mal educado."

"Há muitos haveres, Karl. Só porque estou chegado no meu terceiro aniversário, todos com exceção de tu e Fritz, me tratam como se já fosse um conjunto de ossos e cinzas insignificante."

Vagão-restaurante. Condessa V.H. espera seu coquetel fitando miniaturas de porcos-soldados transvestidos de vikings reprodutores da Batalha de Waterloo que estão na prateleira envidraçada. Napoleão está na lama, Duque de Wellington empanturra-se com lavagens. Através de penosos passos nossa dupla adentra este ambiente. Karl não está melhor que Ernest. A metade inferior de seu corpo existe enferrujada. Suas pernas bailam trêmulas. O senhor Ernest, apesar de mais velho neste momento vive em pior estado por conta da água contaminada... Malfadada Fonte Negra, ótima para banhar-se nu, de límpida água, salutar que retira dos vivos com maior idade o encargo de suas queixas. Quanto não reutilizada sua água benta eis divina, quanto de reuso melhor verificar quem primeiro a utilizou. Se o indivíduo não eis de sua espécie e tu à ingere lhe ocorre o mesmo evento que vive Ernest.

"Paremos nesta mesa, depois seguiremos."

"Fiquemos aqui. É um bom lugar, podemos admirar as jovens coelhinhas belgas sem constrage-las"

"Lhe disse que iríamos em pleno ar puro e é isto que faremos."

"Karl, penso que um comichão apossou-se de mim. Não paro de coçar-me."

"Deves de ser efeito da água."

"Alergia não esta entre seus sintomas. Isso é mais um presságio da morte que aproxima-se."

"Não falemos mais de morte, entendido! Tu que tem melhores olhos, chame para mim um garçom."

"Ele após a mesa três, vem para cá."

"Não ouvi chama-lo."

"Força do pensamento. Fritz ensinou-me há certo tempo."

Tenta por sucessivas vezes relembrar com qual idade, aprendeste a arte de prosear sem som algum produzir. Muitos tentativas, nenhuma optem êxito. Faz alguns meses que a memória lhe atola e não o deixa prosseguir. Isto acontece com muitos, eu e tu, estamos suscetíveis á este acontecimento. Para Ernest e outros otimistas isto eis brilhante, afinal: Nem todas as memórias que temos são dignas de serem relembradas e a maioria vale-se muitíssimo mais esquecer.

Alaranjada pele, charuto enorme entre dedos. Colete, calças e paletó de tecido fundo rosa com estampas de pequenos guardas-chuvas. Eis este o uniforme de todo servidor garçom-cozinheiro da Companhia Transcontinental. Visto isto, o garçom chamado traja-se assim. Estranhament este belo vestuário combina-se como o dia e a noite, com a decoração interior da locomotiva. Que eis preenchida por papéis de parede de frutas tropicais e pães extraplanetários.

"Demorou vim até nós e quando vem está tragando. "

"Meu jovem apague o charuto, faz mal para o pulmão dele. Seja gentil Ernest, ninguém é culpado pelas dores que sente."

"Eis que me sinto fadigado e desconto todas as minhas mazelas no outrem."

"Então deves se controlar. Veja eu: Não fico rabugento, com toda gente que não tem nenhum haver com meus maus."

"Não sou rabugento, Karl. Apenas sou um honesto reclamão retrógrado."

"Menino traga-me alguma coisa passa-enjôo e um guento antiaéreo."

"Ele quis dizer antialérgico, jovem senhor. Para mim não traga nada."

Toda a face de Karl possui impressa grandes marcas de expressão. Seus olhos avermelhados, por conta da vontade agora presente de chorar, por sentires incapaz de algo fazer, não constratam com a coloração de sua pele... Sua vontade de choro partiu. Agora mira com demasiada atenção a paisagem exterior; Vila simpática, erguida a partir de palhoça indígena.

"Tu mentiu! Muito feio essa coisa de me iludir e dizer que estou melhor."

"Oras não menti, tu aparenta estar melhor."

"Aparência não vale de nada. Se falo que estou mal é porque estou. Sabe, não existe outra coisa para minha senhoria fazer, além de esperar o triunfo da morte sob mim."

"Ainda temos alguns anos."

"Mentira, tu mesmo tem consciência que resta-lhe pouco tempo."

"Por meio disto aproveito todo tempo que tenho disponível."

"Aproveita estando preso em um trem?"

"É só voarmos que não estaremos mais aqui."

"Também voar me fadiga, Karl. Antes a liberdade de estar livre e ter o mundo todo abaixo de mim me encantava."

"O que ocorreu depois do encanto?"

"Coisas difíceis de serem explicadas. Em suma, o mesmo que ocorreste com tu. Todos que conhecia passaram a afastar-se com se eu fosse uma nova epidemia da peste. O que me aborrece é a justificativa que usam: Você não é mais um jovem, tem de ter comedimento."

"Ouvi muitas frases como está. Ao contrário de tu, Ernest, elas não me aborrecem. Todas essas querelas me fazem ter encanto por tudo que é belo."

"E sobre o que não é belo?"

"Eu aguento, afinal coisas feias acontecem com toda gente, velha ou nova."

"Chega desta coisa de encanto. Ficamos com a premissa de que eu sou um enfadonho pessimista e vós um otimista amante do prazer."

"Seu remédio vem chegando."

"Espere. Tenho mais um artigo a acrescentar. É um idílio, tu pensar que a velhice é encantadora. Eis um sonho de horror, pois nada dura para sempre, se fosse um sonho bom seríamos sempre velhos."

"Eu tenho o poder de fazer coisas boas durarem eternamente, em minha memória."

"Chegará um dia se ainda tiveres com plena consciência, em que sua memória ficará pífia como a minha."

"Talvez não chegue. Mas se acaso, estou preparado. Tenho dotes em matéria de escrita."

"Explique-se."

"Anoto várias coisas que acontecem em minha vida. Assim sendo se falho em lembrar, leio e recordo. Faça isso, creio que Doutor Fritz dirá que te ajudará."

"Para mim isto é sinônimo de decadência."

Desce pela garganta e depois pelo esofâgo, o minúsculo comprimento impresso de gravuras de corações. Ernest regozija. Karl fita e escreve em sua carderneta. Doe-lhe a lombar, deita-se na divã em que à pouco estava sentado. Nada diz Ernest, pois esta imerso em seu mundo. Quem diz e pensa algo, eis quem aqui não lhe apresentado, senhor leitor. O cônjuge da Condessa V.H. que não eis o conde V.H, pois este já é falecido, reclama audivelmente para todos ali presente, sobre como as novas locomotivas estão decaindo em qualidade de frequentadores. "Essa gente não sabe como portar-se." Bragueja e bragueja sua esposa vem conte-lo, pois começava a envergonhar-se. Karl escuta de olhos fechados esta anarquia, ainda sim tenta relaxar no universo do meditar. De início Ernest desentende toda a ação, sua boca está amarga, chama o garçom que o ignora por conta de estar apartando a algazarra promovida pelo casal. Cessa a bagunça. Quem à fez acabar é o bom senhor Foxface, com seu arquétipo montanhoso faz qualquer indivíduo auto intimidar-se. Ele levantou-se mirou o meia-idade reclamador e este sentou-se ao lado de sua senhora, fingido que nada houverá. Ernest agora entendedor do ocorrido, agradece por meio de um balançar de cabeça o indivíduo da família canina. Sacode o trem. Ela passa por uma ponte de alvenaria. Eis que passa por transformação o clima lá de fora. Inverno, primavera doam sua vez para o verão desértico. Que escalda a pele seca destes senhores. Retira o casaco um o outro continua com o seu. Tem medo perde-lo. Por muitas vezes o aqueceu, fizeram história juntos, são apegados, possuem o mesmo odor. Só por não teres vida não significa que é descartável; Assim pensa seu dono. É necessário para algumas fases etárias, agarrar-se à algum algo inanimado para sentires acolhido e aconchegado. O que importa se dizem, que eis demasiado lúgubre trajar sempre o mesmo traje. Vive cá lá fora, cá dentro o bucólico tempo. Joga carta um grupo, Ernest gostaria de participar, mas nunca aprendeste está arte. Análisa uma rodada depois outra e mais outra. Já chega. Olharão zangados se continuares. Chapéu coco, mostarda, pego por Karl e realogado em seu rosto para impermitir a passagem perigosa de raios ultravioleta.

"Vejo que não dormes, Karl. Preste atenção no que digo. Ouvistes o que, o quase conde falaste?"

"Infelizmente, sim."

"Infeliz... Essa é a realidade. Por esta e outras inutilidades, eu não me encanto mais com a vida. A maioria nos vêem como ele, ou sejas, relíquias muitíssimas do passado que existe no presente, mas tens de viver como uma estátua. Se saíres deste personagem sempre haverá um irnegumino para constranger-te pelo aquilo que tu eis."

"Eu há muito sei disto."

"Finges que nada sabe."

"Assim vivo com qualidade."

"Auto enganando-se."

Retirar de chapéu da face, para alguns rápido levantar-se, para Karl ranger de tendões. Fizeste isto para contra-argumentar com serenidade.

"Vivendo da melhor e única forma que consigo viver sem me importar com que dizem."

"Em instante algum, não ficou revoltado com o que pensam?"

"Nunca, aprendi à viver só para mim. Por contrário se cogita-se sobre eles, correria grande risco de sucumbir à depressão. Já que isso jamais desejo, vivo no meu mundo encantado. Lá todos me querem bem e minha idade eis símbolo de juventude."

"Dizes o que lhe vir a veneta, para mim é iludir-te. Aceite o austero, todos os homens jovens de todas as espécies são maus com os velhos."

"Sua prole não age assim contigo."

"Tu falas isto, por olhares os meus fora do ângulo familiar. Para mim são eles também iguais. Generalizo, por ser sensível. E por não ser preciso desprezar-me para que me sinta desprezado."

"Escuto tudo que você, meu caro Ernest diz, e teorizo que devo continuar vivendo só. Afinal, eis improvável que eu decepcione à mim mesmo."

"Sobre este aspecto vive-se melhor."

São pequeninos os membros da trupe familiar de castores. A fêmea e suas filhas vestem vestidos outonais, o esposo alpargatas, meias de lã, bermuda haviana e nenhuma camisa. Estão à cruzar o corredor para na próxima estação zarparem. Rumam em direção à férias na Riviera. Cruzado por eles, eis livre o caminho para Ernest e Karl. A Condessa V.H dá beijocas no marido. Que distraído não os reconhece. Doutor Fritz terá de adiar seu embarque, pois também não voa quando existe deveras calor. Disputa inútil para saberes quem primeiro adentra o caminho. Karl vence, junto ao seu pesado casado que mudaste de cor devido ao humor de seu dono. De passo em passo a dupla cambaleia e firma-se no ombro alheio. Poucos apercebesem, os que percebem nada fazem. Desejam que partam logo. Cruzam a porta divisória de vagão. Brisa calorífica abraça suas faces. Não sentem calor, suas peles sempre estão com frio. Dona Libélula transmutada em borboleta, lhes diz "Olá" por meu do balançar de assas. Ernest e seus minúsculos botões de células nervosas, cogita que em breve seu envelhecer inicia. Coisa antiquada de acontecer com uma bela dama semelhante à ela. Algo não tristonho eis o refrescar neste novo vagão. Ainda na soleira da porta estão. Quem adentra primeiro? Os dois excitam. Nenhuma fisionomia lhes é familiar. Fêmeas e machos de outras bandas continentais. De Anatólia e grandes lagos africanos eis suas terras naturais. Pouco incomodam-se com o calor, são robustos. Ernest e Karl aparentam terem encolhido drasticamente. Karl decide, e vai à frente. Eis apenas sete metros para serem percorridos, o que poderá ocorrer? Queda, taquicardia. Efeito de estarem sendo filmados por gente estranha. Reumatismo, por tentarem caminharem rápido e os tendões articulares lhes travarem. Nada houverá. Transpassam estes metros sem o acontecer de nenhum acidente. Enjôo já passado. Persistência das mesmas mazelas. O corpo do senhor Ernest eis acostumado á sentir dores permanentes. Seja o dolor real, imaginário, ou fuguz o que fazes é lamentar. Saltitar como assemelhando-se à atores de musicais em pleno ato musical, eis um ato que nunca fará, portanto o que tens a fazer é o ingerir de placebos que lhe acalma. Respira Karl em compasso de modo que não surja um ataque de tosse. Muda de novo a coloração de seu casaco. Cinza chumbo eis a cor que tens vosso tecido, significância de aspereza, introversão, desencanto, que fazes o senhor que lhe segue sentir-se melhor e confabular: Desnutrido do viver no dourado sonho otimista, vives como eu. Até que mude-se de indumentária casaca, estamos no mesmo nível de realismo. O único existente verdadeiro paraíso infernal, deste mundo dispendioso com quem não eis mais jovem, tem por solução o recolher em seu próprio interior que seu tempo passou e o máximo conviver com gente que teve juventude, quando também tinha juventude, assim Karl irrita-me com sua forma de ver o mundo exterior, mas entendi-me como nenhum outro quando textualizo o que é existir sendo já velho.

Cair sob a aba do chapéu confete negros, alguns ao canto comemoram uma oferenda. Ducilissímo aruma de café que eis sendo coado na mesa de um solitário homem. Nossa dupla fita com indulgência á cascata marrom dissipar-se na xícara de porcelana bordada com figuras savanais: Girafas, zebras, vale de leões. Um bom homem, este indivíduo solitário que foste solicito, pois convida para seu degustar o casal antigo de velhos amigos. "Os senhores são ótimos." diz ele. Eiis um gatuno idoso disfarçado de jovem, congratula Ernest, pois somente senis alegram-se na companhia de outros de sua laia. "Tu fostes solicito conosco, mas temos de partir", fala Ernest, sobrepondo-se à ele "Não, podemos ficar um pouco mais, tu nada tens para fazer, Ernest." diz Karl. "Me dissera que iríamos respirar ar puro, no trocar de vagão experimentei-o e gostei, agora desejo mais." Seu amigo compadece. Em seguida já foi dito adeus ao cafeicultor homem solitário.

"Sempres senti a necessidade de se doador para alguém desconhecido?"

"Ele aparenta ser uma boa pessoa, e o que eis mais importante para nós: Fostes bom conosco."

"Não me correspondeu, por aquilo que perguntei."

"Sou demais velho para me doar."

"Mas tens carência. Que quando ganha atenção de qualquer alguém esquece de toda vida."

"Talvez esteja certo. Mas mais certo, eis que por momentos eis preferível esquecer."

"E retornamos ao mesmo assunto. Ilusão, preferência de querer viver sonhando."

"Fala como uma gaivota, sempre repetindo o mesmo grasno. Tu também estava lá e conversou com ele."

"Fui apenas educado. Sou reclamão e mau humorado, um exímio estereótipo do gênio velho, mas não posso propagar está verdade com gente que desconheço. É contra minha ética, por isso agi como um falso solicito."

"Viver da mentira, também é ilusório."

"Então, estou diante de um mentiroso ludibriador. Pois tu, Karl, mentiu para mim quando disse-me que eu estava melhor."

"Digo de novo: Realmente parecia melhorado. De qualquer forma, minha mentira sem querer, fez tu sair da cabine. E se Ernest beneficiou-se, você que é o Ernest de quem falo, saíste ganhando."

"Não tenho ouro entre meus dedos."

"Mas respira, e isto eis um grande tesouro."

"Em alguns momentos sim, noutros não. Fostes prazeroso prosear com aquele homem, o tempo passou zunido, mas e agora Karl? Voltamos a mesma deriva; dores e remédios. Parece semelhante às visitas de minha família, uma tarde com netinhos pardais inquietos e outros chatos pardais velhos perguntando como estou, eu sempre minto e digo que estou bem, de modo para não se preocuparem. Depois à noitinha, eles se vão e eu fico como estou agora. Meio frágil, meio triste, clamando para os deuses que retrocedam o tempo e façam existir novamente momentos plenos, em que eu não me lembro quem sou e quais são meus problemas, ou, que que façam o tempo correr, para que eu não mas exista e abstenha-me de... Sofrer não é a palavra adequada, mas pode ser empregada. Portanto, gostaria apenas de me abster, porque esta difícil viver assim, e tudo que poderia fazer já fiz. Não há mais nada forte o bastante, para me prender há este mundo."

"Essa é a vida, meu amigo. Somos ultrapassados. Concili-se com o fato de que nosso tempo passou.

Inverno para a família pinguim, duas mesas à frente da que estavam nossos senhores. Ao passar por ela espirros, nada devido a etáriedade, tudo devido à baixa temperatura sub zero, mantida para o bem-estar dos clientes antárticos. Aviso do agente ferroviário para imediatamente todos fecharem as janelas, pois em breve irão adentrar o Grande Túnel. Onde suas pedregulhosas paredes aliadas a triplidação fazem existir tornados de poeiras, no interior locomotivil.

Bengala negra sintillante, não usada por orgulho, sendo carregada entre o antebraço e as costelas de Ernest, trotar e empurrar nas costas deste por Karl, para que se apresse.

Segurança impermite o transpassar, argumentando "Senhores, o próximo vagão eis o de bagagens. Não tens nada lá, que lhes interessam." "Jovem deixemos passar." diz a dupla em uníssono.

"Eu tenho uma bengala, sou louco e vou bater em vocé senão nos deixar passar."

Diz Ernest, fingindo valentia e após, virando-se para Karl fazendo carretas divertidas. Enquanto seu amigo finge estar introvertido, mordendo a língua para não rir.

Põem-se ao lado da esquadrilha o agente de calça negra e colete vermelho, que possui lantejoulas na região peitoral esquerda, onde lê-se o nome de seu local de trabalho.

Vistas de cataratas, adaptam-se à nova luz insalubre. Malas roxas, laranjas... Báu amarelo, caixas para enormes chapéus, produzidas por meio da madeira ciprestes. Veludo vermelho sangue, ao teto colado. Ao chão pilhas de tapetes. Difícil caminhar, atacar asmático e acesso de tosse. Fechar de olhos, paciente recompor, sentados no depósito de carvão. Em poucos minutos, estão já de pé, sujos. Suas mãos, negras, porosas, suas vestes também negras mantendo em poucos lugares coloração cinza, por conta do menor contado carvoeiro. Casaco de Karl, sinônimo de felicidade, pois está rosa. Nenhum toma nota destes eventos, por culpa da falta de luminosidade. Valise branca aberta. Sinalizar de cabeça de Ernest, para que seu companheiro pegue as lindas jóias, ali depositadas. Resignação Karlnoniana.

"Pensavas que era tu, o encantado por o que é belo."

Por não conseguir reter-se á uma provocação, Karl pega e senti em seu tato toda a arte joalheria. Ir ao paraíso, Ernest experência. Gelada pedra de esmeralda em sua face, relembrar de sua senhora, que às amava. Agora, pedra verde em seu ouvido, semelhante à concha marítima, faz-lhe relembrar sua prole que tanto amava a areia praiana molhada entre os dedos. Pegar de anel cravejado por diamantes, dedos perpassando estas pedrinhas, recontar de sua pequenina mãe. Aroma de matagal pós corte, recortado mentalmente. Esquecer-se do mundo, por brevíssimo tempo exterior, por tempo inestimável no seu interior, o viver, o sentir, o entender do que dizia Karl; O encanto. O poder ali ficar para sempre. Uma gota, outra gota ao chão, são lágrimas. Senhor Karl, docemente fotografando esta cena em sua lembrança.

Reguardar joalheiro, caminhar e sair de vagão. Ar irado sobre as faces. Contemplar de paisagem rural e de vinhedos. Sacada de trem estreita. Nenhuma palavra dita. Forte cheiro de uva. Adentrar no Grande Túnel, de modo algum abrir os olhos ou boca, som de impacto ouvido junto ao das metálicas rodas. Sair de túnel, limpeza de face, abrir de olhos, olhar para a direita e não ver Ernest, olhar para frente e vê-lo nos trilhos, abandonado, cada vez ficando menor neste mundo novamente invernal florido, menos Ernestiano, mais Karl desencantado. Abaixar de cabeça inconformado, pensar "Isto é mesmo real. Não consigo crer." Perdido olhar lacrimoso dirigido para suas mãos, perceber que estas estão negras e vosso casaco nunca tão negro como neste dia, final de uma vida.

Helena de La Dauphin
Enviado por Helena de La Dauphin em 23/02/2020
Código do texto: T6872527
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