ENTARDECER DE PÂNICO

Timon, março de 2000. Quase 16h. “Dona Sara”, uma senhora de seus mais de 40 anos, varria a porta de casa quando ouviu um barulho enorme lá no fundo do quintal. Correu pra conferir. Ao passar pela sala, viu sua TV ligada. “Mas estava desligada desde o meio-dia”, pensou. Ouviu também o rádio num programa em outra língua que ela não conseguia identificar. “O rádio também não fora ligado àquela tarde”. O barulho do quintal cada vez mais alto, era como se fosse um monte de crianças danadas na hora do recreio e ao mesmo tempo, adultos ralhando violentamente; uma zorra. Desligou a TV e o rádio e seguiu. Na cozinha, mais surpresas: a geladeira com a porta escancarada, o fogão com as quatro bocas acesas, a pia derramando água pela bordas e os fósforos jogados por toda a cozinha. Não havia dúvidas, a casa tinha sido invadida por um bando de crianças desordeiras, mas como ela não percebeu nada?

Ao sair no quintal, outro susto: sangue por todos os lados, nas plantas, no muro, nas roupas do varal, no varal e nenhum ser vivo, nem rastros de gente, nem sinal de alguém.

Uma sensação de medo e loucura tomou conta de “dona Sara”. As pernas trêmulas e enfraquecidas não a permitem voltar pra casa. O grito não sai, o coração disparado, quase rasga o peito. Lágrimas involuntárias escorrem abundantemente. Ela cai, rasteja até a porta da cozinha, de repente, já é noite, tudo escuro e tudo que ela havia desfeito na cozinha já estava de novo como agora há pouco, mas ainda pior, até os palitos de fósforos do chão estavam agora sujos de sangue, muito sangue, um odor imenso, o fogo do fogão queima sangue. Ela tenta desligar os botões do fogão, não consegue, joga um pano nas bocas, o pano pega fogo, ela joga o pano no chão, os palitos acendem-se, a cozinha começa a arder em labaredas enormes, ela chora, agora grita bem alto, sente sua pele em brasas e desfalece em meio às chama e relembrando de vários momentos felizes naquela mesma casa.

Cerca de 72 horas depois, “dona Sara” acorda num leito de hospital. Os vizinhos ouviram seus gritos e a socorreram. Não estava com queimaduras, nem sua casa houvera sido invadida. Na verdade, nada do que ela descrevera foi constatado pelos vizinhos, a não ser o cheiro forte de sangue queimado, que até hoje exala pelos cômodos da casa, antes uma escola e que está abandonada desde aquela tarde de março de 2000.

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Roger Ribeiro
Enviado por Roger Ribeiro em 23/01/2020
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