UM PRESENTE DO RIO
Era quase noite na terra do faz de conta, no mundo da fantasia, o sol caía de mansinho enquanto o luar resplandecia prateado no céu. Um jovem pescador estava sentado em uma pedra apreciando os peixes dourados que pulavam nas águas límpidas do rio, pensando na vida sofrida que levava, esperando pelo anoitecer. Ele era muito pobre e morava com sua linda e jovem esposa em uma casinha humilde dentro do coração da floresta. Costumava sempre pescar quando escurecia, pois o que vinha do rio era a sua única fonte de renda. Respirou fundo, enchendo os pulmões do ar impregnado pelo forte aroma da terra molhada. Observou o cenário: somente calmaria. Lá nesse mundo distante tudo era magia, mas muita coisa podia acontecer... De repente, um clarão turva os olhos do pescador, e ele percebeu que estava se formando uma tempestade, permaneceu quedado esperando sua sorte, quem sabe o vento forte não a levaria para bem longe dali, e o deixaria pescar com tranquilidade. Foi quando começou a ouvir um chorinho baixinho, o som foi aumentando, e logo ele avistou uma caixa de madeira na beira do rio, um caixote fundo e reforçado, sem abertura nos lados; ele se aproximou devagar e viu um lindo bebê, uma garotinha de olhos brilhantes e cabelos dourados, tão pequenina e frágil, quase transparente, de aproximadamente um aninho de idade, ela parecia assustada e faminta. Ele segurou-a em seus braços e saiu correndo sem nem olhar para trás...
O jovem pescador corria dentro da floresta escura, com muito cuidado, pois que temia pela sobrevivência da linda garotinha... Horas depois, muito cansado de tanto correr, conseguiu chegar ao seu destino, e entrou em sua casa gritando pela esposa, que se encontrava na cozinha preparando o jantar:
- Rute, cadê você! Venha aqui, por favor!
A jovem Rute correu até o esposo e perguntou-lhe:
- Abel, por que tantos gritos? O que aconteceu? O que tem nesse caixote?
O jovem Abel olhou firmemente para sua esposa; ele tinha um semblante preocupado, e logo lhe respondeu:
- Venha até aqui, e olhe com seus próprios olhos! Veja o que encontrei dentro dessa caixa na beira do rio. Cuidado para não desmaiar!
A jovem esposa de Abel se aproximou devagar, e seus olhos não acreditaram no que viram, e Rute quase chorando falou:
- Meu Deus, é uma linda menina! Abel, eu acho que ela está faminta! Vamos alimentá-la depois pensaremos na situação.
Rute segurou o bebê no colo e apertou-o bem no lado esquerdo do peito. A garotinha sentindo o calor e acolhimento humano encostou sua cabecinha no ombro da Jovem esposa do pescador, e logo adormeceu. Rute fez um leite reforçado e alimentou-a ainda dormindo, deixou a garotinha em segurança na cama do casal e foi conversar com seu marido.
- Abel, o que faremos? Não podemos ficar com a garotinha sem saber se ela tem família ou não! Ela é tão frágil e precisa de segurança e ajuda.
O jovem pescador envolveu sua esposa em um longo abraço e os dois permaneceram chorando abraçados, eles sofriam muito naquele momento, pois que a esposa de Abel não podia ter filhos. Abel prometeu para sua esposa que logo que amanhecesse ele iria procurar em cada vilarejo, em cada reino e em todos os lugares pela procedência daquela linda menininha. Se Deus deu aquele ser pequenino de presente para eles, e o presente veio justamente pelo rio, eles precisavam ter certeza para depois agradecer e acolher por completo aquele presente tão precioso.
Quando amanheceu, era hora de Abel colocar os pés na estrada e percorrer o mundo à procura de alguém que pudesse esclarecer a presença daquela linda menininha na vida deles. Na cesta de viagem, ele levava bolo de arroz e água para matar sua fome e sede durante sua caminhada. Enquanto isso, Rute cuidava da pequenina com todo amor e carinho, como se fosse a sua própria filhinha...
Abel foi caminhando devagar, parava em toda casa que encontrava e perguntava aos moradores se eles sabiam da história de alguma criança desaparecida, em especial uma garotinha de olhos brilhantes e cabelos dourados como o brilho do sol... Dia após dia Abel caminhou pelos quatro cantos da terra já sem esperança de encontrar alguém que resolvesse sua situação. Cansado da exaustiva caminhada, o jovem pescador apoiou-se na parede de um velho casarão e ficou lá totalmente desfalecido. O silêncio foi quebrado pela voz grave de um senhor idoso:
- O senhor precisa de ajuda? Parece cansado e abatido, pois entre que te darei água e um prato de comida.
Abel olhou para o bondoso senhor e contou para ele o motivo daquela longa caminhada. O senhor que o acolheu disse que se chamava Davi e era o maior sábio daquela redondeza, uma figura importante por ali. Todos acatavam suas ordens e o respeitavam. Ele prometeu para Abel que daria uma certidão de nascimento para a criança encontrada e, deixaria a guarda da garotinha para ele e sua esposa Rute. Abel agradecido a Deus e ao senhor Davi pelo ocorrido voltou feliz para sua casa e para o encontra da sua família...
Depois de três luas o jovem pescador chegou a seu lar. Ainda na porta de casa Abel escutou sua esposa cantando uma linda canção de ninar para a pequenina criança. Ele parou em frente da esposa e interrompeu a linda melodia e logo falou:
- Rute, eu tenho uma ótima novidade! Eu não encontrei nenhuma pessoa que conhecesse os pais dessa criança, porém encontrei um senhor da Lei que me concedeu a certidão de nascimento da pequena, e nós seremos seus pais para sempre. O nome da nossa filha será Maria Cristal.
A jovem Rute correu ao encontro do marido, eles se abraçaram, e dessa vez choraram de felicidade...
O tempo passou depressa... Já crescida e linda a jovem Cristal casou-se com um rico príncipe, e deu uma vida próspera aos seus pais que tanto amava. O Senhor Abel não precisou mais ser pescador e passou a ajudar seu genro na administração da sua fortuna, enquanto Dona Rute ficou ajudando a sua filha no ofício de ser mãe. E todos foram felizes para sempre...
Aqui termina a historinha da bela Cristal. Espero que vocês tenham gostado do Era Uma Vez... Até a próxima!
Elisabete Leite