O nascimento de Amana

Era a primeira hora do dia. A escuridão do céu ainda permanecia intensa e se misturava com pontos luminosos no céu. Jari olhava pensativo para aquela imensidão de firmamento. O olhar atento do guerreiro encontrou desenhada no céu a constelação da Ema.

Encantado com a amplidão, por quase uma hora, esqueceu-se de toda sua preocupação. Lembrou que a constelação anunciava um tempo produtivo para a aldeia. A constelação da Ema anunciava que a terra se preparava em sua fertilidade. Imaginou que dali a alguns anos estaria com os parentes de sua tribo, junto com o seu taíra, o filho, alegres e festivos pela chegada do novo sol.

Nesse pouco tempo, imaginou seu kurumí espalhando alegria na família. Viu o menino correndo em meio à floresta, subindo nas árvores brincando com seu xerimbabo. Ensinou ao kurumí a atravessar o grande Solimões, a dominar a canoa no banzeiro... ensinou-o os segredos da caça...

De repente, lembrou-se de que sua esposa estava na uka acompanhada por duas mulheres moaras, as parteiras, que ajudavam-na naquele momento tenso, que era a chegada de seu primogênito.

Jari resolveu se aproximar da casa para saber de alguma novidade. Não ouviu nada, a não ser o gemido desesperado e ofegante de Iandira, que lutava pra por o menino no mundo. O coração do futuro pai misturava-se de medo e a alegria. Avistou ao longe a grande fogueira. Lá todas as famílias ‘velavam’ o fogo, animadas com a chegada da nova energia que estava por vir.

De repente, um choro de criança ecoou de dentro da modesta tapera. O coração de Jari rufou como tambores em festa. Uma das moaras pegou aquele serzinho, que assustado com o frio tocando na pele, gritava um grito alto e desesperado. A moara enrolou-o num pano reservado para aquele momento, enquanto o pai de longe olhava calado, estático, para aquele ser tão frágil.

A mulher moara olhou para Jari com um sorriso nos lábios e disse:

É uma cunhã.

Iandira procurou o olhar de Jari, que mesmo desapontado, colocou um sorriso no rosto e disse à sua esposa:

_ Nossa cunhã veio trazer alegria a todos.

E saiu com um ar de decepção, pois esperava um kurumí. Chorava calado em sua decepção, olhou para o grande céu que distanciava a Constelação da Ema.

Sentiu então uma gota de água cair em seu rosto. Só podia ser um sinal, pensou Jari, pois a água é um símbolo de vida para o povo kambeba. Tomou força respirando profundamente e voltou para a uka. Encontrou Iandira amamentado a pequena cunhã.

A mulher não disse uma palavra, pois se sentia fraca, não pelo momento do parto, mas por não ter dado a Jari o kurumi que ele sonhava.

Jari roçou o dedo indicador no rostinho da menina que encarou o pai como se quisesse dizer algo. Ele riu para a filha e disse: Ela se chamará Amana _ que significa a água que vem do céu _. Ela trará mais vida a nossa família.