deuses necessitam de humanos

“Deusa amada...”,

Nossa cúpula anciã atencionou-se ansiosamente e até deveras desesperadora quando ele nos convocara pela a primeira vez, a uma de nós. Afrodite, Atena, Ártemis, Deméter, Hera. Afrodite fora a mais egocêntrica ao apostar de que seria a ela. Continuamos a esperar pelo o segundo chamado dele, finalmente o denominador pactual a uma de nós, e eventualmente viria. Nós observávamos-no pelo o espelho invisível a olho nu que divide aos nossos mundos, esta janela indiscreta, que se o ser humano ao menos soubesse que todas as suas indiscrições são observadas à finco julgadoramente deste lado a traçar a dualidade entre a morada final de cada um após o último sopro de vida esvair-se, talvez não necessitariam de deuses. Numa época na qual a presença invisivelmente onipresente dos deuses decaíra-se gradativamente rente à invisibilidade, nós estamos famintos, ávidos pelo néctar crente tal qual derramavam sobre nós há eras. Nossa casta que numa época já alcançara o seu pilar imensuravelmente adorativo em ouro fragilira-se rapidamente rumo à descrença, pois a própria humanidade egoísta por compartilhar e dividir, delimitou-lhes de que poderia existir só a um deus, ou a nenhum além deles próprios.

E, com tanto ocorreu, durante uma discussão em que ele lutava falhadamente pelo o seu lado, — “Pelo amor de Ártemis!” — ele proclamara pidantemente.

Meu ser avulsionou-se à uma primeira batida de vida tal qual soou-se dentre nossa cúpula ao entoar de pássaros esperançosos a cantarolarem o fim de sua solidão. Meus braços aviveram-se rastejadamente em ramos verdes ao banharem-se de sua sede em chuva torrente. Meus olhos reabriram-se em flores a desabrocharem-se à uma nova vida. Meus nervos saltitaram-se similares à veados jovens galopantes dentre uma floresta. As demais deusas, embora descontentes, celebraram-me.

A partir daquele pacto clamado, delimitei-me a observar a ele e a moldá-lo a partir de suas crenças, as minhas próprias. Ele figura-se em um belo rapaz, negras madeixas encaracoladas e inconstantes de seus rumos, de um porte avacalhado, de personalidade tímida, de objetivos retraídamente desconcentrados, mas de uma energia implodida demasiadamente fogosa. Ele molda-se em uma alma que embora rasgada e manchada pelo o mundo, o seu sangue permanece puro, uma alma valiosa a ser caçada. Apontei-lhe minhas flechas concentrativas, para que ele delimite planos, limites, alvos. Envolvi-no ao meu manto desbravador, para que ele desenvolva a coragem em caçar o que convém-lhe e a sua fome coage. E, não obstante, também manipulei-o para que ele clame ao meu nome mais, mais, e mais, para que sinta-me a acalentar a suas entranhas com o néctar crente de que existo, e portanto, em suas tribulações, que ele sacie-me reciprocamente. Esta é uma relação equilibradamente recíproca, porém ele é apenas mais um veado instintivo dos quais cacei durante a minha juventude térrea — preparo a um terreno ao qual possa manipulá-lo até torná-lo o menu de minha fome abissal e em seus ossos moldar a mais uma de minhas valiosas flechas banhada reluzentemente por sua alma ao meu gosto.

ilLoham
Enviado por ilLoham em 18/12/2019
Reeditado em 01/11/2023
Código do texto: T6821874
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