Eu conto, um conto
Lá no alto do morro, ainda existia aquela casa exatamente como era há muito tempo atrás, a mudança foi só nas paredes mais escuras, pois o reboco ficou envelhecido, o telhado também nitidamente com ares de que precisa vários reparos, era mais uma casa sem destaque naquela cidade.
Mas aquele lar havia outras mudanças visíveis: Sr. Renato, com 70 anos, D.ª Ivone 66, os filhos, Renatinho e Ivanise, já crescidos, tinham suas vidas, filhos, casas bem retiradas dos pais, continuavam pobres, quer dizer, não uma pobreza extrema, mas viviam almejando sempre mais, para algumas pessoas significa viver no arrocho (viver apertado)
Sr. Renato estava ali, lutou a vida inteira, já estava aposentado, trabalhou muito na profissão de pedreiro, na ativa pagou sua contribuição à razão de 3 salários mínimos, hoje não recebe um salário e meio de aposentadoria (interessante não é? Se um trabalhador contribuiu com mais x teria que receber relativamente o que pagou! Onde está o dinheiro recebido a mais? Se quem tiver lendo pensar: --- Está no bolso de muitos graúdos!... Ah! Então é a mesma opinião minha, rs...rss...) imaginem, seu Renato um pedreiro e considerado um dos bons, mora em casa de aluguel, não conseguiu construir a sua própria moradia, sua esposa D.ª Ivanise sempre alfineta:
--- Casa de ferreiro, espeto de pau! Outras reclamações também:
Éramos pra estarmos melhor, mas meu esposo Renato é muito mão aberta, quando alguém está muito necessitado, ele sempre está pronto para tirar a roupa do corpo e dar a quem precisa! Veja bem moço, eu estou precisando de um tratamento sério, tenho vários problemas de saúde, preciso de consultar vários médicos particulares, para fazer uma consulta realmente bem feita, Não é que eu fale demais criticando o meu marido, até que o admiro, mas tenho as minhas razões, não é? Palavras que D.ª Ivanise repete sempre na sua franqueza nata.
Um dia para um carro na frente da casa do Sr. Renato, mas desses carros de deixar qualquer um de boca aberta de tão chique. O dono o dr. Josef diretor de uns dos maiores hospitais de uma grande cidade, o hospital tão importante, que tem fama mundial pelos seus feitos.
Dr. Josef, tinha apenas seus 35 anos, mas com uma grande bagagem de fama pelos seus conhecimentos científicos, um grande médico! Ele ficou aliviado quando viu que aquela casa estava no mesmo lugar, estava torcendo para encontrar ali as mesmas pessoas que ele teve contato há muitos anos atrás. Desce de seu carro e bate na porta da casa de seu Renato:
Toc. Toc... quem abre é D.ª ivanise, Dr. Renato diz:
--- Bom dia, Sra. o Sr. Renato está?
--- Está sim, vou chama-lo.
Ela sai espantada e vai chamar o marido, ele está acomodado na sala vendo televisão, ela visivelmente alarmada diz:
--- Renato, está aí um homem muito importante querendo falar com você, pela aparência dele deve ser muito rico!
Seu Renato vai se levantando mas fala:
--- Se for proposta de trabalho, sinto muito, minha velha, mas não estou em condições de trabalhar não!
--- E eu não sei disso? Responde ela bem resoluta.
Sr. Renato dá uma espreguiçada e levanta, encaminha até a porta, vê o visitante, de cara sabe que pode confiar no estranho, ele quase nunca se enganava com as pessoas.
Dr. Josef, vai logo dizendo:
--- Sr. Renato, posso falar com o Sr?
--- Pode entrar moço.
Dr. Josef começa:
--- Em primeiro lugar me apresento, sou o dr. Josef, diretor do hospital tal... o Sr. deve estar espantado porque eu sei o seu nome, mas acontece que eu nunca esqueci do Sr. nem da sra. D.ª Ivanise. Nessas alturas ela já estava curiosa mesmo, senta na sala querendo saber do que se tratava.
Como estava dizendo, nunca esqueci de vocês, o Sr. vai entender porque. (o médico vai continuando)
Lembra exatamente 28 anos atrás, o Sr. estava naquela varandinha, sentado, apareceu um homem, uma mulher e um menino, todos maltrapilhos, o homem lhe fala se tinha alguma coisa para comer, nem se fosse só para o menino, que havia dias que quase que não se alimentava. Sr. Renato, arregala os olhos e diz:
--- Lembro, claro que lembro!
--- Ah! Ainda bem, seu Renato, que o Sr. lembra, então vou continuar: o homem era meu pai, a mulher minha mãe e o menino era eu.
Naquele tempo vivíamos de cidade em cidade, meu pai não conseguia achar um emprego, viemos pra cá, a nossa vida cada vez pior, meu pai até praticou alguns deslizes, pequenos furtos de apenas comida para matar nossa fome. Fomos considerados marginais, expulsaram-nos daqui. Meu pai estava desesperado, minha mãe só chorava, eu revoltado com a falta de amor de muitas pessoas, já não acreditava mais em ninguém!
Lembro muito bem e o Sr. também, quando o meu pai lhe pediu ajuda, o Sr. não só nos acolheu, nos alimentou, está na minha mente quando o Sr. esquentou a sua comida, que já estava pronta e na mesa nós alimentamos como nunca tínhamos alimentado. Na despedida nos deu uma importância para viajarmos e incentivou meu pai a não desistir, dizendo que ainda existia pessoas boas neste mundo, ele acharia algum meio de subsistência, voltando para mim me perguntou:
--- o que você quer ser quando crescer?
--- um médico, eu eu respondi.
--- então você vai ser um grande médico, mas precisa estudar, lutar e nosso Deus vai ajudar!
Mas se tiver mágoa de alguém precisa aprender a perdoar, porque o ressentimento machuca, impede de continuarmos bem esse caminho do viver e poderás ser um grande homem com aquele sentimento que é o maior de tudo nesse mundo, esse sentimento é amar nosso semelhante independente de tudo.
--- E aqui estou, Sr. Renato, não vou lhe pagar, porque não existe dinheiro que pague o que fizeste por mim, mas quero lhes ajudar em tudo!
D.ª Ivanise estava lívida e pensava:
--- Meu Deus! Vale a pena ter um esposo assim!