"UM CIDADÃO BRASILEIRO"


     Um poeta popular. Acredito até que seja um poeta sertanejo destes que nascem com a poesia na alma, que não se importam se as palavras precisam estar escritas corretamente, mas que escreve sem medo de errar. Escreve como ele e a comunidade onde mora... fala.

     Vivendo no campo, o homem aprende a tirar proveito do que é puro e consegue manter assim a sua alma, ligado ao bucólico, permanece bom e ao mesmo tempo deseja que todo o seu mundo seja como ele, bom e justo.

     ''Infelizmente as pessoas simples pecam, às vezes por querer ser bom e sua simplicidade fica marcada no que escreve. Um destes poetas que eu não sei de onde é não sei o nome, nem mesmo se vive ainda... Escreveu uma moda de viola tentando de alguma maneira chamar a atenção das pessoas para a discriminação com as pessoas idosas.

     A letra com as palavras bem caipiras serviria bem ao intento, se ele não tivesse cometido o pecado de ter colocado um titulo racista que acredito, o fez por simplicidade e sem nem pensar que aquelas simples palavras que ele deve ter crescido ouvindo como coisa natural “hoje é crime e deveria ter sido sempre ensinado como crime”.

     O titulo da música é: (O PRETO DA ALMA BRANCA). Ouvi a moda ser cantada por uma dupla caipira amadora, formada no trabalho e que no horário depois do almoço cantavam e divertiam os colegas, com esta e outras musicas que cantavam muito bem. “No entanto este titulo é uma das frases mais racistas que eu vi até hoje”.

     Quando estive trabalhando fora do Brasil à saudade daqui estava sempre no pensamento e eu me lembrava da moda de viola, e aos poucos fui recompondo as palavras até que a letra ficou completa e como eu não tinha parceiro para cantar comigo, eu passei a declamar a letra enquanto dedilhava ao violão alguns acordes de “abismos de rosas”.

     Sempre que eu ia declamar eu evitava falar o titulo, até que resolvi mudar o titulo e tirar as palavras que também estavam no corpo da música, peço desculpas ao autor ou a quem detém os direitos autorais, pois de forma alguma eu quero me apoderar da letra, se estou comentando aqui, é por que na minha declamação além da letra existe uma história que conto para completar o meu recital que faço hoje, apenas para minha família nas festinhas de casa e quando as vezes me pedem.

     O conto que vou desenvolver aqui é calçado nesta moda de viola e que o meu sonho é que se alguém conhecer pessoalmente o “Rolando Boldrin”, grande artista, talvez o convençam a declamar o texto ou pelo menos a música que eu hoje chamo de: “UM CIDADÃO BRASILEIRO”.

     Pode ser que o texto escrito, não provoque a mesma comoção que alcança quando é declamado, pois, a entonação da voz e os gestos é que dão à interpretação o tempero certo para que as pessoas emotivas e com sensibilidade para a poesia encham os olhos de lágrimas, e sintam vontade de serem bons e mais justos com as pessoas.
 
"O PRETO DA ALMA BRANCA"

(Um cidadão brasileiro)

"Fazenda da liberdade adonde o coroné vivia
seus colonos empregados gozavam de arregalia,
mas tudo que é bom se acaba cada coisa tem o seu dia
Foi numa tarde de maio o coroné falecia,
um preto veio chorou na hora que o caixão saia,
ele era o peão mais antigo, que na fazenda existia... ai.

Com a morte do fazendeiro seu filho ficou patrão
mas não herdou do seu pai aquele bom coração,
mandou chamar o preto velho e falou sem compaixão
vou mandar mercê embora não tenho mais precisão,
preciso aqui de gente nova pra cuidar da criação
foi mais um golpe doido na vida de um cristão... ai.

No palanque da mangueira o preto velho encostou
ali de cabeça baixa seu passado arrelembrou
quantos boi cuiabanos o seu veio laço segurou,
quantos potros redomão sua espora chilena quebrou,
um estalo no portão nesta hora ele escutou
um pantaneiro furioso, na mangueira penetrou...ai

A filha do fazendeiro sua prendinha querida
aquele anjo inocente brincava tão entretida
o preto saiu correndo com suas pernas enfraquecidas,
parou na frente do boi quando ele se deu na investida
nos chifres do pantaneiro suas forças foram vencidas
pra salvar a sinhazinha ele arriscou sua própria vida...ai.

O fazendeiro correndo seu revolver disparou,
derrubou o pantaneiro, mas nada disso adiantou.
Abraçando o preto velho, o coitado ainda falou,
mande benzer a sinhazinha do susto que ela levou
eu tenho que ir embora minha hora já chegou
e o (preto da alma branca) deste mundo descansou... ai".



 
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 14/10/2019
Reeditado em 17/10/2019
Código do texto: T6769282
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