A Dama Do Castelo.
Uma névoa fina cobria toda a paisagem. O sol ainda não conseguia jogar seus raios para dispersar aquela densa neblina. Novamente eu estava caminhando em direção ao castelo, ainda não sei porquê repetia este ritual a tantos anos. Qual seria o real motivo? Era automático, algo que não podia controlar, como se algum magnetismo me atraísse... Mesmo contra minha vontade sabia que estaria lá exatamente como estava determinado. Já me sintia um pouco cansada de tudo aquilo. Da última vez que lá estive, a paisagem estava linda...Era primavera, o campo entrava lindo! Com flores delicadas. A região era de variedades raras todas muito coloridas, e espalhavam um perfume suave no ar. Agora não vejo cinco metros à minha frente. A neblina turva minha visão, sei que estou aproximando do Castelo ,a subida íngreme está árdua neste momento. Recordei-me que a certa altura, existe uma cachoeira que derrama sua água cristalina e espumada do alto da montanha.
Já ouço o som das águas caindo entre as Pedras, sei que mais alguns minutos estarei novamente diante daquele porta gigantesca e resistente... Irei bater novamente aquela argola enorme e pesada no pequeno ponto,causando um barulho alto e metálico. Era só esperar alguns minutos e o Sr.Vitório viria abri-la. Certamente não direi uma única palavra...quando ele se curvar e dizer..."senhora"... Apenas subirei rapidamente a escadaria de madeira maciça, que leva ao piso superior. Novamente endireitarei aquele retrato enorme, que fica na parede estrategicamente na metade da escadaria. Nunca entendi porque todas as vezes ele está torto, endireitei todas as vezes ...E quando retorno encontro-o novamente torto. Após as escadarias existe aquele corredor imenso e mal iluminado que dá acesso, aos mais de vinte aposentos, todos foram usados pela Realeza do século passado. Tudo tem dimensões extremamente grandes, as portas são muito pesadas e altas, as paredes saem completamente do padrão comum imaginável.
com passos rápidos irei passando por várias portas, sem entrar em nenhum dos aposentos. Pararei novamente diante da sétima porta, girarei umas chave de bronze enorme com as duas mãos, a porta se abrirá e entrarei. Certamente saberei exatamente o que devo fazer, pegarei aquela caixa de madeira pesada, colocarei sobre aquela cama feita em Carvalho, modelo Luís quinze, usados daquela época. Dentro da Caixa estará apenas fotos
e joias, que a mim pertenceram. Trocarei o anel que uso na mão esquerda. Não é uma aliança... Nunca entendi porquê sempre fiz as mesmas coisas. Sempre olho duas fotos muito antigas, elas representaram algo particular e importante, mas não recodo... Uma das fotos é de um rapaz, quando a olho sinto muita tristeza, a vontade de chorar é muito forte... O coração fica apertado, então não contenho e derramo meu pranto sobre ela por algum tempo. A outra é de uma família, com oito pessoas, a foto é igualmente antiga. Esta não causa-me tanta dor, apenas saudades e algumas lembranças alegres. Uma sensação boa, misturada a saudade! Guardo tudo novamente na caixa, cubro com o veludo preto e devolvo-a no lugar de sempre. Observo os móveis... todos seguem o estilo do século passado
Como todos os outros existentes naquele castelo. Estão se deteriorando com o tempo, apesar dos cuidados que Vitório vem tendo em todo este tempo. Vitório tem mais de cem anos de serviços prestados a família real. Sem mais nada a fazer, sempre caminho em direção a porta. São vinte e passos. Fecho a porta lentamente atrás de mim, seu peso impede-me de faze-lo rapidamente. Giro a chave imensa novamente trancando-a, e sigo em frente... Diante de outra porta, paro e faço uma oração, sei que ali nunca entrarei, o motivo eu nunca soube... Apenas entendo que não posso entrar. Dou meia volta e retorno à escadaria, verifico se o retrato ainda permanece alinhado. É um retrato de uma linda mulher, seu rosto expressa tranquilidade, seus trajes são da realeza, tem uma tiara de brilhantes com esmeralda na cabeça, em um dos dedos, ostenta um anel com esmeralda cravejado de brilhantes... Aquele anel está na caixa juntamente com uma gargantilha, um pingente idêntico compõe o conjunto de jóias rara. Chego ao fim da escadaria com uma tristeza profunda no coração, as lágrimas banham meu rosto gelado.
Vitório está a minha espera no final da escadaria, como sempre com aquela xícara de porcelana antiga, o chá Jasmim fumegante seu cheiro inunda o ambiente. Sorvo um grande gole, na esperança de junto, engolir um pouco daquela tristeza. Eu e Vitório nunca trocamos uma palavra em todos estes anos. Ele sabe quem sou,e eu sou grata a ele pela dedicação centenária. Na porta de saída ele curva-se novamente, repete o tão familiar "senhora"... Certamente ficará observando-me, enquanto afasto pensativa. Sempre saio do castelo um pouco mais aliviada. Ando lentamente como se estivesse pezarosa em abandonar aquele lugar. Após caminhar poucos metros, olho para trás,e vejo o castelo encrustado na montanha, falo comigo mesma..."Já conheço este lugar" É claro que sim, sempre fui lá nos meus repetidos e idênticos sonhos. Estes sonhos foram verdadeiros. Eles fizeram parte da minha vida durante anos. Começaram quando completei dez anos de idade, e foram até aos quinze anos. Sempre foram exatamente iguais. Aos quinze anos, simplesmente se foram, nunca mais voltaram. Todas as vezes eu acordava com o rosto molhado de lágrimas
e com o coração apertado. Não eram sonhos diários, não tinha dia certo
apenas aconteciam. Eu nunca soube porque surgiram, menos ainda, porque se foram.
Até hoje são inesquecíveis para mim, pela riqueza de detalhes e a carga emocional fortíssima que caía sobre mim.
Era algo sobrenatural, surreal, algo especialmente espiritual.