SURREALISMO MUITO... REAL !

SURREALISMO MUITO... REAL !

"Há mais coisas entre o céu

e a Terra do que sonha

nossa vã Filosofia."

W. SHAKESPEARE

As 2 jovens "se bicavam" desde o dia em que nasceram... passeando com suas "mães adotivas" ("boadrastas", como quer o "povão") tornaram a se estranhar:

-- "Você de novo, nojenta... não pode ir pela outra calçada"?!

-- "Ando por onde eu quiser, sua metida" !

-- "Huuumm... e essa "roupitcha", que coisa pavorosa" !

-- "E você, que só anda pelada... parece mesmo com tua mãe, aquela oferecida" !

-- "Ah, não... meteu a mãe no meio eu viro uma fera ! Vou acabar com a tua raça, lambisgóia" !

-- "É só você, víborazinha imbecil ?! Não dá nem pra saída" !

E as 2 "ferinhas" de 4 patas engalfinharam-se pra valer, com suas donas sem saber o que fazer.

-- "Tira essa "porcaria" de cima de minha "Fifi", sua tonta" !

-- "Segura esse teu "monstrinho", "sua vaca", foi ela que começou a confusão... tem a quem puxar, sua encrenqueira ! Vamos, Lulu, o clima aqui 'tá péssimo" !

-- "E vai piorar, sua ladra de maridos" !

-- "Meta-se com a tua vida... "vagaranha" !

E um "pingue-pongue" de ofensas -- imitando o MMA canino "no andar de baixo" -- chamou a atenção dos moradores do bairro só de casario, quase sem edifícios. Juntou gente na rua para ver o "arranca-rabo", no caso das cachorras ou o "arranca-cabelo" da briga feia entre as "trintonas" mal amadas.

Milagrosamente apareceu um carro de Polícia, apelidado de "camburão". Desceu o sargento de plantão e o motorista, seu ajudante:

-- "Vamos acabar com essa baderna, chega de confusão" !

E foi afastando o populacho até chegar ao "ringue", digo, ao centro do tumulto, mulheres e cadelas se estapeando e mordendo.

-- "Dona Cristina, que papelão é esse" ?!

-- "Sargento Garcia, ainda bem que chegou... prenda logo essa mocréia, ela me agrediu" !

-- "A cachorra dessa bandida mordeu minha "Lulu" !

-- Todo mundo pra delegacia já... e sem dar nem 1 pio" !

Sentaram no banco de trás, lado a lado, as quadrúpedes peludas no colo. 'Fifi" rosnou, mostrando os dentes:

-- "Salva pelo gongo, hein, lacraia... eu ía estraçalhá-la" !

E a sua dona, Cristina, "por cima da carne sêca", cochichou:

-- "Faltou pouco para eu fazer "picadinho" de você, "piranha" !

Mas Valdete não "baixou a guarda", dando o "trôco":

-- "Todo mundo sabe que você adora uma encrenca, sua destruidora de lares, "biscateira" desavergonhada" !

-- "CALAAADAS todas vocês ou enfio as 4 "na caçapa" !

Enfim, fez-se a paz e o sargento, chegando o Distrito, apresentou relatório ao delegado do dia:

-- "Essas 2 senhoras estavam fazendo arruaça lá na vila, só por causa de cachorro" !

-- "Puta merda, sargento, já disse mil vezes que essas coisas a gente IGNORA... bebedeiras, dívidas de jogo, "chilique" de madames... PASSA DIRETO" !

-- Não deu, delegado... a confusão 'tava muito grande" !

Na rua em frente, se acotovelavam desocupados, aos gritos de "solta, solta", parentes das 2 forçando a entrada.

-- "Olha aí, está vendo o que você me arrumou, p*rra" !, batendo irritado na mesa. Os 3 guardas do plantão cochichavam, entre risinhos:

-- "Que "mijada", hein... o Garcia vai ficar 3 dias sem dormir... (completa o segundo) é hoje que "a porca torce o rabo", o Garcia 'tá "por aqui" com o doutor", diz o terceiro !

-- "Prenda as duas e joga os cachorros na rua" !, decide.

-- "Não pode, delegado... minha vizinha foi agredida" !

-- "Você está questionando minha decisão, soldado" ?!

-- "SARGENTO... (e aponta a insígnia no braço) doutor de merda, nem curso de Direito tens, és "calça curta",entraste "pela janela" !

-- "E tu ?! Só és militar porque teu irmão é capitão... isso é insubordinação grave, prendam o Garcia junto com as mulheres" !

Nisso, as cadelinhas fogem -- assustadas com a multidão na porta -- as donas vão atrás, o Garcia lhes segue, o delegado persegue os 3 (ou 5 ?) e a "galera" aos gritos de "solta, solta" completa o pandemônio. Dias depois, um juiz recebe 4 ou 5 queixas: a das "dondocas" uma contra a outra, do "delega" contra o PM e vice-versa, de um ONG de defesa dos animais contra a Polícia por "tortura e cárcere privado" e a estropiada "Lulu" pensa em mudar pra "Nóviórqui" (que nem sabe onde fica) pois, no Brasil, até o Presidente é um "ser perigoso" (?!) e a Justiça é inconfiável e confusa ! (Acabou a estória, "estrupício"... isso não é romance e nem novela ! )

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O velho -- "avô" sem ter filhos -- achara um branco, digo, banco, do tipo que o Noé usara na sua "canoa" pra 500, 900 ou 2000 bichos, não se sabe ao certo, já que o IBGE se recusara a recensear, pois nenhum era vacinado, exceto o pernilongo, "autodidata". Lavou, secou, lixou, emassou e pintou de branco (agora, foi !) o antiquíssimo branco, aliás, banco. Saiu para vendê-lo, o belo branco -- mas, que merda ! -- só que a aventura foi um desastre ! Voltou desolado e pintou de "brermelho" o b-a-n-c-o branco. Outra tentativa de passá-lo adiante e novo fiasco: virou motivo de chacota na feira local ! O b-a-n-c-o v-e-r-m-e-l-h-o agora é base de um velho abajur (sem pinturas) e êle senta no chão, numa almofada !

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Esse mesmo velho recebeu a visita de 2 lindas parentes, a "sóbrinha" Karine lá de Recife e a "sobrrrinha" Yvaga, carioquíssima. Era aniversário do 'Matusalém", que adorava presentes mas detestava a festa.

-- "Onde já se viu comemorar velhice ?! Faria isso se estivesse ficando mais... jovem, ora essa" !

Lhe deram um filhote de "trambolho", traduzindo, um simpático bichano, mas pelo menos uma delas sabia da antipatia -- pior, da alergia -- do "quarta idade" pelos felinos.

-- 'Querem me matar, mas eu não tenho onde cair morto, merda" ! (Exagerou, tinha o chão duro e frio, sob as gastas sandálias "HáBaianas".)

"Presente não se recusa" -- diz a Etiqueta -- e em 3 ou 4 dias êle "baixou hospital", o melhor da cidade -- e também o único -- onde pobre era recebido entre "tapinhas" (nas costas e outros lugares) e beijos, do tipo que Judas deu no Cristo ! O hospital iniciara nova "terapia espacial" ou especial, nem as enfermeiras sabiam ao certo. Como cavalos eram muito grandes e "1 cachorro incomoda muita gente, 2 cachorros incomodam muito mais", sobrou pros felinos a tarefa de curar sem remédios que o Hospital não tinha... quem pudesse trazia de casa. Jogaram o gato no peito do ancião, que deu um berro ouvido até pelos selenitas, ficou com as cores da Bandeira Nacional -- era um patriota convicto, até cuecas do "lindo pendão" tinha -- e apoplético, estrebuchou como leitão às vésperas do Natal.

As sobrinhas foram às barras do Tribunal com o argumento de que houvera um "velhocídio intencional com agravantes e precedentes", pois o Hospital não perguntara sobre as deficiências do amado tio. Mas uma fofoqueira -- sempre há, nessas ocasiões -- comentou "intramuros" que o idoso fôra brindado com uma "fera" dessas dias antes, 1 "monstro" de 4 palmos. O processo inverteu-se e as moçoilas respondem agora às acusações de "homicídio qualificado com instrumento inaudito, indução ao erro e ilusão da Justiça", entre outros delitos deploráveis.

O pobre filhote passa por sessões de Psiquiatria com um ex-aluno repetente da Cadeira, usando carimbo e bloco de receitas do médico verdadeiro. O gatinho, traumatizado, está em estado de choque, achando que foi desprezado pelos pais e, depois, pelo "avô". Só não sei como findou a estória porque a Justiça leva entre 5 e 8 ANOS para julgar qualquer Causa, isso na Primeira Instância !

"NATO" AZEVEDO (em 14-15/abril 2019)