O reino das Águas Claras

Era uma vez, duas princesas chamadas Carol e Mim, que moravam no reino das Águas Claras e sonhavam com uma vida melhor. Este reino era muito distante do perímetro urbano, e para as elas irem à escola, tinham que andar cinco quilômetros a pé. Um caminho árduo e perigoso, pois no meio da mata morava a bruxa magricela.

Ela era cruel, implacável e traiçoeira; toda criança que por ali passava, corria o risco de ser enfeitiçada. Mas ela não queria qualquer criança, só as fracas e mal-alimentadas. Eram presas fáceis, e a desnutrição deixavam as crianças sem forças e disposição. As princesas não gostavam de comer, queriam ficar magras e esbeltas. Diziam que comer frutas, legumes e proteína engordava. Carol falava o tempo todo para Yasmin:

- Não coma muito, irmã. Você vai ficar pançuda! E Yasmin, retrucava:

- Pegue os conselhos para você, mana querida!

Essa lenda era contada pelos pais, para forçar os filhos comerem as principais refeições. Assim como as princesas, outras meninas da região falavam a mesma coisa. No reino, todo mundo era franzino e pequeno, nenhum morador pesava mais que sessenta quilos, o adulto mais pesado tinha quinhentos gramas a mais. E todos os dias, as princesas faziam o mesmo percurso, junto com as amigas Cat e Sabrina, e o valente escudeiro cão, Sansão.

Um vira-lata com aparência de feroz, contudo, se batesse o pé, ele saia gritando caim, caim, caim. E quando elas chegavam na escola, já estavam cansadas e suadas, pôr vezes, sem ânimo. Ninguém imaginava que muitas crianças não tinham o que comer em casa, e na escola encantada, a merendeira dona Drica era a fada madrinha e realizava desejos. Ela com suas mãos mágicas fazia merenda gostosa, transformava abóbora em sopa, e muitas crianças alimentava.

Era um tal de querer mais, e muitos pediam para repetir, em voz alta, gritavam: - Tia Drica, por favor, dai-nos mais um pouco!. E a ela, toda prosa dava tudo o que sobrara. E como nada era perfeito, um coleguinha da escola encantada, o terrível João falastrão, com sua turma, abusava as colegas do reino das Águas Claras, gritava na hora do recreio: - Magricelas! Mortas de fome! Ele não sabia o que estava fazendo, pois não recebeu orientação de seus pais em casa.

E as meninas choravam, e uma, apoiava a outra. E todos os dias se repetia a história. Aí, que entra as nossas princesas, Carol e Yasmin, e apesar de pertencer ao mesmo reino, tinha uma situação econômica mais abastarda. Seus pais eram donos de algumas terras e a comida na casa delas não faltava. Eram meninas espertas e tinham um amigo mágico que tudo ensinava, o livro. Elas dialogavam muito com ele, e ficaram mais inteligentes.

Aprenderam a se defender e a usar bem as palavras. E um belo dia, enfrentaram o grupo de João falastrão, e um movimento estudantil se iniciou. Elas se reuniram com as meninas, convenceu-as da importância de quebrar o silêncio. E explicavam assim: - Meninas, não permitam isso! É um abuso! Vamos nos unir e procurar resolver com os adultos. Com isso, mostraram-nas que estavam em número maior, e foram à direção da escola encantada relatar a brincadeira, nada engraçada, do grupo.

A coordenação imediatamente chamou os meninos, entregou-lhes um comunicado lacrado e disse que, a partir do dia seguinte, eles só assistiriam as aula com a presença de um responsável. As crianças de outros reinos, vendo a atitude das princesas, vieram até elas e aderiram ao movimento. Foi um dia inesquecível, e todas as crianças celebravam, as princesas ganharam fama.

Depois das aulas, elas foram pelo caminho discutindo o acontecido, de repente, João falastrão com seu grupo começaram a jogar pedras e do nada apareceu o herói Sansão, correndo atrás deles e conseguiu agarrar a calça de um deles, mas conseguiram fugir. Depois, Sansão voltou e ganhou uma recompensa, amor e carinho. E todos riram. E Yasmin falou com Sansão: - Esse é meu guardião. Toma um biscoito, Sansão! Chegando em casa, Carol e Yasmin relataram o ocorrido com os pais, eles balançaram a cabeça e deram razão a elas.

As princesas tinham tudo em casa, inclusive boa educação, como os pais trabalhavam na terra, tinham tempo para orientar as filhas. Mesmo com uma vida confortável, elas queriam fazer uma faculdade, arranjar um emprego de verdade e morar na cidade. Seus pais queriam a continuidade da tradição familiar, viver da terra. E diziam: - A cidade grande é malvada, pois muda as pessoas e tira seus sentimentos, meninas.

E as meninas, ouvia a mesma ladainha sempre, mas não desistiram de seu sonho. No dia seguinte, as princesas já prontas, apressaram os passos para encontrar as outras, no meio do percurso, Cat passou mal e disse que estava cansada. E quis voltar para a casa sozinha, e tomadas pela lenda da bruxa magricela, que habitava a região, temeram pela vida da amiga.

E Cat disse: Vão! Não tenho medo. Assim que se viu sozinha, começou ouvir um barulho na mata, viu um vulto e imaginou que fosse a bruxa magricela. Tomada pelo susto, desmaiou. Quando acordou, estava num lugar todo branco, com muita gente de branco e pensou que estivesse morta. Já passando o efeito dos remédios, olhou a sua volta e viu os pais. Então, perguntou; - Eu morri?

Eles disseram: - Quase! Pois, Você não gosta de comer, mas os médicos a salvaram e passaram vitamina para estimular o seu apetite. Enquanto isso, na escola encantada, as crianças nas salas de aulas, menos João falastrão e seu grupo, não prestavam atenção na explicação, da professora. Umas queria saber do paradeiro de Cat, e a maioria, curiosa para ver o que estava acontecendo na direção.

Afinal, os pais dos meninos estavam lá. A diretora, senhora Gilmara, bateu à porta da sala, pediu licença a professora Jussara e entrou com os meninos e seus pais. O pai de João era grandão e reclamão: - Não tenho o dia todo, anda logo com isso! A mãe, toda franzina e sem paciência, completava: - Vou perder o final da novela. E os outros pais, no mesmo formato. O que justificava o comportamento dos filhos.

Mas como um bom diálogo acalma as coisas, e as normas internas da escola devem ser seguidas, a diretora pediu aos pais para levarem os seus filhos até a sala, com o propósito de se retratarem. Quando entraram na sala, o silêncio tomou conta do recinto, João e os meninos nervosos pelo que foram obrigados a fazer, e disseram: - Desculpas! A diretora foi enfática, ninguém ouviu, falem mais alto, e complete o pedido de desculpas. E eles disseram com um tom mais grave: - Desculpas!!! Nunca mais faremos isso! Depois, os pais foram embora e tudo voltou à normalidade.

E os meninos, como compensação pelas brincadeiras sem graça, iam fazer nas férias curso de verão. Todos entenderam a lição e a aula fluiu como deveria ser. Terminada a aula, todos voltaram para suas casas e as crianças do reino das Águas Claras, preocupadas com Cat. E se perguntavam sobre o seu paradeiro: - Será a bruxa magricela teria sequestrado ela? Eram tantos os pensamentos e comentários.

Mas chegando no reino, todos estavam reunidos e comentando a situação. A menina estava em observação com desnutrição, e o caso dela serviu de alerta para muitas crianças; já para outras, não tinha jeito. Em suas casas não tinha muita comida. Mas isso, é uma outra história. Passado o susto, Cat voltou para casa e todos foram visitá-la. Cada um com uma porção de merenda para ela.

Queriam entupir a coitada de comida. Ela ficou agradecida, as meninas relataram a situação, e todas foram para as suas casas. No dia seguinte, se encontraram como de costume, riram muito com o acontecido. Na escola encantada, todos estavam comentando sobre as princesas e de como elas foram corajosas e espertas. A popularidade delas cresceu. João falastrão foi transformado, era outra pessoa, e todos passaram a gostar dele também.

Ele e o antigo grupo, agora, têm bom comportamento, e o rendimento escolar melhorou. O final do ano chegou, e com ele, os boletins. Nervosos e apreensivos não sabiam se atingiram a média. As princesas passaram com louvor e ganharam uma bolsa de estudo na capital, com transporte e alimentação. Um verdadeiro milagre. Milagre, não! Foi dedicação exclusiva aos estudos. Todos passaram, os meninos foram para a recuperação. E todos acabaram felizes, pois tiveram a oportunidade da mudança.

FIM.

Moral da história: A união transforma vidas.

Jaciara Dias
Enviado por Jaciara Dias em 14/04/2019
Reeditado em 14/04/2019
Código do texto: T6623008
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