NOITE FANTASMA

E o monstro adormecido enfim despertou!...Descido em véus sobre a noite infausta, fazia mortalha ao instante noturno cobrindo tudo...Avançava sob luvas negras de sombra, em apontadas agulhas de vento e pela frialdade, que soprava na mata...

Cantos pássaros, tristes e desfalecidos enchiam os ares com atmosfera fúnebre...E as elegias juntavam-se aos silvos ventos, embaçavam-se na poeira elevada e rolavam as aves com violência ao longe, em direção a ramos cadavéricos e nus, já despidos das folhagens...Um mar de plumas brancas arrancadas! ... - Lanços de fagulhas desfeitas passando com velocidade em meio a amplidão escura até encontrarem pouso cativo entre os galhos retorcidos das brenhas.

Longos dedos afilados abriam rotas entre arbustos e árvores esmaecidos....apanhados pelos pilos verticais dos redemoinhos, balouçavam insanos... disformes...E sons e gemidos eram ouvidos, até os fusos aéreos darem o bote enlaçando feixes bem atados da floresta, que pensos pelo ataque, arquejavam copas asfixiadas...Mas o vendaval não se detinha!...Evoluía sempre mais à frente e ganhando força saltava falanges aceradas, cujas presas incisas retalhavam caminhos...Foices traçantes às últimas mechas doiras da estação, que se finava ainda morna...

E os lufos violentos e velozes granjeavam os sítios mais escondidos, já encanecidos pelos hálitos gélidos, mudavam-se em rijos corredores pétreos à passagem da borrasca, deixando para trás alamedas ausentes e espaços esquecidos...

Uma paisagem de morte foi o momento final deixado pelo espectro soturno, que sonâmbulo, se contorcia em todas as direções e se arrojava cada vez mais a todos os elementos estrangulando e engolindo...Uma serpe louca dentro da noite envenenada!...Que paralisada...Entorpecia...

Regina Caelli
Enviado por Regina Caelli em 20/07/2017
Reeditado em 24/11/2019
Código do texto: T6059787
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