Poema à Av. Guararapes – Recife!
I
Na Avenida formosa, corre a vida!
Guararapes ficou por nós chamada
Que no Século Vinte foi erigida
Por Domingues Ferreira projetada
II
Tua alcunha surgiu por uma guerra
Que se deu com espadas e tacapes
Cujo sangue jorrou na vasta terra
Daí nasce o teu nome Guararapes
III
Do Recife tornaste um patrimônio
No teu seio foi um padre assim de preto
Ir orar no Convento (Santo Antônio)
À memória do teu tempo obsoleto
IV
Nos Correios em cuja sede estão
- As epístolas hoje debotadas
Nas estantes pois dessa fundação
Foram todas no tempo registradas
V
Pelo traço - Nestor de Figueiredo
Que foi seu formidável arquiteto
No Governo Novaes viu sem medo
O avançar desse seu melhor projeto
VI
Sobre o chão lentamente edificados
Edifícios no teu tempo construídos
Como fila assim reta de soldados
Esses prédios ficaram erigidos.
VII
No Savoy Carlos Pena foi presente
Viu os copos de Chopp em tantas mãos
Os trezentos desejos dessa gente
Vivem presos em muitos cidadãos
VIII
No Cinema Trianon foram passadas
As películas vindas do estrangeiro
Que encantaram aquelas garotadas
Na estação do Cinema Brasileiro.
IX
Silhueta tanto esbelta e mais bonita
Que nos raios do Sol se prenuncia
Esboçada que foi por Estelita
Obra prima da grande engenharia.
X
Nessa larga Avenida das memórias
Passa o Galo na imensa madrugada
Com seus blocos cantando mil histórias
Preservando tua honra inalterada
XI
No teu chão de quimeras espalhados
Esses livros de autores tão diversos
Calhamaços antigos empoeirados
São retratos que estão em ti dispersos
XII
Nas calçadas dos velhos sapateiros
Engraxates repletos de saudade
Do Recife, singelos, mas guerreiros
Que enobrecem a vida da cidade
XIII
Sobre a Ponte famosa Duarte Coelho
Estrutura imponente desde outrora
Vê-se o Galo vestido de vermelho
As canções entoar à luz da aurora
XIV
Das janelas mais altas do Sertã
Vê-se os jarros das flores mais viçosas
Perfumar teu nascer pela manhã
Com orquídeas, com lírios e com rosas
XV
O Savoy grande marco do passado
Que de Ascenso Ferreira a Mauro Mota
Carlos Pena, Capiba, Jorge Amado
Fazem parte de ti, muito se nota
XVI
Tantas noites felizes sob o som
Do coreto mais lírico e afamado
Nos letreiros com luzes de neon
Proclamavam o teu tempo avançado
XVII
Para erguer esses prédios elevados
Ampliou-se de tal forma a Avenida
Que ruíram aqueles bons sobrados
Para então dar espaço a nova vida
XVIII
Teus sobrados do tempo Holandês
Viram toda maior modernidade
Do urbanismo com charme de francês
Na Avenida mais viva da Cidade
XIX
Ramalhetes de flores nas calçadas
Engraxates, sebistas, sapateiros
Assim vivem as vidas variadas
Dos autênticos homens brasileiros
XX
Muito embora que tua protuberância
Permaneça de autêntica a atual
A sarjeta infeliz da mendicância
Se espraiou pela vasta Capital
XXI
Nesses prédios há muitas meliantes
Onde o amor é vendido por dinheiro
Nas calçadas as mãos dos medicantes
Supliciam quem passa o tempo inteiro
XXII
Quem caminha por ti constantemente
Sente a falta daquele romantismo
Que encantou nossa vida antigamente
Embalada no som do saudosismo
XXIII
Esses prédios são hoje moradias
De lembranças vividas no passado
Residências formosas, mas vazias
Do Recife longínquo e assombrado
XXIV
No edifício que é Continental
Pulsa a vida que luta e que resiste
Santo Albino, no Almare e no Cabral
A beleza suspira, encanta, existe
XXV
Numa névoa repleta de lembranças
Guararapes acorda lentamente
Abre o Sol os teus raios de esperanças
Sob o céu do Recife eternamente
Recife, 21 de novembro de 2024