Descontentamento
Restaram-me nada mais que sombras
linhas tímidas apagadas pelo tempo
sobras sinistras do que antes era poesia
dos versos que agora morrem em silêncio
Nada mais resta além de memórias
que rasgam por dentro no afã de reviver
linhas tortas acenando a partida
no contraste desse ínfimo desejo de renascer
Os versos que outrora ecoavam sabores
jazem agora o gosto amargo e fúnebre
no vazio sem fim, viés de dissabores
só sobras, escassas palavras que no peito urge
A vida que fluía pelos alpendres da noite
afogam-se agora num mar de esquecimento
tentando respirar, num corpo em açoites
sem rumo em meio ao descontentamento
Que direi dos versos que davam-me alento?
se hoje pairam nada mais que apenas restos
quem dera pudesse eu juntar-me os pedaços
da poesia inerte neste escuro universo
Era-me um norte por este caminho sequioso
era em mim o brilho de estrelas na escuridão
hoje arrastam-se em ecos dissonantes
meras palavras que vagueiam sem razão