Ingratidão

Pensando hoje em nossa história

Percebo mais meu pungir,

Reconheço a minha inglória,

Como estou a sucumbir.

Quantas vezes te implorei

Para que tu não mais desses

Chances para um novo alguém

Que não te lembra nas preces?

E quantas vezes pedi

Para que tu te lembrasse

Deste amor que transmiti

Sem rubor em minha face?

Implorei que nunca, nunca

Te esquecesse do meu rosto,

Atitudes bem tomadas

Ao estar longe do posto?

O respeito - palavra única

- sem variável de siso,

Eu te dei na submissão

De quem muito tem juízo.

Mas tu me deste uma tapa,

Enfrentando o mundo inteiro,

E sabendo que o meu tudo

Relíquia é de garimpeiro.

Então, costurei feridas

Após tratar com mastruz,

Deixando o sonho de lado

Para levar minha cruz.

Sendo que as lutas viriam,

Bem eu sabia, princesa,

Desejando que tivesses

Só comigo, por presteza,

Por amor - prisão secreta,

Sendo humilde e voluntária

No pouco e no muito, sim!...

Uma peça relicária!

E além dos montes tu foste

Para viver a teu gosto,

Enquanto, num pranto mórbido

Eu sofria o meu desgosto.

E sem olhar para trás

Seguiste em tua loucura,

Esquecendo a nossa história

Que teve tanta ternura.

Fiz poesia tristonha

Sob o véu da madrugada

Imaginando que vinhas

Me afagar até a alvorada.

Mas a madrugada ia

Passando bem devagar,

Enquanto, silente, chorando

Eu me afogava no mar,

Mar de desespero e só,

Na amplidão do Firmamento,

Enquanto a lua sorria

Do meu triste sofrimento.

Mar de agonia e de pranto

E terrível solidão,

Onde vaguei desdenhado,

Numa horrível escuridão.

Milhões de estrelas piscando,

Observando a minha dor,

Minha ferida incruenta,

Meu pungente dissabor,

Válvulas de escape loucas,

Atitude ensandecida,

Na sofreguidão maluca,

Sem rumo, compasso e vida.

Meus olhares disfarçados,

Minhas canções melodiosas,

Cada suspiro sofrido,

Nas ilusões amorosas.

Mas tu não viste sequer

Um verso feito pra ti,

Que expressava o meu amor,

A minha alma e o meu Q.I.

Na imperfeição de um humano

Sofrendo no desalento

Da separação convicta

Do insensível pensamento.

Então, não pude lutar,

Meu diamante de Ofir,

Enquanto pus-me a chorar,

Enquanto a via partir.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 13/08/2022
Código do texto: T7581414
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